quinta-feira, 31 de julho de 2014


desculpa moço,
pensei
pensei
e descobri
que não sou poeta.

não sei fazer
poemas quentinhos
que afagam
e suspiram
notas musicais
confortáveis.

não sei de versos
que acolhem
e abraçam
ficando
bem pertin

talvez seja porque sempre
despem minhas roupas
arrancam minhas tristezas
conjuram meus poemas
me enchem de paixão

e
um segundo depois

desistem.

talvez seja porque
não sei fazer poesia mesmo

talvez seja porque
palavras não foram feitas pra esquentar

mas sabe
quando pensei
em versos quentinhos
pensei na gente
numa cama com várias cobertas
nos esquentando
com a boca
olhos
mãos
pulso
coxa

tudo!

pensei também
num dia de praça
violão
e friozin
que nos obriga
a ficar bem perto.

pensei
pensei
e descobri que não sou poeta
de versos quentes
muito menos coerentes
e metricamente bonitos

pensei
em te agradecer
por me esquentar
pós-tantos-versos-frios

e te dizer
que você
não precisa
ter medo

não sou poeta
nem tenho versos lindos
mas tenho amor
abraços honestos
beijos que sentem
dias que esquentam
versos que caem
procurando
um fim
mas,
sempre
que pensam em ti
preferem terminar
mimetizados
em pensamento
de dias musicalmente
bonitos.

terça-feira, 29 de julho de 2014

explosão
confusão

decisão
corre
na contramão
do desejo

brinca comigo
poema
como se houvesse
segurança nos meus versos tortos
por favor
poesia
pontue-me algo
no emaranhado
de reflexão
que pulsa
para

pera

como prosseguir?

lembranças
frouxas
perpassam
a poesia que não sai

inseguranças
tolas
decidem
indecisões

confiança?
esperança?
inconstância
de memórias
das histórias
que não deram certo.

poema
encontre um jeito
de terminar
dentro de mim
e me trazer o afago
das palavras honestas
que não querem fim

poema
grita grita
grita pra mim
qualquer coisa
sobre esclarecimentos
sobre histórias boas
e sinceras.

fala de qualquer coisa
que não seja dor!
fale-me de versos
que mesmo incertos
têm coragem
de sair
e ficar

mesmo que aos garranchos
como esses aqui
que escorrem
feito chuva
tempestuosa
de pensamentos.
restituir
incluir
refazer
por
você.

observar
entregar
abraçar
por
nós.

recolher
aprender
dizer
algo
que
dure
mais que um verso de saudade.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

amargura. amar dura(?)
sem armaduras,
ando
amadurecendo.

amar: dura: sendo.
preciso
de um chão
um teto
uma cama
que seja
uma mão
mas preciso
de alguma segurança
uma palavra sequer
que expresse
o que tá sendo
tudo isso pra você.

diante do meu histórico
preciso disso agora
e sei que se eu colocar;
diante do seu histórico
assustará.
mas não dá.
s'eu te perguntar te deixará inseguro
s'eu não perguntar me deixará insegura
e não posso me anular
por ti
mas posso adaptar
na calmaria
que desejamos
e precisamos
agora.

não sei se eram momentos tão oportunos pra chegar
mas com toda certeza, as energias foram as melhores
que podiam vir.

gratidão
por me fazer sentir de novo
porque eu jurava, que eu nunca mais ia me permitir.

e eu só
quero saber
como tá sendo pra ti
não tô pedindo definição
nem concretude de palavras
dizendo o que você sente.
só preciso
perguntar
se você
assim como eu
também
deseja
fazer
isso durar.


medo

cedo
esqueço
do medo.

volto

recordo
a história
passada.

medo
provém
de lá.

medo
provém
de marcas
que ficam
dentro de nós,
traumáticas
espásticas
catárticas

explodem!
mas por favor
explodam pra longe...
longe do novo espaço
que surgiu
e
mesmo
com meu medo

me lembra sempre
que é novo
e não passado
que é ele e não o outro

e ele
aaaah!

fica
respira
retira
um riso
de mim.

domingo, 27 de julho de 2014

poeta torna tudo poesia
do riso ao choro
do amor ao fel

poeta,
poderia aprender a amar menos
mas poeta para de amar
só no fim do poema.

