sexta-feira, 29 de maio de 2015


caralho tá tudo saindo de mim
explodindo indo correndo dizendo
que não quero mais
deixar de falar

pois nós, mulheres,
temos a voz mais forte
do mundo

somos a poesia gritante
de cada dia
de cada dor
de cada partezinha
da luta

cêis sabem bem
o quanto já doeu
já rasgou
o corpo por dentro
e saiu em forma de
lágrima

mas lembre-se
que a sua voz
vai sempre gritar:
fora opressão!
fora opressor!
fora fora fora

que a gente tá aqui
pra lutar e dizer
toda a poesia
ardente
de ser mulher.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

vozes
vazios
vômitos
vão e vem

no corpo
de cada um

cujo mundo
voraz
vive
pedindo
pra correr

voar
não nos é permitido

estado de corpo
translúcido em emoções noturnas
tenta escrever algo sobre o mundo
que não é mais vivo
que não é mais visto
nas minúcias poéticas
do dia-a-dia.
membro fálico jorra gozo
membro fálico jorra gozo
membro fálico jorra gozo

sem ao menos notar
as palavras que estão ali
por baixo, no corpo alheio

a flor do sexo da garota
exala tesão que não é
suprido
sentido
visto
olhado com devida atenção

a flor da boca da garota
exala falas que não são
escutadas
entendidas
olhadas com devida atenção

a flor do corpo da garota
exala vontade de estar
junto
completo
intensamente
sentido

atenção devida

não há
não há
não há

pois há
somente falos a jorrar.

SOFREGUIDÃO

















sobre o guidão da bicicleta
estão minhas dores
seguro-as fortemente
conforme o vento
sopra-me o rosto
cujas lágrimas
escorrem
incessantemente
como um poema
sem rima qualquer

sobre a escuridão da noite
estão minhas dores
enxergo-as claramente
conforme a lua
cobre-me os olhos
cujas lágrimas

ah, as lágrimas
não saem mais
nem as palavras
nem a gente
a gente não sai
do mesmo lugar
cheio de dor
dor minha
dor de moça
oprimida
não-vista
não-sentida
sobre o corpo que me pertence
não me sente! você
não me sente
nem me vê

e meus olhos
só veem
poema desconfigurado
em lágrima.

SOME

some dos meus pensamentos noturnos
some dos meus poemas noturnos

desaparece

das linhas contundentes
vermelhas ásperas rígidas
como o beijo dado

dos espaços contidos em mim

de mim
do meu corpo
que nem corpo é mais
virou palavra cuspida
pós-opressão

pré-socráticos
do amor único

talvez vocês estejam certos

não há devir
nem vir-a-ser

muito menos
várias formas de amar

hoje somente há

o ser que somos

o ser que é:
silencia(dor)

segunda-feira, 4 de maio de 2015

mundo vasto mundo
cadê drummond para nos salvar
da poesia escassa
das convenções diárias

cadê clarice pra dizer por mim
sobre a hora da estrela que não chegou
sobre a morte provinda de dentro
que acordou-me ontem a noite
e disse que estava ali

cadê eu cadê você
cadê nós


na garganta enrolada
num poema cuspido
de palavras grotescas
onde a rima nunca chegará.

pr'uma moça bonita que passou

livre
moça
você é livre
pra findar
pra começar
pra dar pra quem quiser
pra sorrir o quanto desejar
pra gritar pro mundo
o quanto dói

livre
moça
você é livre
pra ser livre

a escolha é sua
o corpo é seu
as palavras são minhas
partilhadas com você
portanto,
as palavras são nossas

moça
eu tô aqui
você aí
e somos todas
livres

pra poetizar da forma mais escancarada possível
e gritar cada vez mais
pro mundo
que somos nós
que decidimos
que escolhemos
que
ah moça, dói
eu sei.

mas passa
passa porque podemos
passar juntas.

O mundo é grande

o mundo é grande demais
pros meus poemas rabiscados
o mundo é grande demais
pros meus devaneios entrelaçados
na mente que corre
por entre as palavras
loucas querendo sair

o mundo corre
eu corro
as palavras correm

e param

aqui.

nesse mundo corrido virtual
efêmero
dissolúvel
álcool etílico evaporado

vagões de metrô lotados
palavras dentro de cada um

qual é a palavra que você carrega contigo?

qual palavra? que palavra quero agora?

não sei
não sei mesmo

mas precisava
evaporar de mim
pra cá
na tentativa vã
de virar poesia.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

corpalavra

meu corpo
é palavra
viva

pulsa
pulsa
pulsa

e sai aos gritos
pro mundo
que eu nem sei quem é

não sou poeta
não sou princesa
não sou sua

sou minha
só minha
mulher

onde as palavras brotam
do fundo do peito e rasgam
a garganta para dizer

qualquer coisa sobre o amor
que não cabe em mim

sobre a vida que não cabe
nos meus seios
que tanto sentem

na minha boca
que tanto fala

nos meus olhos
que tanto veem

não cabe
em mim

como ser feminino
emancipado

emancipei-me

ao jogar
palavras

provindas do meu corpo
no papel.

sábado, 25 de abril de 2015

prédios conceituados
pedreiros esquecidos

livros famosos
revisores não vistos

peças diretores cantores dançarinos poetas pintores tradutores

e quem está por trás da cortina?

na luz do teatro
na voz do cantor
na sapatilha surrada
da bailarina linda
quem a fez?
quem fez a sapatilha?

somente
não sei

não sei

não sei

poderia ficar aqui
escrevendo essas duas palavrinhas
pra sempre
porque poesia
jogada
surrada

-como a sapatilha-

só serve
pra ficar
no papel.
não quero aplausos
assumo que
as curtidas
ajudam a seguir
não pela fama

mas pelo reconhecimento
daquilo que sai das entranhas
e vaza pro mundo
cão
caótico
catártico
confuso

pelo ser-sentida
e não ser-vista
portanto,
se me veem
mas não sentem
sumam
do clicar automático: curtir.
se não sente

não preciso

já há pessoas demais
ligadas no automático

mecânico
maquinal
involuntário

vai e vem
sem sentido
sem sentir-me
na íntegra

sente a si?
sente ao outro?

reconheça o poema
as palavras
as tão doces palavras
que sabem dizer gritar correr
quase que loucas
pra serem

sentidas

idas sem fim

de poesia

sincera.

