quarta-feira, 27 de julho de 2011

Manchas.

As manchas de batom denunciam, mancham e desmancham. Vejo minha boca com o batom de um rosa intenso e imagino o que as marcas causariam. A mácula de uma cor, ou de uma boca simplesmente. Mas não são só as manchas de batom, são as manchas da nossa vida. Manchas que borram e enfeitam. Colorem e descolorem. Queria nesse momento, manchar tudo, com várias cores, para que de algo intacto formasse um quadro de manchas, claras e escuras, feias e bonitas. Ao invés de apagar eu colocaria uma mancha em cada coisa que desejasse tapar, e as que eu desejasse ver colocaria uma mancha do mesmo jeito, para que assim no final não pudesse ver nada, a não ser manchas de vários tons. Têm momentos que gostaríamos que tudo fosse apagado, mas cansei de tentar apagar as coisas, prefiro nesse momento refaze-las com manchas.

E eu vos digo, novas machas acabaram de surgir, permeando minha vida de uma maneira tão estranha que nem consigo definir. Certas manchas me dão medo, de tão desconhecidas que são, mas intrusas já mancharam sem que eu vos pedisse. Mas de certa forma, são manchas tão interessantes de se ver, sentir, ouvir. Sim! Manchas falam! E como falam. Falam com seu enodoado, e nesse momento não coloque mancha como sinônimo de sujeira e sim de pureza. Porque elas purificaram, e eu lhes peço: Limpem, façam e causem.
Porém, algumas manchas são falsas, com o tempo somem ou logo que colocadas em água saem, essas eu retiro de cena, prefiro que não existam e que vão manchar a brancura de outra vida. Agora você, mancha nova, venha, fique e tome conta de tudo, manche-me por completo, e, por favor, seja uma mancha sincera.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Vontade.

Penso. Paro. Respiro. Existe uma vontade compulsiva de escrever, mas não tenho o que dizer, talvez eu tenha, sempre temos. Cansei de escrever sobre o que sinto, vocês não precisam disso, seria egoísmo meu escrever só para mim, mas em alguns momentos somos egoístas, fazer o que.
Poderia falar de tantas coisas aqui, mas não consigo. No momento só desejo escrever o que eu quiser, e que isso se desenvolva como bem entender. Que as portas abram e o vento sopre, e que o texto, parágrafo, como quiser definir isso , torne-se uma junção de sentidos, vontades. Porque na verdade é isso que surgiu, uma vontade imensa de simplesmente escrever. Não me julguem, e não esperem um texto bonitinho como alguns outros dizendo sobre o que sinto ou deixo de sentir. Nesse momento eu só digo, e ponto.

É incrível como toda vez que estou ouvindo música a vontade de escrever nasce do nada, floresce sem que eu peça. E foi isso que houve agora. Gostaria desse momento de conseguir simplesmente dizer algo relevante para vocês, mas não consigo, será que uma vez na vida posso escrever sem regras sem imposições? Permitem?
Obrigado.
Sabe, quando fiquei doente e internada, conheci pessoas incríveis, e percebi como era bom estar com pessoas que não me julgariam por dizer o que eu quisesse, pessoas abertas a brincar, sorrir. Sinceridade. É isso que busco nas pessoas, mas nunca encontro. Eu sou sincera demais, e prezo muito isso. Mas por que digo isso no meio desse texto? Não sei. Porque deu vontade.
Acreditem, hoje não estou boa com as palavras, ou melhor, quase nunca estou. Mas de qualquer forma, escrevo, porque quero.

Quero que essa paz de espírito não finde, quero que sejam felizes, apesar de tudo.

E entendam, porfavor. Todos têm necessidades.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Um texto inacabado

Estávamos em Paris, juntos. Quando uma garoa começou a cair... Olhamos um para o outro com um ar de desespero e resolvemos encontrar um lugar coberto. O problema é que ali não havia nenhum lugar coberto, RS A chuva engrossava conforme andávamos para fugir dela, como se ela nos perseguisse e quisesse nos dizer algo. Então começamos a rir, aquela risada sincera. Via em seu olhar, a felicidade.