pois é,
não ache
que porque escrevo
escrevo só pra ti
poeta
escreve pro mundo,
pode-se dizer
que explodimos
em palavras
pulsamos
em sensações internas
que correm imensamente
dentro de nós
e hora saem poesia
hora não saem nem perto
de verso.
diverso
somos diversos
e feitos de versos
que ver-si-ficam
atente a última parte
f i c a m
em toda poesia
que couber
um pouco de amor.

a gente
se estrupia
faz verso torto
mas continua
se jogando
na arte
na vida
no que couber
o mar
que há
dentro de nós.

e como já dizia meu amigo poeta:

poeta, não aprende nunca!
eu te vi
te despi
te comi
com olhar.

eu te vi
te chamei
te tirei
pra dançar.

eu te vi
te ouvi
te contei
sobre amar.

bem-te-vi
nós nos vimos
nos ouvimos
nos falamos
e amamos.

só não te vejo
num poema infinito
porque me disseram
que tudo
mesmo que lindo
é findo

feito poesia
que vê
sente
e morre
no último verso

mas eu te peço,
me veja numa prosa
porque com ti
aprendi
que ver
e sentir
basta
pra ir.
Haveria então espaço para viver o que há de mais belo?
Do beijo ao pulso.
Do sexo à palavra.
Do abraço ao olhar.
Das mãos ao toque. Toque-me. Abrace-me. Fite-me.
Esteja e
fiquemo-nos.
Leve, perto. Sem explosões momentâneas.
Algo que nos dê espaço e riso.

Visto que
a vida é dura
e cheia de empecilhos
rasgos antigos
dores passadas

Visto que
estou aqui
e você aí
e estamos

podemos então
aproveitar?

visto que
gosto de ti
gostaria de pedir
pra você
ficar.

sábado, 26 de julho de 2014

danças sobrepostas em dias sobrepostos
imensamente vivos.
corpos sobrepostos
vidas sobrepostas.
sobre(ponho) riso
onde há dor.
sobre ir
sobre vir
sobre nós
a sós
numa cama
onde escorre
amor.
sobre estar
somente
sussurrando
um pequeno poema
pedindo procê
ficar.
sobre viver

sobreviver
sobrevivo
na poesia
que vira vida
e na vida que vira poesia
com palavras que sabem viver.


terça-feira, 22 de julho de 2014

permanecer
no teu corpo,
sobre ele
renascer
dos dias de fatiga
do passado rouco
cansado , louco.

estar
no teu corpo
sobre ele
ficar
durante noites infinitas
em dias de amor
de presente sincero,
espero.
Você vai vir?

Você veio
e viu
vontade
vermelha,
suspiros
sinceros
sobre
si.
gemidos,
gestos
juntos
sobre
nós.
ternura
toda
tingida
de tudo.
tem como
ficar?
por favor
com amor,
fica.
O medo bateu na minha porta hoje. Entrou, com tudo. Maldito.
Medo provindo das marcas absurdas que deixaram em mim. Opressão. Confusão. Dor. Rasgo profundo no peito. Palavras cuspidas com todo o fel do mundo.
E.
Aí. Hoje, quando você me chamou pra estar ali
com pessoas e momentos bons, e você.
Eu.
Medo.
Demais. Tá enorme aqui dentro. Mas eu juro que tu tô tentando deixar ele ir. Estou tentando ir. E seguir. E viver tudo que couber.
Tô tão engasgada, sabe? 
Eu tenho medo de me apaixonar por esse sorriso lindo. Tenho medo de me entregar pras pessoas, desde que... Houve passado. E pessoas passadas que causaram dores tremendas. E aquela específica. Que veio, ficou de todas as formas e na hora que eu resolvi ir embora, eternizou em guerra tudo de mais bonito que havia, quando eu só precisava da paz do fim.
Marcas. Marcam lá no fundo do âmago e perpassam o corpo todo.
E agora
com novo corpo
e novo beijo
e é tudo tão novo
tudo tão nosso.
Pera. Posso usar... nosso?
Não sei o que posso usar. Nem em quem acreditar. Depois dele, rompi um laço de confiança com o mundo.
Perdão. Hoje eu cogitei ir embora. Pra bem longe
de qualquer coisa que possa existir.
Mas foi quando eu vi
que já existia
não sabemos o quê
nem como, nem pronde vai
mas tá aqui pulsando
sendo
de uma forma um tanto acolhedora e graciosa
e ah...
seu sorriso.
deixa ao menos seu sorriso ficar;
que eu prometo que eu sigo
e deixo o medo pra bem longe de nós.