sexta-feira, 24 de abril de 2015


olha pra dentro de mim
no fundo dos meus olhos
há a flor que não é escutada
no fundo do meu sexo
no fundo da minha boca
no fundo
o que há no fundo de nós?
de mim de ti
que juntos não somos nada
porque não há espaço pra dois
num mundo onde não escutam
as flores

e a poesia
fica assim
cortada
pela rotina

pela metade

pela hora certa
à cumprir

faz faz faz

ganha ganha ganha

pão?

gostaria de um pão com pitadinhas de jasmin
pra ver se assim
a poesia sai
menos caótica

e consegue

ser escutada

por dentro.
não é tempo
Carlos,
não é tempo
pros seus poemas
estarem nas prateleiras
mofadas
das bibliotecas
mofadas
das universidades
mofadas

não é tempo
nem espaço
nem desejo

sei que não queria assim, Carlos,
mas o mundo tá pra esses tempos
tempos da academia
que não enxerga mais
a flor que nasceu na rua,
Carlos,
ah, Carlos,

só há tempo
pra ser-visto
serviço
pagamento
no fim do mês

e flores murchadas
sobre a mesa de jantar.

domingo, 19 de abril de 2015

corpo
meu corpo
não aceito
meu corpo
cujas coxas
não são firmes
e os afetos
tão intensos
e o choro
sempre vindo...

porque é com ela
com a bunda dela
que cabe no shorts
curto de um jeito
sexy
com

-merda. queria poder não estar assim.-

mas é com ela
que você quis estar
naquela noite
e
porra
qual o problema?

e todos os outros
e todos as outras
coisas perturbantes

qual o problema?

qual meu problema?

acho que esses olhos grandes demais
essa mania de escrever poemas ruins
a bunda não tão
como a dela
você sabe
e
ah,
olha pra mim
não sou nada
nunca fui nada
além de uma
falsa-poeta
com corpo ruim:
lixo escorregadio
em forma de palavras.

gozo escorrido de machismo

chupa
chupa
chupa

- ei, não faz assim. seu jeans tá me machucando. -

olívia tira o jeans.

chupa
chupa
chupa

- posso gozar na sua boca? -

olívia diz que sim.

goza
goza
goza

fim.

olívia sorri.

riem
riem
riem

Otávio à toca
dois segundos

para.

- não tem tempo pra isso agora, Oli. -

olívia
só servia
pra chupar
e servir

chora
chora
chora

olívia
chora não
seu corpo é lindo
sua boca é linda
e a voz é sua
somente sua
então grita
mesmo
que seja
em poesia
esfarrapada.

sábado, 4 de abril de 2015


Quero desconstruir. Quero desconstruir essa porra toda provinda do passado.
E vai ser na prática. E pode ser que doa, eu não sei. Mas pode ser que traga frutos.
Eu quero tanto ser sua amiga. Tanto! 
E que todas as coisas boas que vivemos se tornem pitadinhas de amizade.
E que todas as coisas ruins que vivemos se tornem pitadinhas de passado.
E que nenhuma Regina me atordoe mais em sonho dizendo pra nós que ia durar, nem mesmo me dê vontade de chorar às vezes quando lembro da noite quentinha e seus lábios. e . pera. Para. Fim.
Fim desde que fim.
Finde esse poema em prosa
pra mim.
É muito estranho né? Parece que alguma coisa ancora a alma da gente junto. E leva, pra longe, pro dia mais longínquo. Pra lembrança mais exata. Pro beijo mais saboroso. E volta. E quando retorna ao presente, tudo fica de lado, mas a alma ancorada ainda está aqui. Ali...
E agora?
Como lidar com almas nas quais me ancorei
dentro de poesia e de saudade
Como lidar com essas almas que eu só quero
que se tornem doces amizades
menos poéticas
e mais reais.

domingo, 29 de março de 2015

não sou nada
nunca fui nada
não.
pera.
não sou Pessoa
não sou Clarice
não sou Frida
nem nenhum
daqueles
que admiro

não sou poeta
não sou discreta
não sou concreta
não sou
o que sou?

somente diga
que não se cansará
do que somos

sendo que
sou assim
tão iaiá

sem s
de ser.
inspiração: https://www.youtube.com/watch?v=QKkrA6legH0 

fotografia: autor desconhecido



sábado, 28 de março de 2015

passarinho, espero que esteja feliz.



para ouvir ao ler:



voltou
fantasma literário
dos tempos primórdios
onde as mão entrelaçadas
numa festa inusitada
se conheceram

noites na república
tardes corpóreas
banho juntos
onde os olhos debruçados
num conjunto alinhado
se amaram

voltou
moço complexo
das tardes confusas
onde as conversas ditas
em bocas lítidas 
se ouviram

dia na rua
moça parou
disse pra gente
que ia durar

mas não acertou

caminhos opostos
saudades dispostas

espero que
voltou não exista
para você.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

escuta,

eu te amo

no verso

de todos os poemas

que eu puder escrever.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015



Meu coração escorre pelo crânio, desce ao rosto e cobre as pálpebras cansadas do mundo corrido. Agita, sacode, encolhe: pequenino fica ali de soslaio observando tudo à fora. Aquele mundo gigante onde ele não cabe. Meu coração não cabe no mundo e o mundo não cabe em mim. E as palavras ficaram tão longe por tanto tempo que o coração quase parou. Não sei mais escrever. Não sei mais controlar. Ele desce, chupa-me os seios. Agarra meus braços. Abraça meu corpo. Meu coração torna-se olhos escancarados de medo da vida. Pulsa ansiedade, doença proibida em caso de famílias conturbadas e mães que não olham delicadamente pro filho e o afeto... Rompe.
Rompe-se tudo na conturbação que um coração gigante faz. As linhas do texto não são pra fazer sentido. São a única forma que tenho de cuspir cada sentença interna que percorre meu corpo.
Beija-me, oh coração! Beija-me de leve pra que o caos finde e a vida pare de correr. Abra seus braços e me ajude a fazer você caber dentro de mim. Não fuja. Não corra. Estamos juntos, não?
Eu só queria poder sorrir baixinho e te ter na calmaria. Mas você explode em sangue provindo das artérias que respiram freneticamente, corre dentro de mim, canta dentro de mim, grita dentro de mim. Coração, calma. Caiba aqui preu conseguir caber no mundo, por favor. 
Me ajuda a equilibrar na corda bamba que somos nós dois.
Me escuta.
Me esquenta.
E sem movimentos caóticos
tenha a doçura
de sempre ficar. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

solitude

o mundo desaba por todos os lados em que escorrem as lágrimas salgadas provindas da não confiança.
não confie no mundo.
não confie nem mesmo em você
porque nós humanos, somos capazes de fazer as piores burrices.