Meus passos seguiam no encalço de Clair, chapinhando nas perturbações do caminho pedregoso — inumeráveis poças se estendiam diante de nós, um problema menos relevante quando tínhamos a fúria dos céus a nos despejar água gelada aos trambolhões.
A corrida infundada arrancou-me um bocado de energia e eu tive de parar. Molhado e enregelado até os ossos, não havia mais que fugir. — Espere, Clair! — E recostei, arquejante, numa parede próxima. O contato da pedra com minhas costas também geladas me provocou um tremelique, que foi logo acompanhado dum guincho. — Ah, quer saber? — eu disse, desvencilhando-me da construção e saltando da calçada, pronto a atrever-me bem no meio da viela — então deserta —, dando-me de todo à água celeste. — Como já estamos irreparavelmente molhados, que nos deixemos lavar por completo, não é? — Abri os braços a chamei-a com os dedos. — Venha!
Eu passei a caminhar paulatinamente sobre o chão irregular, sem sentir — ou, mais apropriadamente, sem me preocupar — os pingos que me rasgavam a pele, tão ardentes caíam.

Riamos para alto ainda, rodávamos acompanhando o vento, e deixávamos a chuva cair sem se preocupar com o resfriado que poderíamos pegar. Foi quando chegamos a um jardim, cheio de flores, eram lindas, permeadas por cores, sombras... E ele, em meio à chuva tornava-se mais bonito ainda, as gotículas caiam sob as folhas das arvores e eu me sentia tão bem, como nunca tinha me sentido antes. Era como se eu acabasse de entrar em um mundo subterrâneo, como Alice no País das Maravilhas. Como se eu e ele voltássemos a ser crianças, por um dia.

Era muito agradável o que o acaso nos reservava. Um jardim muito pomposo e diverso! Vi-me a sorrir dentro de uma pintura de Monet e, conquanto não houvesse sol, a paisagem parecia-me satisfatoriamente iluminada. Passeando entre uma sorte de flores que era um deleite, segurei o braço de Clair, pois ela caminhava com maior ligeireza — e, é certo, eu não desejava perdê-la naquela fatia de bosque. Encarando-a de frente, apontei para o caos de pétalas e cores. — De qual flor você gosta mais? — perguntei, eu próprio tentando encontrar minha favorita entre tantas belezas.

Sorri e disse — Gosto de todas. A coisa que mais amo nesse mundo são as flores. Sabe por quê? Porque elas não julgam ninguém e estão sempre abertas para serem tocadas. E você, querido? Hm Tem uma predileta?

Observando o local, olhei para o chão e encontrei um livro caído, tinha capa dura e preta, e era todo adornado com flores, mas engraçado, não possuía nada escrito dentro. Puxei-o para perto e disse: - Boris, o que é isso?!

Encarava as flores, absorto em suas sutilezas várias, descobrindo raridades a cada porção de espaço que o olhar varria. — De fato... Elas são bem gentis. — Sorri. Ante a pergunta de Clair, pus-me a ponderar por um instante sumário, no qual lancei as orbes por todo o entorno, como que para confirmar o que diria a seguir. — Gosto muito dos girassóis. — E apontei para um amontoado de flores amarelas ali perto. O contraste das pétalas solares com o centro negro era admirável... bem como o porte soberbo das flores. — São lindos, não?
Fui despertado de meus distantes devaneios a fitar girassóis com um chamado da garota. Levei alguns segundos para atentar para o que ela me indicava — um livro? Olhei para o objeto e quis pegá-lo. — Deixe-me ver... — Folheei-o sem interesse e o passei a Clair. — Hm, não deve ser nada importante. — Com um suspiro, volvi a atenção ao cenário.

Então o olhei com surpresa e disse - São raras as vezes que um livro não te interessa, Boris.

Observei o livro, estava realmente em branco, suas folhas eram antigas, mas possuíam algo de muito peculiar. Resolvi então fazer um pedido a Boris. –Boris, que tal escrevermos nele todas as nossas aventuras ou se preferir passeios por Paris, aposto que dará uma excelente história! O que acha?

