sábado, 31 de maio de 2014

Cuspia numa tigela suja de catarro, pútrida, cheia de vermes, feito tua boca, da onde saíram tantas mentiras e tanta opressão. Meu peito se enchia de lágrima, de água, de dor. E formavam-se bolhas, que estouravam, uma por uma, sempre que lembrava das imagens, das palavras, do machismo pulsante em cada parte.
Das ameaças. Dos dizeres conjugados com ácido estomacal. Chame a polícia. Chame mais um grupo de cretinos opressores pra te defender.
Chame os vermes que percorrem as esquinas.
Chame quem quiser
que a putaria já é tamanha mesmo, faça ela ser compatível ao teu caráter de merda, porque é bem do seu feitio. Seu merda.
Nunca mais rele um dedo em mim, que eu tenho nojo dessas mãos que um dia me tocaram. Eu tenho nojo do teu beijo. Do teu olho. Do teu corpo.
Não sei como pode caber tanta raiva, tanta loucura.
Cego. Você só pode ter cegado. Sinto de longe a água destilada misturada com álcool caindo sobre seus olhos semi-abertos e entrando em sua boca da onde vinham os rumores gritos horrores

some
some das minhas palavras. do meu passado. do meu coração.
que isso não é amor
isso é insanidade 
doença

some
e vai ser doente longe de mim.

domingo, 25 de maio de 2014

Não dava pra ir dormir, sem falar a respeito dos girassóis. Sabe moço, acho que cansei da poesia, hoje vou tentar, numa prosa curta (e grossa. digo. grosseiramente sem jeito) te dizer o que se passa. Anabella adorava dias honestos com luzes e bandolins. Você sabe. Sempre soube. Dos olhos gigantes e das rodas gigantes com sabor de céu. Seu beijo, me contaram, que seu beijo tinha gosto de lágrima. Lágrima sem sal. Lágrimas doces e translúcidas. Anabella se afagava com músicas efêmeras e risos partilhados em dias de parque. Mas ela nunca deixou de te amar. Porque tem algo dentro dela que é de uma imensidão absurda. Onde cabe cada pedaço de carta rasgada, fotos antigas e corpos. Elas sempre (des)ajeita tudo dentro de um corpo que não se sabem mais os poetas se era corpo ou palavras, todas amontoadas junto ao vidrinho de aquarela que explodiu. Anabella era meio Olívia, meio Maria, meio Joana. Meio mulher. Meio moça. Meio vida.
Meia vida é quanto?
Vai me cobrar pra viver? Ou os gastos com sapatos de cristais já não bastaram?
Não tenho pé pra sapato de cristal.
Não moro em castelo.
Não sou Anabella.
Mas sei das dores dela
e das palavras todas grandes querendo sair. quase. quase rasgam-lhe a garganta
pra gritar sobre saudade e olhares que ficam.
ah. e o girassóis. sim. um dia amarrarei eles em fita e lhe entregarei junto a um beijo
sem sabor de lágrima.
e ainda te ajudo a explodir um potinho de aquarela
e quebrar sapatos de cristal.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

pontuei
parte de ti

juro que fiz
de tudo
pra esquecer
os pontos que tu perdeu comigo.

mas tem algo dentro de mim
que me mostra e estanca
sempre que ouço sua voz
e lembro-me dos teus lábios-tão-bons

pare de pontuar tua vida, moço
você chega a se afogar
e leva os outros junto
nesse teu emaranhado de desilusões
e desistências
e
você sabe. que eu gosto do teu sorriso.
tenta deixar ao menos
que ele pontue.

pare
por um segundo
de ter gosto de lágrima.


me disseram que tem algo dentro da gente que não para e não rompe nem acaba
algo que pisca pisca pisca, feito as luzes de natal numa praça bonita. algo que lembra de se molhar na chuva e secar deitado na grama ao sol do fim de tarde. algo que dá abraços apertados que limpam lágrimas. algo que é imenso e profundamente simples.
algo que nos torna
nos compacta
nos envolve
e fica.
algo bem perto de amor
mas é mais
porque mesmo quando o amor dói
há um empurrãozinho
que vai dizer bem de leve:
corre
que a vida é grande demais
feito você.

domingo, 18 de maio de 2014



''Eu protegi o teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor''


Em um pequeno papel de retalhos, onde a costura começou a seis meses atrás, me vi re-olhando, re-escrevendo, re-vivendo cada partezinha daquela costura bonita. Cada palavra que organicamente saía e esbarrava com a sua, e mesmo que tão diferentes, se encontravam e sabiam dizer tudo o que coubesse. Cada beijo saborosamente vivo. Cada abraço acalentador.
E no dia, que choveu demais, cê me ajudou a não afogar.
E no dia.
No dia que eu resolvi ir.
Retalhos sumiram, retalhada fiquei.
Porque eu nunca soube aguentar muito as coisas.
Você sabe. Sabe como é a confusão interna dos poetas que amam demais.
Então me diz, por que pra tão longe?
Onde não cabem mares de noites viradas, filmes de baixo da coberta, sorrisos sinceros sobre nós.
Há um fio da vida que parece que sempre vai tornar caótico os laços dos amantes que gostariam de estar juntos. e pra onde irá esse amor imenso que pulsa em nós?
Pra que cais irão as palavras sofridas
que ficam aqui
pensando
em como dizer.


