quarta-feira, 31 de julho de 2013

para ouvir lendo, hm: http://www.youtube.com/watch?v=ff0oWESdmH0&feature=share

Gosto do silêncio noturno, me acalenta a alma, acaricia a alma, me envolve numa conjunção tão única que não consigo expressar o afável gosto da solidão. Eu, eu mesma, comigo mesma, e tudo em paz. Minto. Tem um mundo todo aqui, fora isso, todos dormem. Pera. Quantas pessoas será que estão dormindo agora, no mundo inteiro? Hm. Penso que o silêncio noturno me traz paz. Paz pra uma alma que enebria o dia todo , que na frenética dança do viver vive falando. Mas de noite, ela cessa, pra observar a continuação dos pesares, dos amares, dos dizeres. De tudo. De cada canto do mundo. Do ponto mais triste até o ápice de sua felicidade. Ela consegue respirar bem fundo e sentir o ar entrando nos pulmões, e sentir cada sinal de vida pelo seu corpo espasmo. Ainda que algumas partes doam, ela vê que tua mente tenta reproduzir em palavras uma confluência de dizeres que não se diz. Daqueles, que se sente numa noite de paz. E finda.

domingo, 28 de julho de 2013


Chorei minha vida inteira. Sai da minha mãe abrindo o bocão. 7 meses. Apressada desde sempre. Já vou adiantando, sou uma chorona nata. Chorei quando cai da bicicleta. Quando apanhei. Chorei quando minha irmã nasceu, oh, mas esse choro foi tão tão feliz que eu nem conseguia falar de tanta alegria permeando meu coração! Chorei quando vi Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Chorei quando minha amiga morreu de câncer e quando mais algumas pessoas próximas se foram. Chorei de amor por gente babaca. Chorei ao ver minha irmãzinha de 7 anos pedindo pra eu não ir pra faculdade que ficava longe de SP. Chorei por isso por aquilo.
Que eu saiba, só escrevi um texto que fez alguém chorar... Era sobre meu avô. E o Gui deixou umas lagrimazinhas saírem. 
Chorei inúmeras vezes.
Eram bonitas. Pequeninas e deixavam minha bochecha rosada quando eu era guriazinha. Não sei se era o sal ou se era a natural coloração da pele quando cai lágrima. Só sei que não era tão ruim. Aliviava. Espirituosas essas gotas!

Passei por muito chorar.

Ei.

Nunca mais. Desde que ele se foi. Desde que ele se foi, chorei uma vez. E bem, acho que chorei tanto, desfalecei-me inteira, que cheguei a achar que meu corpo era de água.
Foi a última vez.

Depois disso, acho que não restaram mais lágrimas dentro de mim.

sábado, 27 de julho de 2013

-quem dera se palavra saísse do papel-

Ceguei. Fiquei sem palavras. E isso, é quase sinônimo de cegueira noturna. Não consigo junta-las decentemente pra que formem sentenças compreensíveis, risíveis! Ou mesmo que fossem pequeninas, brotando de dentro de mim, mesmo que fossem somente palavras acalentadoras. Pera. Que diabos é escrever? Por que escrevo? Você escreve?

Oh, mas nem que fossem palavras doces ou daquelas que formam as roldanas que me fazem seguir. Ou daquelas de dias de angústias, mórbidas, triviais, até diria... Mas nem que fosse uma só. Uma só palavra que não seja aquela de quatro letras. Qualquer, qualquer outra!
Vem, saia de dentro de mim, poetiza, pisa, pincela a vontade de dizer!
Cai pra fora. Cai pra fora de mim. Você. Vá embora, formador de palavras!
Você mesmo que cria esse fluxo de pensamento incompreensível aos meus leitores. Você mesmo. Despenca do meu coração. Solta a minha mão de vez. E vá, vá pra longe dos meus escritos! Porque eu tenho tanta coisa nova pra falar, e você, fantasma literário, me atordoa todas as noites, não me deixando dizer que 

oh
eu não queria sentir saudades.

Maldito! Vá-se embora do meu armário. Do meu corpo. Dos meus lábios. Parece que enroscou-se em mim e me amarrou pra perto dessa sua tristeza. 
Não se permite ser feliz, sim, eu sei.
Mas eu , bom, eu digo, que a partir de hoje estarei postulando
 -como em uma de outras muitas tentativas de dizer-

que quaisquer ser-humano seja feliz.

-disritmia-


frevo
fervo
na tentativa de fazer poesia.

carnavalesco rabiscos
solto palavras
cuido das mesmas.

canto um tanto
danço um tico
na não-ritm(idade) do meu coração

eita coração sem ritmo!
Pulsa.
Pula.
Pinta.