Sorri e lhe passei o livro em branco, e completei: - Quanto aos girassóis, são lindos sim, é como se eles sorrissem para a gente, não? Queria lhe agradecer, por essa viagem maravilhosa que estamos tendo juntos. Hm

Virei-me bruscamente, afetando indignação. Disse, divertido: — Pois são igualmente raros os livros em branco, não é? — Sacudi a cabeça e estalei os lábios, em desaprovação. — Gosto de ler o que há para ler, ora essa! — Com uma risadinha, apertei o passo. Mal havia notado que a chuva cessara de cair... apenas o ar frio da noite fazia com que bailassem as fileiras de flores, tão delicadas quando genuínas bailarinas de carne e osso.
Estaquei em minha caminhada e voltei a Clair. — É uma boa ideia, mas... — Com uma sobrancelha arqueada, olhei com desconfiança para o insólito livro que minha companheira carregava. — Mas e se isso pertencer a alguém? Quer dizer, nós estamos em terreno particular. — Lamentavelmente, aquele deleite de jardim não era público (e não era nosso, tampouco!) — Não devemos nos apoderar de coisas perdidas dessa forma... — Transfigurado num adulto responsável e ganhando ares de bem refletido, apertei o braço cuja mão segurava o objeto misterioso. — Deixe isso aí.

-Sim, são raros e por isso mesmo não posso deixa-lo aqui, jogado! Boris, pode até me importar o fato dele ser de alguém, mas se é de alguém, é de uma pessoa que o despreza, ele está jogado! E é lindo! Adornado com flores, eu sempre quis um livro assim, e você sabe disso mais do que ninguém. Não vou deixa-lo aqui. Está decidido.

Agarrei o livro com força, sorri para Boris e pedi a ele com os olhos para me deixar ficar com o achado precioso. Continuei andando e observando o local, que chegava a me parecer mágico. Chamei Boris que estava um pouco atrás e perguntei: - Que tal brincarmos de pega-pega? -Dei risos altos. - Deve estar me achando uma completa louca, mas acho tão agradável correr entre as flores, por favor, vamos, vamos! -Pedia como uma criança mimada, mas estava trajando um vestido branco e usava uma flor vermelha no longo cabelo, nada remetia a uma criança além do meu olhar suplicando para começarmos a brincadeira.- –Será divertido, está com você! Coloquei o livro em um canto e comecei a correr.


Por Renato Trevizano e Inaiara Gonçalves.




segunda-feira, 18 de julho de 2011

Bitucas de cigarro.

Andava pela cidade e observava a cada rua centenas de bitucas, em cada esquina, em cada vão, em cada canto.
Pior que poluir-se é poluir o mundo. Mas não tem mais jeito, os cigarros são necessários não é mesmo? Joga-los no chão também é. Poluir já tornou-se intrínseco ao ser-humano. Daqui a pouco o mundo só vai ser feito dessas coisas.

A um enfermeiro que não lerá isso.

Eliomar, ou Eliot com eu gostava de te chamar. Sei que não vai ler isso, mas ainda tenho esperanças que você entre aqui, rs , afinal eu te dei o link.
Só queria dizer para você, que no final... Tudo dá certo.
Não sei porque estou dizendo isso, acho que é só porque quero.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Esboço.

Começar, criar, findar.
O esboço é o começo, o meio e o fim.
O esboço é ir contra qualquer paradigma e simplesmente tentar traçar as primeiras linhas de um novo quadro.
E nesse momento é isso que estou fazendo, um bosquejo de um projeto inacabado.
Mas esse projeto é diferente, é formado por uma junção de esboços.
Uma gama tão imensa de cores, sons, tentativas, que até me perco...
Me perco dentro das entrelinhas que formam o esboço chamado vida.
Nesse momento, sinto que não devo usar a palavra sinto, porque ela já está tornando-se praxe em meus textos, então eu direi: Desejo e não sinto, eu desejo que esse esboço nunca se torne um texto concreto, e que ele siga em frente conseguindo a cada momento traçar uma nova linha, que ele mude, faça e refaça. Que ele seja.