Contorna
meu corpo
através da boca
que docemente
percorre
os traços
que diariamente
se perdem
em meio
a correria
o cansaço
o barulho
confusão!

e quando
você chega
suspira ao pé do meu ouvido
me chupa com os olhos
e seus lábios
correm
escorrem
em mim
e meus lábios
procuram o seu
e nossos lábios
se encontram
beijo
pulsa
tesão
pulsa
a gente
pulsa
porque vivos
estamos
sorrindo
só ri
e anda
pronde a vida desejar.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Verbos. Instantes. Correm. Tudo sempre corre por aqui. E eu, perdida, busco em palavras encontrar uma pitada de sossego pro meu coração explosivo.
Coração esse que não consegue acautelar-se e sempre atropela... vírgulas, pontos, sentimentos. Coração bagunçado, e bagunceiro. 
-Acalma-te, sossega-te. 
Nem tudo está perdido, o vento me sopra ao pé do ouvido.
-Me da um pouco do teu vento! Me diz palavras honestas. Fica. Por favor.
Vem tomar um banho de cachoeira comigo e me banha inteira
e me molha
toda.
Suplico-te, me empresta um pouco da tua cor, pra que eu possa sorrir de novo. Não fujas, não esqueças que ainda prossigo aqui, esperando a bonança, à qual tenho esperanças que chegue, e enfim eu mergulhe nela. Impávido.

-Sou tua. Mas, somos livres. Você sabe. Sempre soube, que meu amor é teu. E que te empresto todas as cores que quiser. E a esperança...
Desencadeavam-se palavras e pensamentos nos dois. Ele, longe... Tão longe que a moça não conseguia nem mimetizar a ideia de um abraço, porque quilômetros o separavam. Ventava tanto pelos lados dela, e ela só queria um abraço pra esquentar e dizer: calma, eu tô aqui.

Um abraço que pudesse trazer uma segurança mesmo que mínima, um aconchego mesmo que vago, um sorriso mesmo que tímido. Mas pra ela abraços físicos não eram suficientes. Ela queria abraçar a alma dele, o coração dele. Hoje, amanhã e depois.
Mas essa distância apunhalava seu coração já frágil e machucado e balançado por furações de outrora. Ela queria a paz, e sabia que só com ele à teria. 
-Então por que tão longe, deus do céu? Só queria entender!- disse isso no mesmo instante que uma lágrima caiu na sua mão esquerda.

Caíram. Litros infinitos de choro. Cachoeiras, mas não daquela que ela havia falado pra eles se banharem.
Escorreram, todas, enormes...
E moço lá de longe limpou-as com um sincero:
Eu te amo.

Por: Inaiara Gonçalves e João Ricardo Würch Selbach
[isso não é um poema]

fechei os olhos
e o sono já me tomava por inteira
algo dentro de mim me incitava a escrever
tava tudo tão bem
tão bonito
tão vivo
que sempre que eu lembrava dos fins
me dava um medo imenso
os fins martelavam
numa recordação
constante

não. esse não é um bom poema.
não chega nem a ser um poema
vai ver,
foi porque falei dos fins
e não de ti
e de como
é bom te beijar
e te abraçar

e eu te juro
que não sei direito
tipo assim, nada.
mas sei
que sempre gostei
de amar
seja lá como
seja lá onde
sempre
há espaço
pro amor
mesmo pós-dor
imensa
e eu te digo, foi tão imensa
que eu nem devia estar aqui
mas você
conseguiu
fazer com que eu conseguisse
me abrir aos poucos novamente

na verdade
eu consegui
e você ajudou
com esse sorriso lindo
essas prosas infinitas
as risadas
e sempre que ouço
aquela música
consigo mimetizar em minha mente
cada partezinha de você.

você tem razão,
eu sou estranha
sou diferente
sou tudo isso mesmo
que tu disse

pessoas que amam demais pessoas
soam estranhas hoje , não é?

desculpa, mas eu não consigo amar menos
esse mundo que é imenso de pessoas-amor
que me fazem seguir
mesmo em meio ao caos

e você
eu te juro
que você é tão estranho quanto eu
só que ainda
não descobriu
o quanto de amor que tem aí.

esse poema
parece que não tem fim
as palavras escorrem
e são tantas
confusas
imensas
dentro de mim.

pera. não é um poema.
é só
pera.
é só
uma vontade de dizer
que eu

gosto

de ti.


