domingo, 30 de junho de 2013

iaiá tinha o coração maior que ela mesma
iaiá era incontrolavelmente amante da vida
iaiá amava, e era simples assim.
amava as flores, as árvores , o sabor de frutas mordidas
a noite. o dia. os mais singelos momentos.
amava rir até doer a barriga e chorar como se a dor fosse durar pra sempre.
iaiá se enroscava nela mesma, no balaio dançante de todas as noites
iaiá era tão iaiá que nem eu entendia mais!
não entendia, porque iaiá sempre foi de sentir, não de entender.
iaiá construiu um castelo noite passada, e tá se retirando, pra bem longe
pra onde tem tanto amor que chega a explodir.
otávio dançou
otávio cantou
otávio gritou
no passado

otávio fará
otávio verá
otávio , será?

ô otávio, onde cê tá?
onde cê foi?
donde cê veio?

otávio aparece!
amando, otávio, amando
aparece pra mim
aparece pro mundo
e vem viver de gerúndio. vem.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

maria pintou o rosto
maria pintou a roupa
maria pintou-se inteira
pra ir dançar 

maria maria sabia de nada
pôs o coração na varanda
e desenhou um novo
no mesmo lugar
pra ir dançar

maria , ô maria
fingia de poeta
fingia de maria
fugia de si mesma

maria acordou
no meio da dança
suada
cansada
calada

e viu que tava faltando

uma pitada de amor.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Reviravolta

Ouça lendo: http://letras.mus.br/regina-spektor/1496412/traducao.html#legenda (ou não leia)

Estava lá, trajando um belo vestido branco, como da primeira vez. Batom vermelho, coração cheio e sorriso estampado. Estava lá, trajando um blusão quentinho, como da primeira vez. Rosto misterioso, coração intenso e palavras sinceras. Era um dia desses, de inverno gostoso, não tinha chuva, só um céu bonito, e os dois. Esquentavam-se apenas com a presença um do outro. Formavam quase um corpo só. Um corpo tão feliz. Parecia que haviam esperado anos por aquilo. E era tudo tão bom. Estava lá, e eram meses que pareciam séculos na memória daquela menina. Estava tudo lá. Num passado que ia se tornando a cada dia mais distante. Primeiro foi uma semana, depois duas. Agora, quase um mês. Ou talvez, ela tenha se perdido na cronologia diária, porque cada restinho de memória ia se perdendo. Perdia-se tanto quanto essas palavras. Ela nem sabia mais escrever. Rompeu tudo. Desde aquele dia, ela parou de escrever. Esquivou-se do sonho de fazer um livro. Criou um campo a sua frente, e foi-se embora. Sem nem saber pra onde.

Um dia desses, ela estava lá, seus pés pisavam ladrilhos azuis, e expelia sangue, aos poucos, a cada passo, uma palavra perdida, um corte feito. Eram pontudos e perfuravam a pele com força, sim, a moça já nem sabia o que era pele e o que era corpo. Tudo esfacelava-se. Tinha pó por todo canto, roupas caídas, fotos rasgadas, e ela cuspia pra fora, uma montanha de sentenças. Pra que em algum momento, pontuasse uma sentença final.
Era um redemoinho de sensações. Seus pulsos estavam quentes, e seu coração batia numa velocidade que atravessava o tempo comum. A moça corria como nunca havia feito antes, os cabelos esvoaçavam conforme o vento tocava-lhe o rosto. Uma trincha de sol iluminava seu corpo machucado. Escorregava, pois seu corpo não aguentava mais parar em pé. Sentia as pontas dos ladrilhos perfurando-lhe inteira, dilacerada junto com seus pensamentos que não possuíam pontuação.
Nada importava. Ninguém entendia. Não havia céu. Nem voz. Ela gritava. Esperneava pra alguém. Mas nem os ladrilhos azuis mimetizavam-se pra ouvi-la.