o mundo é só.
cada um no seu corpo corrido da rotina.

o mundo agora,
sou só eu.
escorrendo em lágrimas espasmódicas.

não seja ingênua moça,
não há amor no mundo

a bomba de hiroshima está em cada um
explodindo dentro de nós e esparramando para o outro
o outro que não enxergamos e que morre por dentro,
como nós.

dentro do quê?

adentro
em cada palavra confusa
das bombas explosivas que pairaram por aqui
e vejo que não existo 
em mim

e você também
não existe pra ninguém

e somos todos uma montanha de corpos escassos
que vivem só

e não há poesia que salvará dessa vez.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

[verso cinza]

poluição
sonora
de palavras

poeira
sonora

de palavras
pálpebras 
fecham-se lentamente
conforme as palavras tontas
escorrem na sonoridade
que martela a cabeça
da moça
que amou demais
mas ainda
não aprendeu a amar

que viveu demais
mas ainda
não aprendeu a viver

que poeta nunca foi
pois seus versos
são como cinzas
provindas do fogo ardente
que pulsa dentro dela.
Não aguento mais as lágrimas provindas dos poetas fétidos de amor. Não aguento mais o amor, nojento que escorre entre as minhas veias floridas de cores intensas. Não aguento mais sentir. Não aguento mais amar. Não aguento chorar.
As palavras não cabem, escorrem
explodem de cada parte do meu corpo que recorda a sua voz dizendo que me ama, que me enxerga. 
Talvez
eu seja confusão demais pra você aguentar.
Talvez 
as crises de ansiedade me rotulem 
como o caos parte do mundo.
Talvez
o amor não seja pra mim.
Poeta maldita que só sabe escrever em primeira pessoa.
Poeta insana que só sabe amar o mundo inteiro.
Poeta que cospe tudo
pois não cabe nada
em nenhuma fibra do ser
nojo
de mim
do amor que não cabe
e das palavras translúcidas em lágrima.
Sono latente cobre-me a face da onde as lágrimas escorreram e olhavam pra ti e choravam mais ao ver tuas lágrimas.
Contundência plena de versos tortos com palavras incertas de uma madrugada confusa.
Espero.
Durmo.
Fecho os olhinhos remelentos como se tivesse cinco anos de idade novamente. Tiraram o doce de minha boca. Enrolei-me aos edredons pra ver se o mundo sumia. Fechei os olhinhos de novo, e mal conseguia abri-los. Espero que a remela nunca mais me deixe ver o mundo. 
Porque o mundo não é mais mundo
desde que você
enunciou
não ver mais
a poesia
que existe em nós.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Bocas famintas de palavras inteiras.
Corpos escassos com abraços calados.
Danças escuras em baile cansado.

Dores passadas que não querem sumir.
Flores amargas que não querem viver.
Vidas compostas que não vão ajustar.

Noites inteiras pensando no mundo
cores mal-feitas pra tudo que há

muitas palavras
não cabem aqui
tantos poemas
não sabem falar

arte perfeita
não vai existir

só uma poeta
ao mundo olhar.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014



Ser
nas tuas mãos
no teu abraço
na tua boca
na tua roupa
na tua coxa
louca
só posso ser isso
louca
de amar e desamar
perder e reviver
partir
e voltar

insisto insisto
amo uma vez
amo duas 
amo três
até quatrocentas
se necessário

amo porque amo
amo porque gozo
amo porque vivo.

in-festa

O bolo pequeno esfarelava por entre a mesa guarnida com guardanapos coloridos. Sua boca estava seca e não conseguia digerir nem ao menos uma pitada daquele doce que agora estava absurdamente enjoativo. Com as pontas dos dedos picotava os guardanapos enquanto ele falava sobre porque se sentia daquela forma. Roía as unhas. Doía o peito. Lacrimejavam os olhos. Farrapos de guardanapos espalhados pelo chão. Ao seu lado, perguntava-se o porque da recusa corpórea. Sendo o beijo tão delicado, o toque tão profundo... Por que hoje não? Por que manias estranhas? 
Ela compreender não significa que entende.
Porque sente. E o que sente fica grudado no fundo da pele. E sente que ele
recusa
amor
corpóreo
e que talvez ela seja o bolo pequeno e enjoativo. 
rasgos internos perpassam as palavras conturbadas que nada dizem direito.
recusa gera recúo.

-Desculpa por não ser bonita o bastante. -disse recuando o corpo para que ele não enxergasse as lágrimas de perto.-

-Você só fala besteiras.

Posava uma mosca no bolo de cobertura cor-de-rosa enquanto posava tristezas no coração da garota. Zunindo absurdamente, tanto a mosca quanto os pensamentos da menina, o mundo lhe escapuliu pelas mãos... Disse o que não queria. Sentiu o que não devia. Chorou o que não cabia.
Atrasou o moço que tinha horário para chegar em casa. Ele não jantou com o pai. Perdeu a hora assim como perderá a vontade de beijar. Não houve festa. Só duas pessoas, o açúcar oleoso do bolo, um comportamento peculiar que causou sentimentos horríveis à moça e mágoa. Houve mágoa.
Esfarelando-se em palavras, cuspiu-as para fora junto a saliva açucarada:
-Eu estraguei tudo.
Se quiser, não volto mais o ano que vem.
Boa sorte com os futuros bolos enjoativos que não dão pra comer.

''Made off
Don't stray''


malas cobertas de pensamentos que destroem o coração. mal feito,
mas, por favor, não se afaste.

móveis
mofados
pela sala vazia do hotel

pensamentos
parados
pelo quarto vazio do hotel

engasgo
enorme
escorrendo
por não ser escutada

dores
dantescas
destroem
minha pele
que sente sua falta

falta
fala
por mim
porque já não há mais palavras!

só um hotel vazio
e a vontade de morrer.
mundo vasto mundo
cadê drummond para nos salvar
da poesia escassa 
das convenções diárias

cadê clarice pra dizer por mim
sobre a hora da estrela que não chegou
sobre a morte provinda de dentro
que acordou-me ontem a noite
e disse que estava ali

cadê eu cadê você
cadê nós

na garganta enrolada
num poema cuspido 
de palavras grotescas
onde a rima nunca chegará.


domingo, 16 de novembro de 2014

Enrolados das mãos aos pés. Corpo a corpo. Boca a boca. Palavras insanas escorreram na noite anterior, diálogos eternos , pensamentos subjetivos perpassavam a mente dos dois que oscilavam entre choro e beijo, escorregando nas pronuncias tortas e medrosas da madrugada. Uma volta ao passado e foi suficiente pra que tudo desabasse. Quase. Quase tudo. Porque em meio ao choro, eles ainda permaneciam ali, com todo o amor do mundo. Horas contínuas que ali pareciam infinitas. Até que
-Eu te amo. Você sabe, não é?
-Eu. Eu. Eu acho que sei.
-Acha que sabe?
-Eu não sei se sei. Não sei de nada. Só sei que te amo.