quinta-feira, 17 de julho de 2014

destroços
-acasos-
pedaços
roubados
do meu coração.


somos todas fridas
sofridas 
caladas
cansadas
de tanta
o(pressão) 

somos todas lindas
fortes
imensas
queridas

e juntas
somos todas
fridas que fortemente lutam
por mais voz
e espaço
num mundo
onde o machismo
pulsa
repulsa! temos repulsa à qualquer forma
de opressão provinda de qualquer pessoa

portanto,
não nos calaremos
gritemos!
e firmaremos passos
nós, mulheres fortes
vivas!
como flores
robustas
em um novo jardim. 


abri a janela de manhã
e o céu tava todo amarelado
minha mente, confusão
minha boca, saudade
meus olhos, sós
miravam o céu aberto
e lembravam
de todas as bocas
e sabores
dos corpos
que passaram
por aqui
conjugando versos
colando peças quebradas
tirando minha roupa
ficando
indo
deitando comigo em noites infinitas
escrevendo comigo em versos infinitos
sem métrica
sem rima
nem pontuação
só reticências
amor
e gosto doce
pairando em nós
o primeiro
o segundo
o terceiro
romperam
se foram
ficaram
me amaram
disseram
que cabia,
mas não coube.
o quarto
o quinto
o sexto
tantos
nem sei
não sei mais de nada
não sei mais escrever
nem conjugar verbos
muito menos falar de amor,
só sei me jogar de cabeça
no céu amarelado dessa manhã
que sem ritmo
pulsa
até que eu me esqueça
de nós.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

- Moço, me ajuda, por favor. Me ajuda a entender porque é que as coisas explodem tão grandemente dentro de mim.
Me ajuda a entender porque tudo é tão difícil, tudo tão complicado, porque todas as barreiras parecem ser intransponíveis. Porque eu tento, tento e nada parece ter resultado. Porque eu sou tão... tão assim, sabe?

O moço fitou a menina e pensou em o que dizer. Mas não saiam palavras. Então, abraçou-a.
Deu-lhe um abraço forte, acolhedor, abraço repleto de carinho, o qual proporcionou um raro e breve momento de segurança à menina, que percebeu enfim que podia contar com ele, que não estava sozinha. Mas, ainda assim, ela se culpava. Julgava-se como a responsável por todos os problemas que se passavam, menosprezava-se. Mas viu nele uma luz, quem sabe um norte.
Um ponto de amor num mundo tão solitário. 
Os dois então resolveram ir ao quintal colher amoras na árvore antiga que havia ali.
A menina, logo após colhe-las, escolheu uma e amassou-a com o dedo indicador, deixando-o todo avermelhado, tocou levemente na boca do moço que logo avermelhou-se também, feito tinta vermelha que escorre e pinta.
Eles sorriam e deliciavam-se com aquele suco da amora. Ela sentiu em seu peito uma alegria que era tão rara, tão única. E era ele, aquele moço, que a fazia sentir assim. Ela pensou em beijar seus lábios, mas esquivou-se. Sentiu vergonha, talvez. Ou medo de ele não aprovar. Quem dera esse moço fosse meu, pensou.
Os dois cheiravam à amora. O moço com a boca toda avermelhada se aproximou da garota. Bem de perto, sentiu sua respiração. Fitou-a. E lentamente tocou-lhe os lábios. Bocas avermelharam-se, juntas. 
Aquele beijo sensual envolveu-lhes, de modo que pareciam estar num mundo em que só eles convivem, tamanha a sintonia e tamanho o amor que brotou. Suspiros. Abraços. Mãos. Boca. Corpos enrolaram-se debaixo do pé de amora. Amorando-se.

por: Iaiá Gonçalves e João Ricardo Würch Selbach

terça-feira, 15 de julho de 2014

amigos?
amantes?
ficantes?

instantes
perpassam

confusão.

não defina
não exclua
possibilidades.

idades são feitas
para seguirem
confluências.

pessoas
encontro
prosa
beijo
abraço
medo
não.
não tenha medo
deixa ser
e couber
o que vier
pra ficar.

respirar.

