segunda-feira, 28 de abril de 2014

[sobre amanhã]

Dez-e-nove. Dezenove. Um dia pra tanta idade. Pronde foram as bonecas de pano? E as idas ao gramado central onde podia se jogar no chão?
E os sorrisos coloridos espaçosos cheios de rima?
Iria então desvendar as absolutas certezas que não diziam nada? Ou proferir as incertezas pro mundo e agarrar com toda força qualquer pitada de ar.
Seus olhos marejados diziam sobre o amor que não cabia dentro dela e a vida que explodia pelas têmperas e percorria todo o corpo. Corpo forte e frágil, donde provinha todas as belezas confortáveis e dispostas a ser. Seremos?
Sermos.
Não temos mais medo da morte, desde que o filme mostrou delicadamente que não precisava ser tão ruim assim. Não tenho mais medo da vida. Engoli tanta vida de uma vez só, que engasguei.
Dezenove vidas dentro de mim, costuradas e pulsantes.
Dizem por aí, que os gatos têm sete.
Eu tenho trocentas cantorias de bandolim, daquelas que reverberam e exaltam cada partezinha do meu ser. E ficam.
E vão.
Estão.

sábado, 26 de abril de 2014

[pane-no-poema.]

esse canto
sem recanto
sem encanto
.eu
nem
você.

donde foi
que vieste
tanta cor
rubra e doce
feito bala
lá do seu Joaquim

donde foi
que tu veio?
diga-me
pronde é que tu vai?

dentre tantas conexões
esmeras
quimeras
virtuais

há espaço
pra ser
ermos?

erro.
de digitação
perdão.
tinha uma caixinha
velha despida
.entre poeiras.
toda acinzentada
uma foto três por quatro
uns bilhetes de metrô
shows cinemas teatros
batom borrado
quinquilharias
segundo minha mãe.

ela tava lá
toda jeitosa
sendo caixa
parada
no meio da frenética
dança da vida
que tem percorrido veias
e esculpido incertezas
clarões de sensações
todas inteiramente minhas
mesclado com sabor de algodão
doce
amargo
tudo
tudo junto
aqui
num espaço

que nem cabe mais.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

[insanidades noturnas]

Havia uma cidade de pedra esculpida pelas mãos de corpos extremamentes encharcados, de amores que sugaram, vínculos que findaram, vidas que passaram. Flores e açoites. Cada pedaço que vem e vai. Constituiremos então um emaranhado de corpos frustados? Ou haverá espaço pra um sorriso ao desconhecido? Um vontade de entrelaçar-se com o outro e sentir uma pitada de qualquer doçura passarinho que seja. Me digam. Peço encarecidamente aos poetas de duas mãos e todo o sentimento do mundo: Haverá espaço para compreender a existência de um Outro? Que sente, que come (ou não), que vive; porra. Que suja. Que limpa. Que banca e tenta cuidar das barrigas famintas, sofridas, caladas.
Poderíamos por gentileza abrir mão, mesmo que minimamente, do nosso eu-individualismo-confortabilíssimo-em-mim?
Não sei muito sobre bons textos, nem sobre palavras esclarecidas. Sei sobre transtornos de ansiedade, sobre bocas de saudade, dias encolhidos ao som da chuva numa cama de solteiro .nós dois.
Mas.
Onde.
Onde foi parar o pão desse mundo?
O problema não é ser rico. O problema é ser rico e não se assumir como fodidamente-privilegiado. O problema não é minha saia. O problema é seu machismo invasivo.

"Ah moça, mas aí já é vandalismo.''

''Vandalismo teu cu!''

Dois. Dois erros.

Três.
Quatro.
Cinco.
Seis.
Sete.
Sete bocas pra comer. 5 vidas pra viver. 2 vidas pra amar.
Sete dias são suficientes pra se reestabelecer com o mundo?
Saramago já dizia, que somos cegos, cegos que vendo, não veem.

Saramago diria sete vezes:
amor.

sábado, 19 de abril de 2014

nem mesmo as palavras
têm dado espaço pro corpo translúcido em emoções
corpóreas externas confusas
nem mesmo as palavras saem mais
sem eira nem beira pra conseguir evidenciar a dor interna
das paixões
da vida que não cabe dentro de mim
que explode
aos cacos
conforme me vem
qualquer pitada de reflexão.

nem mesmo as palavras sabem mais
se é prosa ou poema
se é vida ou se é morte
se é isso ou se é aquilo

eu não sei mais de mim
nem do chão que devia existir
ou do meu amor que explode
extende-se por tudo
e emaranha

dorme
dorme
dorme Iaiá
pra ver se o timbre das canções de ninar
tocam-lhe a alma
e lhe abraçam
como aos cinco anos
em que as mães
ainda afagavam.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Quando brotam as gotículas de sangue amargo, da pele surrupiada pelo dia-a-dia, do rosto costurado feito o coração que desmanchou-se tantas vezes. Das pernas artificiais que se arrastam pelo concreto mundano, donde exala o suor fétido dos transeuntes, a fome dos que tem boca, o medo. O medo que brilha nos olhos do mundo. O medo de permitir que o outro adentre e dispa suas certezas e te encha de amor.
A insistência em proferir as mais sórdidas palavras quando tudo está doendo. Ausência. Essência.
Essencialmente dores.
Odores.
Amores perdidos no meio da onda de corpos que esbarram
e cruzam
e torcem
retorcem
vão e vem

''Vendem-se corações mastigados pelo mundo.'' leu a menina na placa da rua direita
Via a vitrine transparente com um monte de corações pendurados, pingando sangue, cheirando a podre. Pútrido feito o mundo.
O mundo dos que desistem
de amar.

Costurada na roldana da vida, pensou se comendo aqueles corações crus algo aconteceria. Pensou em como preencher aquele vácuo, aquela fome, aquele corpo que só era água salgada. Pensou. E nada viu, nada além dos olhares que não gostam de se esbarrar, as promessas que não são cumpridas, as catracas cada vez mais evidentes, as opressões pulsantes diariamente. A vida.
Não conseguia ver nada além da vida daqueles que na tentativa falha de tentar viver
morriam.