O medo provindo dos cortes passados afincaram no coração da garota com tanta veemência a ponto dela não saber. Só sabia do seu amor pelo moço, que era imenso. Saudável. Doce. Cálido. Paz.
Chorou, pelo medo de conseguir conceber que alguém era capaz de ama-la. Pelo medo de dizer: Eu sei. Eu sinto. Eu vejo.

Aquela madrugada teve tanta lágrima e tanta palavra. Prosa mais profunda dos amantes. Porém, tudo estava bem. Houve choro findo, riso vindo...
corpo sendo, laço a dois que constrói 
o calor em meio a madrugada forte
houve chá
começo de filme
fim de prosa
receio pequeno
medo isento
choro passado.

Amanheceu. Suspiravam brincadeiras e algo sobre: gratidão pelo espaço cedido pra escuta e pra fala.
Gratidão pelo amor. 
Enrolaram-se nas cobertas
descobriram o sorriso
jogaram fora o medo
os olhos fitavam-se e diziam o quanto queriam estar ali.
as mãos tocavam delicadamente
na pele púrpura e viva 
abraços beijos 
quase um corpo só
gemidos
posteriores
prazeres
incansáveis 
orgasmos risonhos escancarados enormes
palavras gritantes afogavam a pequenina confusão
da madrugada...
o verso deles é grande, é prosa e poesia
aperto de mão. intimidade.
Amizade entrelaçada com a paixão
evidenciava que a madrugada
se torna dia
e tudo conjura-se sol
só-lar dos que amam e deixam
o dia chegar.





palavra travada.

O poema chora gotas ácidas de lágrimas, cai por entre o espaço branco do papel e borra cada parte com a tinta que gostaria de ser palavra, porém, não há mais poesia dentro de mim. Não há palavras clichês de amor, muito menos singelas flores que colorem o papel. A luta diária por espaço, cansou.
A luta das palavras dentro de mim, findaram.
Extasiada. 
Da vida. Dos gritos. Das falas. Da parte
de mim
que não consegue dizer
nem o que se passa. Mas está aqui, viva, tentando botar pra fora em forma de rabisco. Junto cada letrinha 
e nada.
vácuo.
espasmos literários espumam da minha boca amarga 
da rotina
que amarra, 
cerca, 
corta-me
as falas claras
o riso frouxo
versos soltos
percorrem
a garganta
que rasga
no engasgo
da parte
palavra
pausada
perdida
em mim.

Primavera





















Arraiguei-me
em teu corpo
e fiz dele
poesia:

do teu colo
eu fiz flor

da tua boca
eu fiz chuva

dos teus olhos
fiz sabor

do teu peito
só doçura

corpos-flores
campos claros
com clamores
curvilíneos
correm
regam
os meus versos
onde escorre
só nós dois.

[desabafo]



despedaçada
pelo mundo que corta feito lâmina das facas enferrujadas da cozinha velha lá de casa, onde brotam angústias pelas quinas dos armários empoeirados. 
cansada
pelo amigo que não escuta e se joga no âmbito da tristeza melancólica que mata.
o mundo não me é mais confortável.
ana cristina césar talvez me entenderia
clarice nem tanto.
se bem que
acho que com palavras tão tortas e mal escritas não há mais pessoas que entendam ou escutem ou... Enxerguem. O olhar ao outro cegou. 
Cegos que vendo, não veem. -já dizia Saramago-
Escuro. Engasgo de palavras cortadas que nadam entre os espasmos fluídos sangue corpóreo 
nojento
pútrido
suado
dos dias que correm
escorrem
controlam
o tempo 
não cedem espaço
nem pro respirar.
Lixo. Tudo isso que escrevo não passa de lixo fonético. Junções de palavras que não conseguem nem mesmo conjurar o tamanho da dor. Lixo feito o morango estragado que apareceu na minha bolsa semana passada. 
Epifanias literárias perpassam meu coração onde há vontade de encontrar algo que cure esse mundo tão insano. Onde tudo corre corre corre corre corre corre corre corre

explodo.
no lixo de palavras que há aqui dentro.
escarro
tudo pra fora.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Não sei se o mundo parou
se o sono chegou
se a vida sorriu
se o caso passou
se a noite surgiu

Não sei se a vida mostrou
pra mim
pra você
por onde seguir

só sei que aqui
me sinto melhor
nos braços 
de abraços
que esquecem o ''se''
e pensam em ser
somente nós dois.
Os olhinhos da menininha brilham
lá de cima do morro
onde o céu é mais perto da terra
e a terra mais perto de nós
terra farrapa
dos pés descalços 
bocas famintas
barracos caindo

pernas correndo:
cinco da matina. 
busão lotado. 
suor. 
sono acumulado.

-anoiteceu-

volto a ver a menina
lá em cima do morro
suspirando 
logo pesava a dor
apática. franzina. pequena.
só reluzia seus olhinhos
que esbugalhados
fitavam as estrelas
com vontade de alcançar o céu
e desejo de comer as nuvens.
Não sei se o mundo parou
se o sono chegou
se a vida sorriu
se o caso passou
se a noite surgiu

Não sei se a vida mostrou
pra mim
pra você
por onde seguir

só sei que aqui
me sinto melhor
nos braços 
de abraços
que esquecem o ''se''
e pensam em ser
somente nós dois.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

o mundo é imenso
hostil
intenso
viril
calda de morango em erupção
''porra, queimei o dedo!''
grita a moça sedenta pelo doce
da panela imensa onde borbulha
o sulco grosso da vida
que vermelha
escorre
por entre os dedos lambuzados
da garota que os chupa
como se tivesse cinco anos.

ela come vida
todos os dias,
come amor
come dor
momentos
pessoas
sorrisos
leituras,
deleite da linguagem!
faminta! por palavras
que tornam o mudo,
mundo.
até que
queima
os dedos
as mãos
que tanto querem tocar
trazer pra perto
e com afeto
tornar doce.


