sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

tum tum
bate coração
bate dedo
bate lábio
bate corpo
suor.

tum tum
batidas hilárias
dançantes
tocantes
de mãos
e vidas
que se entrecruzaram
na noite passada

e eram tão ritmadas
e tão sem ritmo
que nem eu as entendia mais

cada parte daquela dança
que percorria as veias
cheias de amor-vermelho
escarlate da boca até o sexo

eram pitadas de amor dele
com carinho dela
e com a graça de experimentar
agarrar
todo ar
que há
por aqui.

encher o pulmão
quase numa inspiração
de quem nasceu
novamente

pra ficar
bem de perto
do amar.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Esse post é pra narrar a sensação de alívio que eu tive em não ficar calada em situações machistas e invasivas que ocorrem todos os dias com nós, mulheres.

Dá primeira vez estava subindo a passarela perto de casa, e tinham dois garotos passando, um deles virou pra mim e disse com um olhar completamente malicioso: ''ei, quer uma chupadinha?'' Naquele momento eu já tava irritada, porque alguns minutos antes deu subir a passarela, eu havia passado em frente a uma borracharia e um dos caras tinha falado ''ei, parabéns hein bonita, parabéns'' Então, minha cota de irritação já tava alta. Quando o cara da passarela proferiu sua pergunta estupida eu não aguentei, virei e disse: ''Não, não quero! E olha, se você acha bonito ficar abordando as mulheres assim na rua, saiba que não é. Eu e nenhuma mulher precisamos desse tipo de coisa no nosso dia. Palhaço. Machista!''
A princípio ele deu uma risadinha, mas quando viu que eu não ia parar de gritar com ele, ele ficou quieto, olhou pra mim e seguiu em frente com o amigo. As pessoas na passarela me olharam um pouco assustadas, mas eu até cheguei a ver uma garota do meu lado abrindo um sorriso pra mim e aquilo me fez sentir que eu não tava sozinha nessa.
(Senti alívio)

Da segunda vez eu estava descendo uma rua tranquilamente e passei em frente a uma escola de crianças deficientes, ali tinha um senhor de aproximadamente 50 anos, ele virou no momento em que eu passava e falou bem baixinho: ''ei, gostosa.'' (eu ignorei) Ele foi se aproximando de mim e falando um pouquinho mais alto: ''ei, você mesmo, bonita hein. fala sério que gostosa'' Nesse momento eu virei pra ele e falei: ''O senhor tá achando o que? Tá realmente achando que pode me abordar assim na rua?''
Ele então saiu andando bem rápido, entrou na escola e eu entrei atrás dele, continuei falando várias coisas e apontando pra ele. Ele ficou com tanta vergonha (imagino que por conta dele trabalhar ali e as pessoas da escola estarem olhando pra ele) e entrou no banheiro. Foi andando, agindo como se eu não tivesse falando com ele, entrou no banheiro e se trancou lá. Eu saí da escola. E continuei meu caminho.

E bom, estou relatando isso, porque nunca, eu nunca de fato falei algo pra esses caras que ficam mexendo conosco na rua, e eu sempre me senti muito mal e extremamente triste por isso. Mas depois da primeira vez, eu percebi que eu posso sim virar e dizer pra ele que eu não tolero esse tipo de comentário. Que eu quero poder andar em paz na rua!
É claro, que só tenho gritado e dito as coisas em situações que eu percebo que não corro risco de sei lá, o cara revidar. De qualquer forma, estou relatando isso aqui, porque eu sei que tem muitas mulheres que vão ler esse post, e pra mim é de extrema importância compartilhar com vocês o quão aliviada eu fiquei eu poder gritar pra esses caras que NÃO eu NÃO SOU UM OBJETO. Que eu dispenso qualquer atitude machista. E que eu luto contra isso.
A princípio, quando você sai andando depois de falar/gritar, dá um pouco de raiva e tristeza por ter que gastar energia com isso. Mas alguns segundos depois, você se sente muito mas muito aliviada, muito mais do que estaria se tivesse ficado calada.