sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


Estômago embrulha, e quase que um líquido ácido sai da minha boca. Somente. Somente por lembrar dos abraços , amassos. Laços. Um turbilhão de coisas dentro do teu corpo, e todas essas sensações misturam-se com os pensamentos que surgem a medida que tu lembra da noite passada. E aí tudo isso se mistura com algumas semanas atrás e você vai quase enlouquecendo no meio das lembranças que perdem-se na cronologia interna. Memórias de verão. Memórias de chuva. Memórias de ontem, de hoje, do amanhã. Memorando o momento pra que algo em meio a vastidão de sentidos, escape.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Minha mãe me contou quando eu era pequena que Ina significava senhora e Iara mãe das águas e que portanto meu nome significava: Senhora mãe das águas. Eu abri um sorriso enorme e dei uma risada, tinha em torno de 10 anos. A internet me disse hoje, que Inaiara significa Raio de luar sobre as águas doces. Uma amiga um dia desses me apelidou de Iaiá por causa de uma música, uma grande amiga, ah. A maioria das pessoas me chamam de Ina, deve ser porque Inaiara é complicado demais pra pronunciar. Quando me apresento preciso dizer no minimo 5 vezes é Inaiara, III, tem I no começo. Rs. Eu não sei o que significo, não sei muito sobre nomes muito menos sobre significados. Me perco tentando dar significado a tudo. Sou uma junção de abstração. Se eu pudesse daria a cada dia um significado pro meu nome, de acordo com o que eu sentisse. Se eu pudesse, ah, se eu pudesse, eu faria tanta coisa. Eu não sei muito sobre o amor, nem sobre as pessoas e tô aprendendo, aprendendo a viver. Talvez Inaiara signifique mesmo: Muito amor pra dar.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Sobre lembranças e caixinhas


Eu tenho duas caixas de lembranças, uma eu ganhei a uns dois anos atrás, achava que não ia ter nada pra colocar, hoje tem tanta coisa que nem cabe mais. Entre as memórias ali dispostas, têm pétalas de girassol, um papel com batom borrado, uns ingressos, o feijãozinho da terceira série, tanta coisa.
A segunda caixa de lembranças eu ganhei ano passado, ela é grande e ainda não tá toda ocupada. Dá pra bastante memória.
Lembro-me das vezes em que achei que as lembranças se perdiam com o tempo, mas talvez não seja bem assim, talvez num vai-e-vem de acontecimentos, a gente consiga gravar na mente o que de fato importou. 
Não gosto de cobrir lembranças boas com uma montanha de coisas ruins que surgem. Detesto rompimentos.
Sou frágil e prolixa. Me perco dentro de mim mesma. Perco-me nas lembranças.
Efemeridades ressurgem a cada instante, e ter as caixas é uma forma de guardar tudo, tudo que vai indo vai andando no gerúndio diário.
Aliás, nunca gostei de diários, de escrever todos os dias sobre as coisas que ocorrem.
Eu tenho cadernos de escritos mal feitos, sem estética alguma, sem pensar, só palavras jogadas pro mundo.
No dia que eu morrer, quero que os cadernos e as caixinhas de lembranças estejam lá. Quero que tenha música boa, café quente e muito doce. 

Lembro-me de lembranças embaralhadas com sentidos que surrupiam e perpassam minha boca, até que eu vos diga o que tenho vontade.
Sou um relicário, daqueles bem antigos. Que podem quebrar a qualquer momento.

Memória, não se vá. Que se comemore o memorando da vida. 
Um dia, terei uma caixa só de memórias boas. E cujas lembranças não precisem ser afogadas por decisões ruins.



''É através de lábios alegres, feitos de fios, que o frágil capricórnio desenreda palavras,
como traças em velhos cachecóis.
Eu sei que o mundo é cheio de falhas,
mas dissipe suas dores de cabeça, e chame-o de casa.''

Chame-o de casa, chame alguém pra chamar seu mundo de casa e dissipe quaisquer que sejam as coisas ruins. Não tenha medo de botar os pés em água gelada, muito menos de conhecer o que não se conhece. Não tenhamos medo de viver. Já que sempre existirão empecilhos no meio do caminho, por que não se afogar de vez em tudo, engolir com todas as forças o que aparece, se jogar de cabeça? Quando se faz o contrário, uma hora ou outra vai falhar mesmo. Pois então, que seja verdadeiro, que se for feliz: seja feliz, se for triste: seja triste. Sem máscaras, sem rotulações ou incertezas. Que sejamos o que somos. Que falemos o que sentimos. Chega de criar um mundo paralelo. Encare a fome, encare os erros e os acertos. Encare o mundo escancarado em nossa frente, sem tentar permear as coisas, mas que no meio do que é explicitamente verdade, enxerguemos esperança. O que seria da vida, se desistíssemos a cada vez que uma gota de lágrima cai do rosto? 
Abra os braços, tome banho de chuva, leia poesia, ande descalço pela casa em dias de chuva, assista filmes bons, leia livros, aprenda coisas novas, aprenda com pessoas novas, beije, transe, corra em gramados, ouça as histórias de sua avó, tome cerveja (e não dirija), ouça músicas boas, apaixone-se (quebre a cara), apaixone-se novamente (quebre a cara novamente), coma chocolate, diga a verdade, e apesar dos pesares: Esqueça as mil e umas coisas que deram errado e tente fazer dar certo.