''When I think of all the things I've seen
And I know that it's only the beginning
You know, those smiling faces
I just can't forget them
But for now I love you''

Deitados. 
-Ei, tenho uma coisa pra falar pra você.
-Fala.
-Te amo.
Inesperado. Completamente inesperado.
Ainda tenho reflexões se não foi um momento ilusório ou se eu já não havia adormecido. Mas não. Foi dito. Verbalizado. Sorri. Sorri muito, mas como estava deitava de costas, ele não viu minha expressão. Contive a felicidade e logo saiu um:
-Eu também.

-Sério?

-Bastante.

É claro que era sério. Tão sério quando o eu te amo dito naquela carta piegas. Tão sério quanto o bem enorme que você tem me feito. Sabe, eu já não penso mais no fim. Você conseguiu me fazer parar de postula-lo antes dele chegar, conseguiu me mostrar que posso me permitir viver isso da forma mais saudável possível... Conseguiu me tirar toda a insegurança provinda das lágrimas anteriores.
Obrigada.
Pela parceria
as prosas
músicas
leituras partilhadas
noites quentinhas
beijos
tempos
riso
braços
abraços 
laço
que tanto se fez
sem dar nó
laço solto
quase uma fita de cetim vermelha solta no céu
feito pipa
empinada por criança
que solta-se nas nuvens
colorindo-as
logo, há o riso da infância
talvez
sejamos crianças
que têm aprendido
sobre o amor
cujo laço
pode ser leve
cheio de doçura
compreensão
troca
toque
diálogo
só(risos)
nos ditos

e digo:
te amo.
''Got no one to call your own
Got no place to call your home''


Você nunca vai entender o que um ''Te amo'' representa pra mim. Muito menos o motivo que me levou a escrever sobre um ''Te amo'' dito por você... Por alguém que eu também amo. Caso contrário, saberia a importância que aquele texto tinha. E eu não precisaria perguntar ''Você leu?'', horas depois de ter enviado, pra que só assim você dissesse algo. Algo como: Obrigada.
Não tem como a gente escolher a reação das pessoas perante nossa demonstração de afeto. E nem seria bom escolher. Nem justo.
Mas eu já nem sei mais o que é justo nesse mundo que se perde na correria diária e esquece das singelas ações que fazem toda a diferença. O relógio, as brigas, os desequilíbrios controlam mais que o amor. O tempo que não é seu. O tempo que te controla. Em tempos de extrema falta de atenção pergunto-me o que fazer quando as lágrimas enchem-me os olhos e me sinto só. Quando escrevo um texto como esse, um poema desabafo, ou qualquer maltrapilho de palavras que expõe o quão estranha sou. 
Ainda assim, eternizo algo em palavras e você mal percebe que não coloco qualquer pessoa no poema. E você mal percebe que faço de nós poesia. E mal percebeu que naquele texto eu perdi o medo do fim, eu já nem pensava mais nele... Além disso, havia todas as pequenas palavras que tentavam dizer sobre meu afeto absurdo por ti. 
E. Desatenção. Distância. Surge. Some. Uma fração de segundos e o relógio já volta a pulsar. 
Me sinto tão só.
Tão só que só de pensar
dói. As palavras lacrimejam junto aos meus olhos
e perdem-se no redemoinho interno que não sabe mais escrever. Nunca soube. 
Só sabe de afeto virando palavra e palavra virando afeto
e em nós,
tem faltado afeto virando palavra
como o texto que eu te dei
e você nem notou direito
o quanto de afeto virando palavra
havia ali.
não dá pra chorar lá em casa
porque nunca tive um espaço só meu
tem gente por todo canto
conflito por toda hora

-ninguém se conhece mais-

-Boa noite.

-Boa noite.

Jantei sozinha essa noite. Jantamos sozinhos todas as noites por aqui. Não há mais algo que nos ligue ou qualquer resquício de conexão. Tudo falho. Amor falho. Casamento deles, falho.
Infância falha. Abraços nulos. Ausência plena.
A única que ainda tenta unir-nos é a pequena, que aos seus oito anos ainda acredita na palavra: Família
e em bons poemas.
a rotina nos prende
nos come
nos fala: corre! anda! compra! faz! 
a rotina chegou
e tirou-me o tempo
pra fazer poesia

mas ainda há aqui
a poeta sedenta 
por palavra 
que grite
mais alto que o tempo

sem cronometro exato
sem horário marcado
a palavra pulsante
chega do nada
pedindo perdão
pela poesia falante
que está em falta.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

palavras cortadas
presença escassa
conversas
sem tempo
adio
confesso
que sinto
saudades.

beijo anti-rotina


bocas
beijam-se
sendo poesia
na vida labuta
que voltou
corrida
escassa

tão cheia
de gente
que corre
inspira
escorre
trans(pira)

acolha
então
os beijos
que quebram
com o tempo marcado
o gesto calado
a vida corrida
de toda essa gente
de mim
de você

que nos encontramos
no meio de todos
que acelerados
não sabem olhar

mas nós nos olhamos,
nos beijos falamos
sentimos que estamos
aqui pra viver.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

[Carta de uma não-poeta insegura.]

Eu sei que eu não devia pensar nisso. Mas. Fico pensando como é que vai ser te encarar pelos corredores quando não estivermos mais juntos? 
Mesmo curso. Mesmo campus. Mesmo passo, agora, sincronia... Daqui um tempo, eu já nem sei.
E eu já nem sei de muita coisa, por que eu sou tão insegura sabe moço?
Não creio muito nas coisas, porque tantas coisas já passaram por aqui e logo, me perfuraram o peito e conjuraram meus poemas de luto. 
Não seja meu luto futuro, por favor.
Não importa o que for ocorrer. Mas que nenhuma montanha de coisas ruins esconda as coisas lindas que já vivemos, viveremos... Seremos?
Não sei o que seremos amanhã.
Achei que ao definir, eu me sentiria mais segura.
Mas não, namorados não têm garantia de nada. 
Pessoas não têm garantia de nada. A vida é uma compra sem garantia, e quando quebra, a gente tem que juntar os pedacinhos e reconstruir, e olha, fica o aviso: ela quebra demais.
Ainda existem uns resquícios de cacos antigos dentro de mim, talvez sejam eles que me trazem tanta insegurança. Não, o trauma passado não passou completamente. E chamo de trauma, porque você bem sabe o que o machismo foi capaz de causar.
Obrigada por só causar coisas bonitas e mesmo os pequeninos momentos de tensão se amenizarem quando te olho e vejo essa vontade de estar. Seu olhar me abraça e sussurra de mansinho: Calma, Iaiá.
Eu me acalmo, mas aí, passada algumas horas, a calmaria se vai...
Talvez se eu acreditasse mais em mim mesma, seria mais fácil. Mas eu sempre acho que você vai entrar ali, encontrar trocentas gurias bacanas e muito mais bonitas, e aí... Sei lá. Eu não confio muito em mim mesma e tem algo maluco que me fez confiar em nós. Talvez seja você, com esse seu jeito encantador de estar por perto e ceder espaço. 
Antes de tudo, você é um grande parceiro.
Espero que te esbarrar pelos corredores da faculdade não seja um problema depois que acabar.
Se acabar. Quando acabar. Eu insisto em falar do fim antes mesmo dele chegar , não é?
Mas é que. Insegurança.
Ainda assim, ao menos estou segura de que por hora, estamos
e tem sido a coisa mais gostosa do mundo.
aliás, dizem por aí
que encontros de afeto
tendem a durar.
Um passo
e estamos aqui
no doce estado do compartilhar

