quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Uma janela do lado, uma cortina verde e uma parede laranja. Luzes do raiar do dia. Uns lápis coloridos pelo chão marrom. Uma dor de garganta latente, daquelas que faz você ver como está vivo. Pés descalços. Arte. Conversa. Lá pras três da manhã percebi que tinha passado. Senti um gostinho de prazer, aquele momento ocioso de só rir e ouvir e dizer e pensar em nada. Aquele momento feliz e discretamente sincero. Tinha bastante cor.

Um surrealismo sincero.



Elefanteei hoje. Guardei um monte de palavras e sensações. Ingenua, eu. Achei que não ia chover e tava esperando chuva. Então fui crescendo, como um elefante. Um elefante cinza e velho no meio de uma floresta cinza e velha. E aí fui elefanteando mais e mais e mais. Até que quase explodi. Explodi de amor. Foi então que eu percebi que havia um elefante do meu lado, sentado no sofá. Ele era novinho, tinha uma tromba um tanto graciosa, eu diria. E ele veio com graça pra mim, até me tirou um sorriso em meio ao filme dramático que assistíamos. Ele era bonito. E era jovem e cheio de histórias. Ai a gente elefanteou juntos.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Numa tarde qualquer, numa casa nem tão qualquer assim.





Acabar?
Tô aqui pensando besteiras, reclamando pra lá e pra cá... E só então percebi o que é de fato o acabar, percebi esses dias, quando fui visitar uma amiga que está com câncer. 
Aí sim eu vi as coisas acabando, a pele fraca, a língua turgida e seca, nenhum movimento. Apenas os lábios que abriam e fechavam para proferir palavras. Que falavam comigo, bem devagarzinho. Lábios sinceros. Teve um momento que ela me disse: "Nem ler eu consigo mais. Não sinto minhas mãos. Não mexe nada.'' Então eu disse que guardaria um dia da semana pra ir lá ler para ela; seus lábios tentaram sorrir -um sorriso todo delicado de fragilidades- Perguntei-lhe: ''Que tipo de livro você gosta?'' Elas respondeu-me: ''Gosto de drama, aventura, romance... Suspense. É, suspense e terror eu não gosto muito não.'' ''Eu também não gosto muito de suspense.'' , disse à ela. Mas para ela era diferente, ela já viveu 40 anos de amores, de aventuras e dramas, já sentiu uns suspenses, terrores... Mas agora, sente cada pitadinha de suspense e terror em cada pitadinha de momento vivido, em cada suspiro. Percebe o suspense que é o fim. Todo fim é um começo. Todo começo é um fim. Tava aqui, em uma tarde qualquer, andarilhando com meus pensamentos fúlgidos... Pensando nos meus fins. Meus finscomeços começosfins. E lembrei do olhar dela, olhar cálido que junto aos seus poucos fios de cabelo me mostravam a força interna que ela possui, a coragem. Coragem de dizer pro mundo: Tá acabando.




sábado, 17 de novembro de 2012

Afogar. Engolir. Cuspir tudo fora depois, os dejetos de doçuras vãs. Os caminhos percorridos. Os enfeites usados. Os vícios de um sentimento louco, que percorre minha veia. Um cais sem fim. Um vão sem chão. Um emaranhado de dores posteriores clamores de uma noite qualquer,

quinta-feira, 15 de novembro de 2012



Acostumada a viver assim, com flores nos dedos, cores na veia. Tantas, desde o vermelho favorito, até o amarelo que me acolhe. Pulsando, falando, correndo com esse coração acelerado que tenho. Sinto muito, sinto perder, sinto perceber que perco, perdemos tudo. O tempo todo. Morreremos , inevitavelmente. Por ora, me sinto morta, mas ai, vejo que tenho tanta coisa aqui dentro, tanta admiração pelo mundo, pelas essências que perpassam minha vida e sobrepõem as decepções diárias. Sinto muito, por não escrever bem aqui. Acho que só quero dizer. Dizer que amo, amo uma vida assim, viva, ainda que, determinada ao fim. Amo ver e recorrer. Amo sentir lábios, sentir gostos, me arranhar num galho e fazer curativos com bandaids da minha infância. Tomar banho de chuva, rir até a barriga doer, deixar o vento bater nos meus cabelos, ter marcas, sentir frio, sentir calor, ir , vir, ver, ouvir. Verbalizarei por aí, pra ver se vai passar. Passar uma dor, que anda pairando por aqui. É. Sempre assim. Verbalizo, o verbo se enche de adjetivos e tons , até que um dia, vem o ponto final, e rompe... Depois de um tempo dou espaço a vírgulas novamente, que mesclam com novas palavras, novos sentidos e pesares ; amares. É. Três pontos, venham.