Pra onde você vai?
Porque eu sei. Parece que eu fui. Mas decisões dizem tão menos
que as reais sensações internas.
Tão menos que os suspiros de saudade.
Tão menos que a vontade de estar.
Quando eu disse que acabou
foi por mal
não cabia
faltava ar
diante de tantas pessoas e vidas e amores e dores cansadas caladas , com crises de ansiedade.
você sabe.
você soube.
soube como foi
aquela madrugada
no hospital
pode ter certeza
que nunca, nunca houve tanto cuidado. nunca alguém me amou assim.
sei que tão descompassadas e completamente avoadas, essas palavras, tão iaiá, tão sem jeito. mas tão aqui.
beija flor, não criarei codinomes dos meus sentimentos, nem resguardarei tudo que posso dizer é

fica.
tem um batuque
dentro do meu coração
que faz barulho
sempre que eu lembro
da quantidade de sorrisos diferentes.

piscam olhos
beijam bocas

eu gosto do teu abraço
e gosto do dele também
e de todos os outros
mas é tudo tão único
tão esparso
tanta poesia
que sai de mim,
que até parece igual
mas eu te juro
que tem uma palavra
que muda
sempre
e uma que permanece.

que diabos de poesia é essa
que fala tanto de amor
e tanto de gente
e tanto de mim

pois é poesia
poesie-se por si só
porque hoje
palavras suspiraram
bem de leve
só pra lembrar
que estão vivas.

-mesmo que aos rabiscos.-

segunda-feira, 5 de maio de 2014



A moça rodopiava por entre todos os cacos que lhe perfuravam a pele e corria sem parar ao som da música que martelava em sua cabeça tonta de amor bêbada de risos antigos e roupas tiradas e pessoas e ele aquele o outro
tudo misturado encharcado 
cuspia palavras pra ver se assim saía toda aquela dor absurda
sem pontos sem vírgulas
sem nada
nua de cor
de riso
só sobrava os cacos
do namoro que ela terminou
do moço que surgiu
do outro que foi (há tempos)
um. dois. três. quatro. outros. muitos.
tanta gente pra pouco coração.
tanto coração pra tanta gente.
eu devo ter dois corações
ou quatro
ou um espaço de mar
dentro de mim
que apita toda vez
que amo
e encharca-me o corpo
e os cabelos que cortarei
e os seios beijados
as mãos que toquei
e cada pitada do amor que explode entre as veias dos transeuntes que passam por aqui. e minhas veias saltitadas expelindo todo sangue do mundo, traduzindo as palavras que não saem.
o sangue que escorre explica
a vida que não cabe
acaba.

sábado, 3 de maio de 2014

[feito algodão vermelho]

suspirando
sobre bocas
cálidas
cantarolando
timbres noturnos
numa dança que não tem fim

encarando
cada pitada do meu ser
e entendendo como é que fica o amor
quando se deixa
e se segue
e se encontra
outro(s)
e remexe
toda a bagunça
lá de dentro
lá dos pulsos
que explodem
acolhem
todo o sangue interno
que morre vive morre vive
expulsa
toda dor


todo amor
que há num dia
de nova(s) ida(s)
onde cabe toda a paz do mundo.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

é que a iaiá
é feito cor
feito dor
feito amor

é que a iaiá
se joga na ventania
ia ia ia
iaiá
toda enrolada
desajeitada
cheia de tudo um pouco dentro de si.

e sempre foi tanto
tanta palavra tanto vento
tanta gente
tudo num balaio dançante

explosão de vida.

-às vezes, quando dói demais, iaiá acha que vai morrer-

mas aí
vem a arte
e aquelas pessoas que abraçam

e me mostram que eu sempre estive aqui.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Pressão
feito panela que estoura bem na boca do fogão
feito história que logo no esboço explode
em pedacinhos de coração cru
sem açúcar
nem poesia

só pressão
distanciando o que podia ficar.
sobre danças conjuntas
que embarcam
delicadamente
na pele porosa e cansada
dos dias infinitos,
corrompidos
por tanta gente
e vida
que nem cabe no poema.

as danças
sobrepõem
cada corpo
tocando levemente
o sexo da menina.
dançando
na pele alheia
correndo
e tragando
todo o fôlego
escarlate
de tão bonito.

-pausa-

me disseram que o mundo parou
e foi por você.