Dois passos
e estamos ali
na incerteza do por-vir

Três passos
e decidimos
estar juntos

daqui cinco meses?
não faço ideia

amanhã?
não tenho garantias
do futuro

hoje:
estamos
presentes
no abraço
confortável
nas prosas
conjuntas
no laço
saudável
de vida instável
que nos encontrou
e disse pra gente
que pode durar

que nem só de lágrima
se faz o poema
pois juntos estamos
em versos de amor.

sábado, 13 de setembro de 2014

lágrimas são loucas
são tontas
são tantas
são minhas
madrugadas
de palavras
escondidas
nos olhos.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014



Não sei nada sobre nós, além do fato de que existimos. Agora, o que somos, pronde vamos, não sei. Você não me passa segurança alguma de que quer ficar. É tudo tão momentâneo, sabe? Como se agora você quisesse mas talvez amanhã, essa certeza pudesse não estar mais aqui. É claro que viver os instantes presentes é bastante importante. Mas eu não vivo de presentes incertos. Por que é tão difícil se implicar? Achei que noventa dias fossem o suficiente pra conseguir fazer escolhas. Eu sei o que quero, e quando conversamos, só não coloquei minhas certezas... Por medo.
Mas eu acho que não dá mais pra esconder. Que eu quero é só estar contigo mesmo
e mais ninguém.
Ainda assim, assumo que tenho os meus receios e todo o mais. Mas eles são bem menores do que minha vontade de estar perto de ti. Hoje quando eu te abracei algo dentro de mim disse: Sua certeza está aí. Para de esconde-la. Assuma.
Por que temos tanto medo de demonstrar afeto?
Quantas vezes engoli um ''Eu gosto muito de você.'' Quantas vezes guardei o que sinto comigo, lá no fundo, trancadinho à sete chaves.
Mas chega uma hora que não dá mais.
Achei até bonito esses dias, como você tem colocado pra fora. É muito fofo ver você demonstrando afeto. Na real, você sente muito mais do que expressa. Devia mostrar-se mais ao mundo, porque você é incrível.
Ah, e eu amo teu sorriso!
E eu amo seus cachos.
E eu amo sorrir com você.
E eu amo transar com você.
E eu amo dormir de conchinha com você.
E eu amo te zoar infinitamente.
E eu amo tanta coisa.
Eu. Sei lá, eu amo tanto a gente sabe?
E eu tô cansada de esconder esse amor
porque ele é real
e eu não sou uma guria de amores escondidos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

palavra de poeta: 

corre
canta
some
volta
arde
chora
ama
pede:

venha
fique
num poema
feito nós.
não sei mais fazer poesia
nunca soube, na verdade
encaro madrugada adentro
e todas as palavras que sorrateiras
correm por dentro de mim
querendo cair no papel

elas bem sabem, 
que eu não sei fazer poesia.
safadas!
pulam gritam correm giram fogem caem 
escorrem
feito sangue
ou talvez
calda de morango

falam de mim
de nós
sempre a mesma história:
começo. paixão. reciprocidade. dias bonitos. paixão. fim.

aí lá vem elas
gritando: não aguento mais ficar dentro de você!
e logo se jogam pra fora de mim
desse jeito todo torto

hoje elas me lembraram
que o fim ainda tá longe
talvez eu ainda esteja em: reciprocidade.

não sei bem onde estou
da mesma forma
que não sei fazer poesia
mas sempre
logo que penso
ela vem

lá vem ela!
maldita
bendita
palavra
amor.
me encontrei
na poesia diária
do seu sorriso

nos versos cálidos
da tua boca

nas palavras agudas
do teu corpo

no conforto
criado juntos

nos dias debaixo das cobertas
nas prosas absolutas
no riso compartilhado
no abraço que emana amor
na vontade de estar
nisso
naquilo
em nós
a sós
conforme
o tempo
permitir.
nuvens

tu vens

sendo céu

cujo brilho
das estrelas

ilumina
sem medo

pois nosso céu
pelo medo
já passou

teve prosa
confiança,
sendo nossa.

a cada dia
que penso
no medo
lembro
que ele
já sumiu
que o receio
escapuliu
que agora
só tem céu
nuvens
nós
calmaria
feito noite de verão interiorana
toda estrelada.

domingo, 7 de setembro de 2014

Arejado

equilibra
corpo
mente
natureza

emana
amor
dentro de si

recebe
amor
dentro de nós

viajam
corpos
por entre as flores
que sorriem pra eles
que sorriem pra elas
que de tão coloridos
já não se sabe se são corpos
ou se são flores

dançam com o vento
correm sobre a água
caem na areia
riem com prazer
beijam feito flor
ficam sem temor.
a vida é imensa demais
com gente demais
amor demais
tristeza demais
choro demais
riso demais
pra pensarmos
que quando acaba
finda de vez
pra pensarmos
que depois dos fins
não existem começos
e depois dos começos
não existem fins

nesse momento
tô no meio de um começo
que me conforta
me rouba beijos
sorrisos 
reflexões

sinto
que esse começo
mesmo com fim
é um começo tão bonito
que vai ser começo pra sempre.
a vida cabe no mar
maré cheia de seus cabelos encaracolados
cama cheia de suas pernas saborosas
roçando as minhas
afogo-me em teu corpo
que me banha
com água salgada
provinda da boca
e logo depois,
gozo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

maldita sina do poeta:
amar demais
num mundo que ama de menos.