caso
acaso
laço

desfaço

refaço
nós

impeço
fim
desejo
sim

segunda-feira, 14 de julho de 2014

cabe
a
antes
do mar

cabe
ser
antes
de ter

cabe
verso
antes
do fim

cabe
nós
antes
de sós?
Um riacho
acho
que consigo passar por ele
embora aja a tal da pedra no meio do caminho

mas em todos os caminhos têm pedras,
basta que as transpassemos,
independente dos seus tamanhos e imponências
são só pedras
assim como flores, são só flores
e vidas, são só vidas
e sonhos, são só sonhos
e nós, somos só nós
em nossas peculiaridades vagas
em nossos desejos ardentes

somos seres, que pensam
e inventam
se estropeiam
passam fome
fazem rasgos
trocam dores
odores humanos
escorrem em minhas narinas
perfuram meu coração
batem forte no meu peito aberto
cortam fundo
cicatrizam
e criam um nó cego
entre eu, meus sonhos
e minhas mazelas
que perduram
em versos infinitos.

por: Iaiá Gonçalves e João Ricardo Würch Selbach
flor
raiz
por um triz
quase queda
quase quebra

insistências, tentativas vãs
reminiscências, pessoas sãs

lembranças
de quando
fomos insanos
lembranças de tempos
que julgávamos áureos
lembranças de abraços
sem rumo e porquê
lembranças...
uma lágrima caiu
misturou-se com a terra
e da lágrima caída
brotou
uma flor mirrada
mas de beleza ímpar
flor que parecia estar
sorrindo
enquanto suas pétalas
ondulavam ao sabor
do vento
ventania
ia
meu corpo ia
feito flor
que acabou de nascer.

por: Iaiá Gonçalves e João Ricardo Würch Selbach

domingo, 13 de julho de 2014

uns se jogam
outros fogem
uns se entregam
outros param

vi uma flor de girassol ontem
lembrei de você,
que me jogou um beijo
e fugiu.
que me entregou a flor
e parou.

perpassa os meus versos
foge.
discorre sobre nós
para.
conjura meus poemas
hesita.
tira a minha roupa
sorri.

costura os meus dias
logo,
habita minha cama
fica.
conturba minha mente
merda.
se entrega
de verdade
vai!

cheguei
tremi
exitei

fui.
voltei
pensei.
te vi
corri,
fiquei.
retalho
espalho
retalhos
por aí

beijos
que costuram
abraços
que enlaçam
conversas
que esbarram
dias
que estendem
momentos
que acabam
noites
que divertem
gente
que esquece
camas
que nos juntam
tempo
que escorre
na vida

que surpresa.


sexta-feira, 11 de julho de 2014

foto por: Gabriela Frigo

como num furacão, a arma disparou. e saiu pétala pra todo canto da cidade. enormes, esvoaçavam conforme o vento e cobriam tudo quanto era corpo. matou muita gente. uns, morreram asfixiados pelo cheiro primaveril, outros, pela coloração. Eram margaridas de enterro. Daquelas que se coloca sobre o caixão, pro morto ficar mais bonito.
Eram todos vivos-mortos naquela cidade de pedra. Sangravam por dentro e cheiravam a azedume de cansaço. Só faltava o caixão.
Dois tiros.
E das flores atiradas
nasceram outras na rua
como aquela do Drummond
que brotou do concreto pútrido ríspido sujo
e fez o mundo virar jardim.


foto por: Gabriela Frigo

caiu
pintou
feito pincel 
cuja tinta vermelha
escorria pela parede branca
e pelos corpos dos transeuntes 
que em meio ao concreto incerto 
esbarravam um nos outros diariamente
e avermelhavam-se 
por entre as sombras da c(idade) de flor.


Palavras de maré cheia.


Pequenino, embarque no portão da minha casa; entre: a porta tá aberta.
Embarque nas confluências das nossa conversas, que hora travam, hora estendem-se. Embarque no silêncio dos nossos olhos, que quase não se viram ainda. É feito nuvem imensa que percorre o céu donde caem gotinhas. Quando eu era pequena, achava que as nuvens choravam. Cresci e descobri que quem chorava mesmo, éramos nós. 
Não houve mar suficiente pra nos deleitarmos de verdade um no outro, sentir a pele colada, o cheiro da chuva de suor que nos enrolaria.
Embarque na minha cama. Vem. Ser. Ventania.
Cadê a maré? A maré cheia de riso, de troca, ideias. Começo.
Quero um mar imenso, feito meu coração. Caminhemos sobre areia, num pôr do sol qualquer, que deixaria de ser qualquer, caso fosse nosso. Umas palavras confusas. Sim, eu já te disse, sou confusa. Tem tanta palavra aqui, tanta maré passada, tanto sal, água... Chove.
Me expresso demasiadamente e explodo. Explodo por dentro, explodo de cores, de história, de amor! De vida.
Viva.
Estou viva e você também. E estamos. E há mar! 
Amemos.
Diria que
só falta o céu aberto
coragem nas mãos
coragem no pulso
coragem!
e ir
se quiser
e couber
maré. 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