Estava embriagada de lembranças, e infelizmente, por insanidade e (amor demais), ela não soube mais escrever. E já que, as palavras eram ela, porque era assim que se dava o corpo dessa menina, formava-se por pontos, exclamações e tentativas de palavrear. Já que não havia mais verbo, nem sujeitos. E tudo estava bem longe de ser qualquer conto com final feliz. Essa moça, afogada em absinto e clamores internos... Se rendeu, aos ladrilhos azuis, cujo sangue perpassava e tornava-os roxo.
E eu vos digo, era tudo roxo demais, pra conseguir verbalizar.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Sobre ontem, sobre muita coisa.

 -porque foi grande-
 
 
 
Foi lindo. Lindo mesmo. Ver o sangue que pulsava em todos aqueles corpos juntos. Que vibravam vozes, da onde emergia uma energia que eu não sentia faz anos em nenhum outro ato. Pois é Brasil, tomou a dimensão que tomou, por nós. Fomos nós que fizemos tudo aquilo. E justamente pelo fato de que fomos nós, fico me perguntando qual é a coerência de pessoas que defendem o não levantamento de bandeiras de partidos no ato e chega...m a depredar, a arrancar bandeira da mão do militante. E não tô dizendo isso da boca pra fora, porque eu vi do meu lado gente arrancando bandeira do PSTU da mão do que segurava e esbravejando "sem partido, sem partido". Cara, pra começo de história vou deixar claro que não sou filiada a partido nenhum, mas sinceramente, como um companheiro disse "Manifestação não é um mero passeio na rua, é sim um momento de nos educarmos politicamente.'' Portanto, eu esperava que no minimo as pessoas tomassem consciência de que sim se o partido é favor da luta, ele vai estar nas ruas, ele vai levantar a bandeira em prol daquilo. Seja o PSTU, o PSOL ou qualquer outro que estivesse lá. Estranho seria companheiros, ter uma bandeira do PSDB no meio daquela energia linda que conseguimos criar. Agradeceria se os que se dizem apartidários e depredam bandeiras alheias fossem no mínimo pesquisar a respeito do histórico do partido e tivesse a noção de que a rua não é sua, e usando até o que vocês mesmo dizem: A RUA É DO POVO SIM. E TEM POVO que se expressa por partido.

Partindo pra outro ponto, sinceramente, eu não ia cantar o hino nacional e glorificar um Estado que reprimiu de forma grotesca os atos anteriores e que age de forma truculenta com a população desde de sempre. Ou não é por isso que estamos as ruas? Sim, a pauta é aumento da tarifa. Mas sinceramente, vejo que o ato só tomou as dimensões que tomou porque tá todo mundo cansado, foi o estopim pra que as pessoas saíssem às ruas. Num mundo de exploração, muita causa é causa, companheiros.
E lembrem-se, agora a causa é a tarifa , mas ainda temos muita muita luta pela frente!

E por fim, queria agradecer a TODOS que estavam lá, aos companheiros do Juntos! (coletivo que faço parte) e um adendo especial a Sofia e Ellen que num momento (depois de andar quilômetros a pé) eu passei muito mal, quase desmaiei, e elas juntamente com muitas mãos que eu não consigo lembrar quais eram, Sâmia Bonfim, Gabriel Caetano foram as poucas que eu lembro, pois afinal, eu tava vendo tudo embaçado, rs, quero agradecer, mesmo, por me ajudarem. E algo que me emocionou muito foi uma moça que estava ali por perto, viu que eu estava passando mal e ofereceu o apartamento dela pra eu ficar um tempo, sim, ela abriu as portas pra alguém que nunca tinha visto na vida. E são essas coisas, esses detalhes, que me dão força pra seguir. Agradeço também pela agitação de Claudio Ramalho, Mariana Ortiz, Cindy e galerinha que tava ali tornando nossos momentos de cansaços extremos muito mais alegres!!! E a minha querida Ana que tava do Rio de Janeiro se comunicando por sms comigo!
É bom frisar também o meu NÃO agradecimento a uma mídia manipuladora e golpista, que a dias atrás estava resumindo o ato a "um bando de baderneiros" e a agora , quando não havia mais forma de esconder, começou a mudar seu discurso. Meu NÃO agradecimento também aqueles que quando a mídia estava cuspindo seu discursinho contra o ato estavam também contra nós, e que agora magicamente vieram dizer: ''oh, mas até que a causa é justa". Puta merda. Parem de ser manipulados por uma rede globo e abram um pouquinho a mente de vocês.