Rabisco das 22hh00

Não quero te magoar. Não quero ser magoada. Não quero que o que sempre acontece, aconteça com nós.
Já não sei mais o que somos. Nunca soube, pra falar a verdade. Mas sempre foi tão bom, que eu nunca me preocupei demais em definir. Estarmos por perto, bastava.
Mas já não sei se ainda basta. Você é um grande amigo, de fato. Mas você bem sabe que eu não quero ser só sua amiga.
E essa coisa de amigos que se beijam sempre foi tranquilo por aqui. Mas. Contigo é diferente, porque eu não te vejo só como um amigo. Na verdade, eu não sei como te vejo. Não sei nem se consigo ver a gente. É tudo tão leve que eu acho que vai voar pra longe, bem longe num instante rápido em que eu piscar os olhos e... Fim. Sumiu. Virou vento escapulido. Sinto nós mas não consigo tocar. Não tô falando de dizer nada ao mundo. Tô falando de dizer à nós. E. Acho que talvez a gente diga de formas muito diferentes... E não tá sendo tão fácil preu me acostumar. Aqui sempre houve tempestades absolutas cheias de intensos sentimentos... E agora, todo esse riacho de água doce, essa leveza, esse vento que sopra fraquinho. O que você quer?
Ou você ainda não sabe?
Ou tem medo de tentar saber?
Eu sei que está se permitindo, e estamos... 
mas me fala, por favor.
mas me fala de um jeitin leve
que nem a gente
me fala alguma coisa
sobre o que se passa aí dentro
sobre os momentos raros e preciosos
em que consigo tocar na gente
e sentir que de fato
existimos
(não só na poesia)

esses momentos
ah
me fazem sorrir.

sabe que hoje
nossa conversa ao telefone
foi a pior que já tivemos desde que nos conhecemos
pior que os momentos de conversas frágeis
pior, porque as conversas frágeis demonstraram 
o quanto estamos dispostos a entender um ao outro
mas hoje...
eu só liguei porque precisava esclarecer
algo que havia sido dito errado
e eu não queria que você fosse dormir pensando coisas erradas.
e eu queria que você dormisse bem...

-menos de um minuto. palavras frias. telefone desligado. tchau.-

foi estranho
porque eu não senti a leveza gostosa que existe em nós, juntos.
juntos?
é incrível como eu não consigo dizer as coisas que penso pra você a não ser através dos meus textos, não é?
perdão. acho que essa é a sina dos que se envolvem com poetas, encontram-se redoma de textos e versos rabiscados madrugadas a dentro. 
Eu queria poder falar essas coisas pra ti, sem ser por aqui. Mas não dá. Porque eu tenho medo, de você se assustar.
Mas isso aqui assusta muito mais, né?
[risos]
minha poesia só sabe assustar mesmo
essa então, toda confusa e rabiscada
só tá tentando dizer que mesmo que tu não saiba o que quer
quero que sabia
que eu quero estar com você.
Me encontra

nos meus olhos
nos meus lábios
na minha nuca
nos meus seios
barriga
cintura
pernas

me lambe
me aperta
me chupa
me vira
reviro
suspiro!

coxas entre-abertas 
que soam debaixo de ti
por cima de ti
e movem-se freneticamente 
no ritmo dos meus suspiros
cheios de tesão

dos seus suspiros
cheios de vontade

dos nossos suspiros
cheios de amor.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Soube que era amor, quando ficar deitados juntinhos debaixo das cobertas,
bastava.

Não deixe passar.

as pessoas passam
os dias passam
os momentos passam
as carícias passam
a vida passa
meus passos passam
e caminham nas escolhas 
de uma travessia que passa
tudo passa
só não me deixe
passar despercebida
diante de nós.

Sobre nós e meu coração bagunçado.


O chão da cozinha era cheio de ladrilhos coloridos. 
Flores sobre a mesa, num jarro de água simples. 
Cheiro de café fresco.
Eu olhava pela janela por onde o vento entrava percorrendo toda a sala e pensava em como é que tudo isso ia acabar.
Nós. 
Fitei o cursor que piscava na tela do computador e não soube prosseguir. Depois de escrever nós, assumo que deu uma pontadinha de dor. Dor ao pensar no fim. E sim, ele existe. Existe com tanta concretude, que às vezes consigo senti-lo sem ao menos ele ter chegado.
Ah, eu tenho pensado em tanta coisa, guri. Na vida, nas escolhas, nos espaços, ocorridos, pessoas... Laços. Acasos. Afeto. Fins.
Escolhas.
Não faço ideia de como fui capaz de escolher viver o que estamos vivendo. Não depois de tanta dor... Opressão. É , você sabe. E aí, você surgiu, do nada! Trazendo essa calmaria e esse jeitin tão doce de estar.
E estamos.
Mas...
Sempre que eu olho pro lado de fora da janela, eu penso que talvez você já esteja indo. Ou eu esteja indo.
Ou na verdade eu só tenha uma mania maldita de boicotar meus próprios relacionamentos.
Eu. Tenho medo de vive-los.
Porque,
tenho medo do fim.
Mas.
Droga.
Eu já te amo.
E eu amo demais tanta coisa nessa vida. 
Tem tanto amor aqui dentro, que eu acho que eu vou explodir.
Por que às vezes cai lágrima dos olhos e a gente não sabe o porquê?
Por que o céu é azul?
Será que eu vou conseguir montar minha trupe de teatro e sair por cidadezinhas do interior me apresentando?
Será que...
Paris já me é tão distante.
E o feminismo que pulsa em mim, onde estou depositando-o?
Tanta coisa.
Reflito.
Esqueço
De tudo

pois penso
em ti.

malditas palavras honestas
que rodeiam viram pulam
mas sempre caem
no que de fato se quer dizer
e eu acho
que eu já nem sei mais
o que quero dizer
porque tá tudo tão embaralhado!
tudo tão cheio de mim
de você
de vida
e tempo demasiado
pra se pensar
e penso
penso
logo
percebo
que tô com medo
porque já te incluí demais nas minhas poesias
e você definitivamente já está fazendo parte delas
e isso
é preocupante...

há afeto demais
certezas de menos

poesia exposta
falando de ti.

a felicidade é um bicho tão gostoso,
que chega a assustar corações que já passaram por muito caos.

meu coração
tem medo de ser feliz.

meu coração
teve caos até não caber mais

logo, se assusta
com essa leveza
tão arejada
e cheia de amor

medo coracional:
quando as veias corpóreas
enchem
de tanta alegria
que chega a dar medo de ter um enfarte.

sábado, 30 de agosto de 2014

acho que virei santa
logo após, virei puta
virei moça
virei louca
virei triste
logo, alegre

viro o que quiser
reviro ao avesso
toda a vida
que couber

viro à ti
viro à mim

vejo nós
virando amor,
sem temor
nem pudor.

domingo, 24 de agosto de 2014

Carinho bagunçado.