as constelações humanas retorcem nos vagões apertados de metrô
tosse.
gripe.
hepatite.
enxaqueca.
rinite.
sinusite.
bronquite.
astigmatismo.
miopia.
propensão a ceratocone

contorcem todos eles, amontoados respirando o ar alheio
suspiro
retorço
torcemos todos pra fugir dali, não é?

''Próxima estação, Sé. Desembarque pelo lado direito do trem''

Corre. Corre. Olha o relógio. Suspira. Evita o olhar alheio.
Segura a bolsa mais forte, assim que vê o pedinte de rua...
Logo ele vem e diz: ''ô moça, tem uma moedinha não?''

Finge que não escuta. Aperta o passo.

Escureceu.
Escureceu dentro dos olhos de todos nós. Cegueira escura, diária e transitória. Vai e vem, todo dia. Acorda. Toma café. Pega a bolsa. Entra no carro. Liga o rádio. Trânsito. Pane. Gritos por conta do cruzamento fechado.

Fecharemo-nos pra tudo que vier do outro?

Onde caberá n ó s?

Fecho a pálpebra das palavras que me fogem e dizem roucas.
Engasgadas.

Afastando-me das palavras conturbadas,
vejo que só me resta pedir
pedir encarecidamente que fiquem
que toquem
que vejam
que amem
agarrem!
o brilho imenso
do que somos juntos.
recolhe
tua palavra
e abraça
os verbos
da saudade
pra ver se assim
encolhido
na poesia
você se encontra
e resolve
achar
um verbo
que fale
sobre
seguir.
falta pão
falta água
falta luz
falta escola

dói
e não tem remédio

vazio
e não tem ninguém

vejo os olhinhos do menino
que empina a pipa lá no morro
e olha pro céu
desejando-o
tão azul
tão imenso

ele só queria
conseguir respirar
feito as nuvens lá de cima.
foto de: Gabriela Frigo 


la vie
le fleur

rouge

rugiram

em mim.


terça-feira, 8 de julho de 2014

A origem da chance que baila ao vento de nós.

Um dia, talvez um dia estarei longe dos cacos de vidro, esses cacos que pungem, retos... rotos. Velhos, fortes.
Longe deles nascem flores que pululam os jardins corpóreos dos dois. Não sei, creio que sejas primaveril. 
Faz menção às luzes leves em teus sonhos mais íntimos, mais risonhos. 
Ah, os dois... Tão longe, e tão perto... tão certo. Incerto. Mencionemos então certa palavra que nos ajude a mimetizar a dor da saudade e nos leve pra perto de alguma coisa que nos assegure.

Ao menos um chão, onde possamos apoiar nossos pés cansados por dores de outrora...
Ao menos um norte, que, quiçá por sorte, seja nosso.
Chão, enrole nossos corpos frios e faça-nos esquentar mesmo com o vento que ruma pra todos os cantos, sem um norte a nos dar.

Vento, faça de uma onda uma motivação para seguir... só ou diferente.
Distinto, melodioso...
Sejamos vento, então... 
E que dancem amores ao farfalhar das folhas pelo chão frio.
E que dancem os corpos dos amantes que descobriram que são o vento.

Insana talvez, seja a rota de nossas almas na brevidade que escolhemos à dedo...
Não seja discreta, farta flor... Desabroche, nas tais manhãs estrambólicas que almejas conhecer
e fica, 
até onde quiser e tentar.

por: Iaiá Gonçalves e João Ricardo Würch Selbach
foto por: Gabriela Frigo

pelos.
penúria 
de quem diz
que eles não podem estar ali.

pelos soltos
pelos livres
pelos meus
pelos seus
por nós
em liberdade corpórea.


tô cansada
de falar sobre ausências
amores passados
amores que foram
estiveram
criaram
amaram.
mas foram...