E hoje, eu vos digo, ele me pintou inteira.
Gira.
Rodopia.
Estremece.
Merece
ela
um novo amor?

Pira.
Revira
as lembranças
e pergunta
sobre palavrear
pra moça bonita que passou de bicicleta.

Ô moça bonita, eu mereço um novo amor?

Ô moça bonita, o que é que tá havendo?

Ô moça bonita, do que é feito o mundo?

Ô moça bonita...

sabe que ninguém me ensinou a fazer poesia!
não sei disso não,
de métrica e rima
eu sei de prosa e de conversa
e de escrever intensamente sem parar
pelas linhas contundentes que arrastam-me
pra sei lá onde

ô moça , me ajuda?

me explica do que é feito o mundo
e as pessoas
e me explica
mas explica direitin

por que às vezes, eu sinto
que sou feita de amor?

a(mar), ah mar!

Vejo o sol mostrando-se bem de mansinho, com carinho ele diz:
-Oi guria!

Sorrio.

O vento também chega e me abraça, esse era permeado de desejos , trazia-me um frenesi danado!

Depois veio o mar, eita mar gostoso! Me revirava inteira, aquelas ondas sorrateiras. Eu e o mar nos demos muito bem, tivemos bons dias de amor, paixão, doce vontade de se encontrar no novo. Digo, no outro. 
Até que , o mar entrou em ressaca, e eu... Bom, tive que me despedir daquele que me trazia pulsação. Naquela noite, últimas de tantas desejadas, me despi e deixei que o mar tomasse conta de tudo, banhei-me das pontas dos pés até o último fio de cabelo. Minhas lágrimas fuzilavam-me a alma, como grandes gotas salgadas tomando conta dos poros do meu corpo, e eu já nem sabia o que era água de mar e o que era água de dor.
Não havia nada além de nós dois. Juntos. Tornando aquilo cada vez mais difícil de deixar para trás. Até que percebi que estava me afogando em minhas próprias lágrimas que mesclavam com as ondas do mar. E foi então, que o vento -sim, aquele cheio dos desejos!- Foi então que ele tocou em meus braços, desceu para as mãos e puxou-me.
Eu chorava.
O vento me virou de costas, abraçou-me de mansinho e foi me levando com ele. Tentando dizer algumas palavras bonitas pra ver se acalentava o coração.



E desde então,

eu nunca 
mais 
vi o mar.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Escorreram. Escorreram com toda a voracidade. Só que escorreram dentro de mim, e eram salgadas, e perfuravam-me o corpo querendo expelir pelos meus olhos, mas algo ali não permitia. Por algum motivo, não consigo mais. Vai ver, que é porque elas correram demais sobre mim, tantas vezes... 18 anos e elas saiam sem problemas. Mas agora, engasgam, misturam-se com minhas sensações e me amarram. Lágrimas cruéis! Respeitem meu corpo, e saiam, por favor. Oh, já nem sei mais. Essas malditas. Não gostam mais de mim, nem de sair do meu olho, nem de escorrerem pela face. E tão todas ali, dentro do meu corpo inteiro, num mistifório de lembranças. Mas não saem, de jeito algum! Escorrem cada vez mais perto do meu pulmão. Tô quase sem ar. Preenchem minhas veias. Sangue. Água salgada. E não vão de mansinho, não! Elas tão pouco se fodendo pro meu corpo! Corroem mesmo, com intensidade. Talvez. Oh, talvez, elas não queiram mais sair, porque não há mais você, pra limpa-las e dizer ''Vai ficar tudo bem, minha querida''.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Então queres ser um escritor?

se não sair de ti explodindo
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração e da tua cabeça e da tua boca
e das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que sentar por horas
olhando a tela do teu computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes porque queres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como algum outro escreveu,
não o faças.

se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.

se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás pronto.

não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas estúpido nem enfadonho e
pedante, não te consumas com auto-
-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te esteja a queimar as tripas,
não o faças.

quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.

não há outra forma.

e nunca houve.