Acordei.
rodopiei.

pensei

em nós.

Refleti.
insisti.

desisti

de nós.

Repensei.

te olhei.
me olhei.

nos olhamos
e falamos
pelo olhar.

nesse instante
percebi
que não vou
desistir
nem de nós
nem de olhar!

muito menos de sentir
toda prosa
todo gesto
todo toque
sendo honesto

entre nós

manifesto
com amor.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014



Eu não quero ser a Iaiá só pros momentos felizes. Meu mundo, tava desabando hoje. Tinha lágrima pra tudo quanto é canto. Uma montanha de coisas borbulhando dentro de mim. E eu só queria um: O que tá acontecendo?
E se eu não respondi da primeira vez, é porque deu a leve impressão de que você não se importava de verdade.
Eu esperava que você voltasse a perguntar: O que tá acontecendo? E que dessa vez, eu sentisse que você se importava de verdade.
Mas você não voltou.
Falou sobre amanhã. Sobre o show. Sobre eu dormir aí.
Sobre isso , sobre aquilo.
E eu fiquei aqui, engasgada de palavras tortas e de lágrima.
Até que você foi dormir.
E eu continuei aqui, engasgada de palavras tortas e de lágrima.
Até que
você já deve estar dormindo.
E eu tô aqui, na tentativa falha de botar pra fora minhas lágrimas que escorrem
percorrem meu rosto
com palavras aquosas
que borram o papel
e fazem da tinta 
palavras escorridas
que não foram ouvidas
nem se quer percebidas.

E se tem uma coisa que eu faço,
é perceber a dor do outro.

Eu. Eu só queria poder ter contado contigo.
E hoje, não foi possível.
Eu precisava de alguém por perto. Precisava muito. Nem que fosse cinco minutinhos de afago. Mas você definitivamente não foi essa pessoa.

valeu, pela prosa em dias ruins


você que é tão cheio de riso
a onde foi parar teu sorriso?

pergunto à ti
pergunto à mim
que hoje, choro.

talvez você saiba bem o que é
chorar por dentro.

pensei em te fazer um verso
falando sobre as lágrimas de hoje
mas não cabe no poema.

pensei em te fazer um verso
falando sobre o riso de ontem
mas cabe muito menos.

pensei pensei
e não veio nada
além de: gratidão.
meus olhos encharcaram-se
meu coração encharcou
minhas mãos tremulas
não sentiam chão nem teto
pra tatear
segurança
cadê?

meus olhos lacrimejados
misturaram-se com meu coração
mudaram de cor
agora, ofuscados
sem o brilho anterior.

minha boca não profere palavras sensatas
muito menos coerentes

longe de ser poesia,
tento dizer
sobre como
eu
não sei
tem algo aqui dentro
que me diz que tá acabando, sabe?
uma insegurança absurda que me faz pensar o tempo todo:
ele já foi.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

[sobre hoje]

saudade
sopra
pitadas de incertezas

somente
saberei
o que somos
conforme o tempo seguir ?

suspiro
com um medo
bem de leve
...
mas eu sei
que eu gosto de ti
gostamos
estamos
sei lá como
sei lá pra onde
só sei que você me faz um bem danado
que eu amo seu sorriso
seu toque
a gente
bem junto

eu. só queria ouvir sua voz
ou lhe dizer como foi meu dia
mas eu sei que não dá pra estarmos sempre...

de qualquer forma,
pouco tempo
foi o suficiente preu sentir
saudade sibilando
sobre mim.
a diferença entre a saudade do que já foi e a saudade do que está sendo:
a primeira, encharca os olhos, aperta o peito e entorpece o corpo.
a segunda, enxuga os olhos, solta o peito e anima o corpo.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

a m o r: era formiga, virou elefante.

Uma formiguinha entrou dentro de mim e foi andando por todo meu corpo, passou pelo pulmão,artérias, faringe, garganta, narinas, boca, língua... até que: Atchin!!!!
Saiu como num espirro rápido e forte. Expeliu do meu corpo. E caiu no chão. Estava toda manchada de sangue, afinal, perpassara o meu corpo inteirinho, dos pés à boca. Vermelhinha, tentou se mexer, mas estava exausta de tanto caminhar por dentro de mim. Agachei, recurvei o corpo e deitei no chão ao lado dela; a peguei com a ponta dos dedos, que logo se mancharam de vermelho também. Observei, tão pequeninha, as patinhas mexiam de leve. Até que eu percebi que a formiga estava numa transformação corporal, se contorcia toda como num bailado contemporâneo, e foi expandindo suas patas, esticando... Crescendo. Seu corpo foi formando uma palavra. Meus olhos atônitos miravam a formiga, que já não era mais formiga. Era palavra, imensa, gigante, bem a minha frente. Escorria vermelho por todo o chão branco. E ela se contorcia cada vez mais: sim essa palavra dançava! O chão, agora rubro, começou a transbordar tinta vermelha -sangue do meu corpo- 
e num mar vermelho
a palavra
que de tão pequena
já fora formiga
agora era elefante
elefanteava pelos cômodos da minha casa
e os mais recônditos espaços do meu coração
pulsavam palavras vermelha-sangue-do-meu-corpo, amarelo-dia-a-dia, cinza-celestial, azul-nós-debaixo-da-coberta, branco-criança, verde-ciranda-na-praça
eu, na doce ilusão de que sabia pintar poemas,
juntava
cor com cor
letra com letra
e logo, formava amor
que com todas suas cores
bailava
tentando ocupar todo o espaço,
como se quisesse alcançar o céu.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

somos o vento
e o que estamos tendo
é algodão.

sinto que o vento
sopra em terra firme
cada vez mais
me trazendo a segurança
de que há nós
de verdade.

e sempre que te abraço
esqueço de tudo

é como se nosso abraço tirasse
todas as dores do mundo.

e sempre que te beijo...
ah...
e sempre que te sinto...

- cama. corpos enlaçados sem nó. prazer. -

e sempre que te tenho pertin
o relógio não importa
a separação do casamento falho deles
não importa
o choro antigo
não importa
as cartas rasgadas
não importam
os dias afogados em fel
não existem

porque
existe só a gente
sendo vento adocicado
que percorre o espaço azul
abraça. toca. sente. enxerga.

a vida torna-se:
corpos quentinhos debaixo das cobertas
que afagam
se encontram
na preciosidade do companheirismo.

a vida segue.
sempre segue.

mas eu te digo
que a vida moço,

fica bem menos pesada
com você.