É minha gente, parece que o povo tá acordando.
Obrigada, a todos que começaram a sair da cegueira diária que vivemos.
Que estejamos juntos. E que não paremos!

segunda-feira, 10 de junho de 2013

menina de prosa.


Esses dias eu quis fazer um poema
mas descobri que não sei fazer poesia
muito menos pulverizar
a quantidade de palavras
que perpassam minha mente
sabia que se eu usasse um pouco de pê
daria um som bacana
mas, poxa, pê não pontua tudo
minha mente se faz de tudo quanto é letra
aqui é mente de texto corrido
de rabiscos, contornos e cores
mente que pulsa para e anda
mente de quem é da prosa.
Pois então em prosa-verso
tento aqui poetizar,

porque de poeta tenho apenas:
amor e muito a falar.
Eu existo no amor. No amor por toda cor. No amor por todo cheiro, todo gosto, todo rosto. Eu existo. E você? Aliás, na confluência diária de pessoas e acontecimentos, qual é o exato segundo que você para pra pensar na sua existência? Hoje eu parei pra pensar, e descobri que apesar de tudo, o âmbito da minha existência se dá no amor. E isso inclui você, o moço da banca de jornal, a professora inesquecível da quarta série, o beijo roubado, o corpo estirado e junto, os frenesis sentidos com o amante, inclui tanta coisa! Inclui o mundo. Pois então, posso dizer que existo no mundo? Mas calma lá, mundo é amor? Reflita. Porque aqui, nem quem escreve consegue parar pra pensar no que se diz. Acho que isso é coisa de quem existe no amor, essa coisa de falar sem parar, de ser sincera no sentido mais lato da palavra, de amar as pessoas por inteiro, de viver memórias, de criar palavra onde não tem e de entender que nem tudo precisa de explicação. Onde vê-se que dizer e escutar, é necessário. Onde sentir, basta. Sinto-me completa no meio da conjunção frenética que me encobre. E de mansinho, sinto-me no direito de te pedir, pra vir viver no amor também.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Percebemos que não nos desvencilhamos na totalidade de algo, quando insistimos em revirar tudo o que já foi dito, quando mesmo depois do fim a gente insiste em contar a história pra mais umas dez mil pessoas, pra ver se ajuda a passar a dor. Temos a mania de nos livrar das lembranças assim, revivendo-as, relembrando-as, falando a respeito delas até que um dia, canse falar. Até que um dia, revigorado, a gente sinta na pele: Fim.

terça-feira, 4 de junho de 2013



Disseram-me uma vez que o céu estava engarrafado, pois então resolvi olha-lo e vi que ele tava sim, sendo sufocado pela pressa da manhã, eram tantos pés sincronizados, tantas mentes atreladas ao relógio, um vai e vem de gente e iam se esparramando pelo asfalto junto à poeira asfixiante, às bitucas de cigarro que ainda exalavam o cheiro de pulmão paulistano. Bocas acordando, buzinas a falar, olhares passando despercebidos. Vives correndo. Morrerás às pressas também? E céu estava ali, engarrafando-se, perdendo-se em meio a todos nós; estava quase ficando cego ao ver a nossa cegueira diária... 
Mas o sol estava ali também, misturando-se ao azul do céu e lhe cedendo calma. Tava ali, parado, apenas refletindo seus raios matutinos em nossos fios de cabelos amanhecidos, perpassando nossa pele que se desgastará com o tempo junto com as solas de sapato que continuam andando sem parar. Sem parar pra ver uma luz que está ai todos os dias, ora a noite, ora de manhã ou no sorriso de alguém, no conversar do pipoqueiro, no toque do amante. Uma luz dentro de mim, de você. De todos nós. Uma luz despercebida.