(Charles Bukowski)

-ô maria, denuncia!-

(bota a boca no trombone
pra ver se passa a náusea)

nojo
daquele
homem
estúpido
da onde
provinha
o choro
lamado
calado
de maria fernanda
que passava
limpava
cosia

cansava.

nojo
não do choro
mas do motivo
de tanto chorar
motivo chamado marido de sexo masculino
marido chamado Marcos Machado Machão

-engole teu machismo, seu escroto!-

cuspia palavras
pra ver se assim
eu conseguia
falar por maria
maria cálida calada
maria sofria

aquela maria,
vivia
tentando
viver

vivia tentando
chorar.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

-epifanias-

Estava dentro de uma caixa. Minto. Era a caixa que estava dentro de mim. E lá haviam mil e uma lembranças de você, de tudo, cada detalhe, cada pedaço do teu corpo. Cada toque. Cada amasso. Cada tudo. Tinha tudo , tudo ali guardado, trancado, sem respirar. E eu fingia que tinha passado. Que estava tudo bem lidar com o fim. Que não te ter mais na minha vida não fazia diferença alguma. Não gosto de encarar o fim. Me esquivei, fingi que não tinha caixa alguma, nem memória. A caixa foi mofando e mimetizando-se com meu corpo, e Deus, marcava-me a pele, eu sentia ela ali, a todo segundo, ela tinha sons, tinha cores, tinha palavras, e doces e tinha um pedaço de ti. Tive que romper. Botar um ponto final, por nós. Porque você pediu. Fui a pessoa certa no momento mais errado. Tenho raiva, de lembrar de cada palavra dita. Do ''você foi a melhor coisa que apareceu na minha vida, mas não consigo lidar com o fato de que terei que te deixar''. Caixa, vá se embora, vá. Não adianta concretizar o fim e não senti-lo. Não consigo chorar. Tá tudo engasgado assim como esse texto. Sentenças jogadas ao léu, ponto. Falo e ponto. Ponto e falo. Oh, me entreguei a outros corpos, outras cores, outros dias de verão e de chuva. E nada. Não passou. Tô querendo enganar quem? O tempo? Eu? Tem coisa, que a gente não esquece. Não adianta tentar passar por cima, tem que é passar com. Passar junto. Sentir a tristeza até o fundo do âmago. Comê-la. Engasgar-se, até vomitar tudo pra fora, como faço nesse texto de merda. Jogar, cuspir toda a dor. Aquela dor de amante, que corta os pulsos, dor de como se o mundo tivesse acabado, desde que você não esteve mais aqui. Dor latente. Dor sincera. Dor de amor.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Brasileiro
de todo canto
de todo samba
de todo gosto
de todo tipo

eita, quanto brasileiro!

Dondê cê é?
Dondê cê veio?
Quem é você?

Me fala, me fala um tico
dos teus amores e desamores
dos teus desejos
dos teus sonhos
carícias
ah, me fala!

Me fala tudo,
não precisa falar bonito não
fala, fala do jeitin brasileiro
que tô aqui pra ouvir
pra amar
porque eu vos digo, tem tanto amor
tanto amor dentro de mim
que por hora, acho que vou explodir

mas não é de mim não que eu vim falar
vim falar de vocês
de pessoas que mal conheço
da moça que fotografou pra gente
daquele que postou tal coisa bacana

tem tanta gente né?
de tanto canto
que até me espanto!

mas vim aqui
tentar dizer
que apesar dos pesares,
tem muita coisa boa por aí.

bora ver o mar
vir dançar
e cantar num balaio bem bonito
seja sol ou chuva
vamos juntos
pra ver assim,
-ver com amor-
se no outro,

a gente se encontra.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

.

Bêbados. Mas não daqueles bêbados trajados na graça e que te fazem ficar feliz. Não. Essa é a história de um bêbado ruim. Daquele que ia trabalhar, tinha duas filhas, era bonito e era uma boa pessoa. Mas bebia. Bebia tudo que vinha pela frente. E não obtinha controle sob nada. Álcool goela a baixo, até os olhos não enxergarem mais a beleza do mundo. Tudo distorcido. Aquele bafo nojento. Pútrido. Tudo borbulhava dentro de mim, eu tinha vontade de manda-lo pra bem longe. Pruma redoma de álcool, bem bem longe de mim. Não conseguia acreditar que um homem pudesse atingir aquele nível. O nível ruim do vicio. O nível que causa desprazer. Nem amor tinha. Não tinha nada. Era só um corpo vazio, cheio de álcool. Um corpo vazio que nem sabia mais onde estava. Não tinha mais os olhos bondosos que eu havia visto no momento em que ele estava sóbrio. Eu gritava: Cadê, cadê você? Não te conheço mais! 
Não tinha mais amor, nem sabedoria. Havia perdido tudo pra bebida. E estava me perdendo também. 

Ponto.

Era só um corpo, um corpo que não assumia que estava doente.

?

Não sei o que houve. Amei demais e desaprendi. Ou, amo tanto tanta coisa, que por uma mera fração de segundos pensei que amar era fácil. Achava, que somando tudo, dava amor.