tô cansada
de falar sobre sentimentos
sentimentos que burburinham
que ficam numa inquietude
gritando: fale sobre mim poeta!
poeta?
[risos]
não vejo nenhuma poeta aqui
vejo uma moça constituída por palavras
que não sabem sair direito.
vejo palavras por todo lado
desde meu coração, até minha cabeça
mãos boca pulso
tudo!
elas estão em todo canto do meu ser
e elas brincam
fazem e refazem
conjugam amores
desfazem pavores

explodem
como as estrelas no universo.

mas não tem muito brilho não
são só palavras
puras
intactas
descoordenadas
num dia de desabafo sem rima.


pretas,
esse poema é pra vocês
sou branca
não sei.
não sei um terço do que é
machismo com racismo
opressão dupla
não sei.
mas sei de vocês
da força
do brilho
e desses cabelos que são universo
que são como flores imensas
nesse corpo tão imenso
tão seu
tão vivo
tão lindo.

muitas já morreram
muitas morrem todo dia
basta ser preto
pra pm parar
basta ser preto
pro vestibular peneirar

não tá fácil não
num mundo branco hétero-normativo
imagino que deve ser foda.

mas eu lhes digo,
tenham força
que tamo juntas
sei que é diferente
não tô igualando nada não
só tô dizendo,
que luto por vocês também.

de uma branca que não sabe poetizar, pras pretas flores dessa vida.
Cálidas são as palavras dos poetas marginais, que percorrem a rua lá de casa e me param com sorrisos enormes e palavras honestas. As palavras correm como bem entendem. As vidas escorrem pelas calçadas e alguns deles picham por aí. Colorem os muros frios e encaram as esquinas famintas.
Do que você tem fome?
Do que carece o mundo?
Vejo abraços que não se abraçam e beijos que não se beijam e vidas que não se esbarram
e
onde vamos parar?
ganhe
compre
ganhe
compre
possua isso
e aquilo 
ter sobrepõe ser
seremos algo?
Por favor. Seja algo comigo. Sejamos algo em meio a essa imensidão de palavras que explodem dentro de mim e não sabem dizer coisa alguma.
Não lhe peço dias infinitos, apenas
algo que mate a minha fome
de amor.
falta pão
falta água
falta luz
falta escola

dói
e não tem remédio

vazio
e não tem ninguém

vejo os olhinhos do menino
que empina a pipa lá no morro
e olha pro céu
desejando-o
tão azul
tão imenso

ele só queria
conseguir respirar
feito as nuvens lá de cima.

dias
passam
em reprise
no corpo
da bailarina
que dança
com os pés
esfolados
o coração
enrolado
palavras
imensas
perpassam
sua boca
e gritam
gritam
gritam
sobre
dias
que
não
sabe
se são dias
ou são noites
infinitas de paz.
Caminhei quinhentos dias

E quinhentas noites, furtivamente, nesse vale
onde pessoas esquecem de caminhar

e focam-se em frivolidades
desfocam-se de si

dispersam-se... ah, quão ruim é perder o rumo.

Rumo pra onde? Por onde? E como?
De-mê um barco, flores e mar aberto, por favor.

Algo que sirva, algo que funcione
Pra abandonar a inércia junto com o desgosto de caminhar sem vontade por mares toscos. Quero mares vivos.
Mares completos.
Eu e você.

Quero cardumes de sonhos leves. Um laço. Eu, você... Nós... Nessa vivência passeamos.
Como reticências que estendem-se e dão espaço ao imaginar. A(mar). Amaremos por entre as confluências dos mares imensos desse mundo.
Amaremos de tal forma que não haverão profundidades que nos subtraiam, que nos restrinjam... Amaremos o barco, o mar, a onda, os peixes...
Diante de tal hipótese, poetizemos
e fiquemos

juntos.

-
por: Iaiá Gonçalves e João Ricardo Würch Selbach.

domingo, 6 de julho de 2014

foto por: Gabriela Frigo

as laranjas
doces-puras
pululam
os cabelos
emaranhados
enroscam
os dias passados
preveem 
os dias futuros
dançam 
os dias presentes
e brotam
dos fios
que crescem
e hora, cortam.

foto por: Gabriela Frigo 

delicadamente
escorre sobre a pele púrpura
o sulco do talo
que percorre
a moça
fazendo-a 
gritar
gemidos
incessantes 
de uma voz
que goza
em poesia.



foto por: Gabriela Frigo


a flor nua
despi a moça

a flor
das mulheres
que bamboleiam
e lutam diariamente 

a flor das mulheres
que oprimidas
sofrem
mas que vivas
falam

as flores são nossas
não tentem tira-las de nós!

