sábado, 22 de março de 2014

farrapo
esfarrapado
nos cordões umbilicais donde brotaram a vida que nasce chorando, onde compila-se os versos dos poetas perdidos, dos namoros findos
do instante e agora
o que fazer?
estrangeiro no próprio mundo
onde nascer torna-se dor
onde viver torna-se fim
começo
fim
começo

fim.

segunda-feira, 17 de março de 2014

sono
toc toc

quem é?

sono
tintilando nos músculos cansados
que tanto carregam tanto estressam
mas nada
quase nada
perto do daquele moço
que virou máquina
perto daquela moça
que virou
o que virou?
o que viramos?

dê-me analgésicos
que curem meus olhos
que veem que sentem
que comem
comem o mundo inteiro,

chegando até a purpurar sal
e esparramar dores cintilantes

espumar saliva
ao tentar falar

reter amor

quando se quer soltar.

sexta-feira, 14 de março de 2014

s o c o r r o

só corro
do desequilíbrio
confuso
estepe
plantas herbáceas
contidas
no peito
perfuram
exalam
perfume
de dor.
Morrer enquanto há vida
Viver enquanto há morte
dormir enquanto
as pálpebras cansam
lendo os folhetos lacrimejados
borrados de batom vermelho
cuspidos com saliva pútrida
cuja raiva perpassa
a saudade esvai-se
e o rosto envelhecido
evidencia
como
o tempo
faz doer

já dizia o poeta
que tinha apenas duas mãos e o sentimento do mundo

as minhas estão

costuradas
sem fim
sem chão

sem ver
como
nem pronde ir.

[Isso não é um poema.]

Café a dois
-sem bolo de cenoura-
Amargo-doce
Amargoce
Amargou-se
toda doçura
dos tempos passados
dos beijos intermináveis de metrô
dos beijos intermináveis de rua
dos beijos
ah
dos ditos corpo boca língua
do abraço de quem ama
sem nem saber como.
mas ama
ama estar
ficar.
esteve
sim, num tempo remoto
esteve das formas mais lindas possíveis
mas
sempre há um mas
há um mas dentro de ti, moço
há um mas que não o deixou ficar. tentar. viver.
um mas que lhe impede de sentir (permitir)
mas,
há quem sinta,
e esteja
e queira
e eu te juro que nunca mais vou estragar isso.

não sei muito sobre a nossa amizade
tão estranha
que a pouco incluiu re-vivencias
do que não há mais.
não sei muito sobre nós
talvez,
porque ir
seja nossa palavra.

sinto muito.
o universo nunca deixa muito espaço pros que desistem.
não importa quanto amor eu tenha aqui
nem mesmo as minhas tentativas falhas de botar pra fora
muito menos nossa vontade de não ir
não quero mais saber do carinho imenso
nem da saudade.

não importa mais.

porque

talvez

amores-que-vão

não sejam capazes de se transfigurarem em grandes amizades.
precisando de mim
bata na porta
precisando mostrar algo,
esteja aqui.

precisando
de bicicletas que me façam ir à lua
e me levem pra voar
pra longe
bem longe
desse meu amor
confuso
e estranho

da conjuntura
de se amar dois
e não saber como se dá

porque nunca disseram pra mim
que assim podia ser.

precis(ando)
por entre os não-saberes
as confluências inconscientes
que nos agarram
e não há como fugir
porque amo
porque sinto

porque é.

é tu. e é ele.
é muito.
muito pra uma pessoa só.

segunda-feira, 3 de março de 2014

apunhalada
pelas palavras
pelos tornados
que constroem
as visibilidades diárias

pisada
por cada contra-tempo
tempo passa
e continuamente
me traz a náusea
do chão cinzento
e chamuscado
pelas lágrimas
que torrencialmente
explodem
agarram
e dizem

só elas
só dizem

o tanto
da dor.

DES(COM-PASSO)

ardências dúbias martelam a cabeça num toctoc desenfreado, onde não há oxigênio nem sinal adocicado de belos quadros em que surgem as melhores danças. a não ser, que as danças aquosas de lágrimas deem algo. quem sabe, numa tentativa de alforria,
não cheguem a servir jantar
com a cura do medo
chá à mesa
e nos façam comer ao som de um piano velho
onde caberia até um tapete vermelho 
e dois amantes no chão.