segunda-feira, 27 de abril de 2015

corpalavra

meu corpo
é palavra
viva

pulsa
pulsa
pulsa

e sai aos gritos
pro mundo
que eu nem sei quem é

não sou poeta
não sou princesa
não sou sua

sou minha
só minha
mulher

onde as palavras brotam
do fundo do peito e rasgam
a garganta para dizer

qualquer coisa sobre o amor
que não cabe em mim

sobre a vida que não cabe
nos meus seios
que tanto sentem

na minha boca
que tanto fala

nos meus olhos
que tanto veem

não cabe
em mim

como ser feminino
emancipado

emancipei-me

ao jogar
palavras

provindas do meu corpo
no papel.

sábado, 25 de abril de 2015

prédios conceituados
pedreiros esquecidos

livros famosos
revisores não vistos

peças diretores cantores dançarinos poetas pintores tradutores

e quem está por trás da cortina?

na luz do teatro
na voz do cantor
na sapatilha surrada
da bailarina linda
quem a fez?
quem fez a sapatilha?

somente
não sei

não sei

não sei

poderia ficar aqui
escrevendo essas duas palavrinhas
pra sempre
porque poesia
jogada
surrada

-como a sapatilha-

só serve
pra ficar
no papel.
não quero aplausos
assumo que
as curtidas
ajudam a seguir
não pela fama

mas pelo reconhecimento
daquilo que sai das entranhas
e vaza pro mundo
cão
caótico
catártico
confuso

pelo ser-sentida
e não ser-vista
portanto,
se me veem
mas não sentem
sumam
do clicar automático: curtir.
se não sente

não preciso

já há pessoas demais
ligadas no automático

mecânico
maquinal
involuntário

vai e vem
sem sentido
sem sentir-me
na íntegra

sente a si?
sente ao outro?

reconheça o poema
as palavras
as tão doces palavras
que sabem dizer gritar correr
quase que loucas
pra serem

sentidas

idas sem fim

de poesia

sincera.

sexta-feira, 24 de abril de 2015


olha pra dentro de mim
no fundo dos meus olhos
há a flor que não é escutada
no fundo do meu sexo
no fundo da minha boca
no fundo
o que há no fundo de nós?
de mim de ti
que juntos não somos nada
porque não há espaço pra dois
num mundo onde não escutam
as flores

e a poesia
fica assim
cortada
pela rotina

pela metade

pela hora certa
à cumprir

faz faz faz

ganha ganha ganha

pão?

gostaria de um pão com pitadinhas de jasmin
pra ver se assim
a poesia sai
menos caótica

e consegue

ser escutada

por dentro.
não é tempo
Carlos,
não é tempo
pros seus poemas
estarem nas prateleiras
mofadas
das bibliotecas
mofadas
das universidades
mofadas

não é tempo
nem espaço
nem desejo

sei que não queria assim, Carlos,
mas o mundo tá pra esses tempos
tempos da academia
que não enxerga mais
a flor que nasceu na rua,
Carlos,
ah, Carlos,

só há tempo
pra ser-visto
serviço
pagamento
no fim do mês

e flores murchadas
sobre a mesa de jantar.

domingo, 19 de abril de 2015

corpo
meu corpo
não aceito
meu corpo
cujas coxas
não são firmes
e os afetos
tão intensos
e o choro
sempre vindo...

porque é com ela
com a bunda dela
que cabe no shorts
curto de um jeito
sexy
com

-merda. queria poder não estar assim.-

mas é com ela
que você quis estar
naquela noite
e
porra
qual o problema?

e todos os outros
e todos as outras
coisas perturbantes

qual o problema?

qual meu problema?

acho que esses olhos grandes demais
essa mania de escrever poemas ruins
a bunda não tão
como a dela
você sabe
e
ah,
olha pra mim
não sou nada
nunca fui nada
além de uma
falsa-poeta
com corpo ruim:
lixo escorregadio
em forma de palavras.

gozo escorrido de machismo

chupa
chupa
chupa

- ei, não faz assim. seu jeans tá me machucando. -

olívia tira o jeans.

chupa
chupa
chupa

- posso gozar na sua boca? -

olívia diz que sim.

goza
goza
goza

fim.

olívia sorri.

riem
riem
riem

Otávio à toca
dois segundos

para.

- não tem tempo pra isso agora, Oli. -

olívia
só servia
pra chupar
e servir

chora
chora
chora

olívia
chora não
seu corpo é lindo
sua boca é linda
e a voz é sua
somente sua
então grita
mesmo
que seja
em poesia
esfarrapada.

sábado, 4 de abril de 2015


Quero desconstruir. Quero desconstruir essa porra toda provinda do passado.
E vai ser na prática. E pode ser que doa, eu não sei. Mas pode ser que traga frutos.
Eu quero tanto ser sua amiga. Tanto! 
E que todas as coisas boas que vivemos se tornem pitadinhas de amizade.
E que todas as coisas ruins que vivemos se tornem pitadinhas de passado.
E que nenhuma Regina me atordoe mais em sonho dizendo pra nós que ia durar, nem mesmo me dê vontade de chorar às vezes quando lembro da noite quentinha e seus lábios. e . pera. Para. Fim.
Fim desde que fim.
Finde esse poema em prosa
pra mim.
É muito estranho né? Parece que alguma coisa ancora a alma da gente junto. E leva, pra longe, pro dia mais longínquo. Pra lembrança mais exata. Pro beijo mais saboroso. E volta. E quando retorna ao presente, tudo fica de lado, mas a alma ancorada ainda está aqui. Ali...
E agora?
Como lidar com almas nas quais me ancorei
dentro de poesia e de saudade
Como lidar com essas almas que eu só quero
que se tornem doces amizades
menos poéticas
e mais reais.