nossos corpos
nossas regras

nossas flores
nossas vozes!



foto por: Gabriela Frigo


a flor que liberta
entre as conturbações da pele
que pulsam esbarram e correm
voltam vão e vem
feito flores na imensidão de um corpo
que vive
que morre
que chora
que ri
sendo flor
sendo eu
sendo você

o amarelo
mistura-se com o escarlate
e vira dia

o azul
mistura-se com o rubro
e vira noite

as sensações misturam-se
com os corpos
e viram vida.




sábado, 5 de julho de 2014

poema
pode precisar
pular palavras
pra prosseguir

vida
vive precisando
pular histórias
pra poetizar.
Os hospitais respiram o ar noturno enquanto os pacientes dormem o sono putrefaço de dias infinitos. Não se sabe quando sairão dali. E eu passando por entre as janelas acessas, porque lá, não há noite, nem sono real. Luzes artificiais brilham o tempo todo por sobre a face daqueles corpos que um dia dançaram e sorriram. Eles ali. Eu aqui. Vendo, de fora, o corpo que se desfalece, que escorre e desfaz. Já dizia um velho amigo: viva, porque a morte é certa.
E ele tinha razão. Estamos morrendo a cada segundo que passa. Mas podemos estar vivendo a cada segundo que passa, vivendo morrendo soa bem melhor que só morrendo.
Somos tão imensos e quando essa imensidão esbarra com a imensidão do outro, é um choque tão bonito. Dois universos, que se enxergam, que se sentem, que se amam. Ou nem precisam amar. Bastar ser corpo e entender que o outro é corpo também, corpo que pensa e possui características únicas.
Parece que as pessoas não estão mais acostumadas a receber afeto.
Eu não consigo. Não dá. Tem muito amor dentro de mim. E eu preciso canalizar ele nos universos que existem ao meu redor, nos meus textos rabiscados, nos meus passeios, encontros e desencontros.
Eu. Tô viva. E você também.
Então que possamos sentir as veias pulsando, o ar entrando nos pulmões, 
os beijos
abraços

prosa e poesia

os lábios dizendo 
as mãos tocando
os pés correndo
o sexo gozando
a vida cabendo
em nós.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

medo
vamos tomar um café?
coloco uma roupa bem bonita
mãos dadas
vamos
e ainda te pago um bolo de fubá!

vai!
por favor
para de botar caraminholas
na cabeça das pessoas
e sai pra dançar com elas
um pic-nic no parque
sobe nas árvores
colhe amoras
ouve uma música
corre
pira
gira
canta
catemos
pra onde couber
e der
pra sermos.

um dia
eu sei
que você
medo,
você,

vai perder o medo de ser medo.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

vida
vai
e
volta

constante

vida
indo
e
vindo

instante

dói
cura
sente
passa
corre
fica
vai
e
finda.
respiro
inspiro
tropeço
despeço
de ti.

respiro
suspiro
tropeço
careço
de ti.

respiro
expiro
impeço
começo
de nós.


sorrir
só ir
talvez seja uma boa maneira
de não escrever boa poesia
e ao mesmo tempo
de começar
algo que só escorre
e perpassa
o papel branco

preenchendo
um espaço

colorindo
ao redor

sorrindo
só indo
prum
lugar
melhor.

seu riso
sorri pra mim
e me faz sorrir.
ex ao menos serve
pra virar palavra
poesia
papel gotejado de tinta
rabisco
memória
arte.
ex vira arte
ao menos, por aqui.
lugar em que tudo,
absolutamente tudo que se sente
cai no papel
e respinga
explode
feito vidro estraçalhado.

ex é uma coisa estranha
expira
expõe
ex-volta
e vai
e volta
e vai

vá-se embora!
do meu papel
e das minhas palavras
que cansaram
de fantasmas literários.
ponto.
pontue-me
com reticências
e palavras-sorrisos

eu sei
que foi diferente
mas
foi um diferente bom
e diferentes bons
dão boas histórias
e boas histórias
dão boas palavras-sorrisos
então
talvez
a gente dê um poema
torto que nem esse
ou uma prosa
mais torta ainda
ou uma dança
quadro
foto
mas
eu tenho certeza
que vai ter riso
muito riso com reticências intermináveis
e dias bacanas
como hoje
e talvez
amanhã.