A porta está aberta,
O mundo está pulsando,

é só parar pra ver.

domingo, 10 de fevereiro de 2013


Tentaremos então abordar o que acontece no cais da Bahia. Não sou de lá, não sou nem de cá. Não sei de onde sou. Falaremos então sobre o quê? O que há pra se falar quando somente se quer dizer? Sem saber nem bem o quê. Tentaremos então abordar o coração pulsante de São Paulo, onde os martírios encontram-se a cada esquina, onde o medo paira corações pequenos, e as lágrimas correm por entre olhos, elas escorrem com tanta voracidade que sentimos sal purpurando nos nossos olhos. Eles ficam vermelhos, em mim, normalmente as bochechas também denunciam, ficam róseas. Aí fica sal saindo do olho, queimaduras na face e dores posteriores a um carnaval de pensamentos.
Dizem por aí, que todo carnaval tem seu fim. 
É fevereiro, é carnaval. Mas terei que postular o aval entre eu e a dor. Dai-me trégua, por favor. 
Observo as palavras que aqui começaram com Bahia, mas nós temos a grande mania de se esconder no meio do que de fato se sente. Temos medo. Mede-se tudo. Mede-se o medo do mundo.
Medirei então as medidas que podem ser tomadas na atual situação. Leitores não precisam disso, de escritos mal ditos. 
Mas eu preciso dize-los pra não me afogar.
Que o engasgo, rompa-se. Que a roupa caia. Descalça num chão de ladrilhos vermelhos, um vestidinho azul, umas lembranças boas que veem a tona quando as tristezas surgem.
Mas que se consiga produzir, nua de você. 
Estarei postulando que quaisquer ser-humano possa ser feliz.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013



Eu devo ter sido um pássaro em outra vida, porque nessa, eu não consigo parar , eu tenho que voar e voar e sentir-me cheia de asas, como uma pluma que não tem pra onde seguir. Eu tenho que ter asas imensas e cheias de vida, pra que eu possa voar com a maior velocidade possível. Até que. Até que. Ponto. Asas são cortadas.

Eu devo ter visto uma árvore florescer em outra vida, no beiral da minha janela, todas as manhãs. Porque sou tão apaixonada pelas flores, sinto-me intimamente ligada a elas. Até conversamos, por vezes. Eu, elas, o céu e o vento. Oh, o vento, a gente vive se adorando de baixo de árvores.

Eu devo ter muito mesmo guardado em mim, porque mesmo sem ter o que dizer, eu procuro alguma palavra concreta pra expressar-se no meio do mundo abstrato que tenho dentro de mim. Um mundo tão grande, tão grande quanto o de vocês. Cada um deve ter mesmo, um mundo tão profundo quanto a toca do coelho em que Alice caiu. Se eu pudesse, eu descobriria cada mundo de cada pessoa do mundo.
Se eu pudesse, ah, se eu pudesse, eu traria você pra perto.

Eu devo acreditar no sempre, no sempre por algum período de tempo. Eu de fato, tenho esperanças de que o pra sempre nem sempre acabe. Ou devo acreditar que por mimetismo interno eu tenha a capacidade de parar o mundo.

Eu devo cansar muita gente, com essas coisas, essas coisas de dizer o que sinto, de dizer o que quero. Devo mesmo. Mas o que posso fazer? 

Todos têm necessidades.

Dizendo, da forma mais minimalista possível.



-Olá, quem é você?

-Olá. Sou.

(Inúmeras conversas. Sentimos que conhecemos.)

-Ah sim. Eu também sou. Mas aguento o tranco.

-Você está bem?

-Na medida do possível , sim.

-Vai dar tudo certo, viu.

-Eu espero.

-Eu quero.

(Foi-se embora

...

e eu dizendo que aguentaria o tranco.)
Mãos púrpuras com as cores mais rubras que um dia poderia tomar, digitam aqui como se pudessem expelir minha dor. Por dentro, às vezes, sofremos. Sentimos dor , daquelas que você não consegue nem conceber o tamanho, porque dói de verdade, como se você tivesse levado um tiro no peito. Dói tanto que parece que você pode sentir o sangue escorrendo. Por esse motivo, faço sangue virar palavra. Agradeço tanto por poder escrever, eis-me aqui uma válvula de escape. Eu escrevo, alivia um pouco. A dor não vai passar, mas ao menos, dá a sensação falsa de que amenizou.
Esse é o preço a se colher por amar tanto as pessoas.
Não me arrependo de me entregar, muito menos do vivido. 
Não me arrependo de ser.
De ter. De ver. 

De sentir.

Mas uma hora,
acaba.

Não.
Não é a hora.
É hora de recomeçar. De tentar. Se for pra sofrer, que se sofra. 
Mas que se valha a pena.
Que se sofra por ser feliz.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Caminhos de Areia



   Capitães da areia, livro de cunho realista e regionalista, escrito por Jorge Amado, publicado em 1937, discorre sobre a vida de um grupo de crianças abandonadas em um velho armazém de mercadorias, próximo ao cais da Bahia. O livro começa com reportagens de um jornal fictício que aborda varias visões a respeito dessas crianças, consideradas por muitos como marginais. Logo ao inicio já é evidente um caráter crítico em relação a como essas crianças eram vistas diante da burguesia e autoridades da época.

   Após essa introdução com as noticias de jornal, o livro se divide em três partes, a primeira chama-se: “Sob a lua, num velho trapiche abandonado”- nos contextualiza ao ambiente em que viviam as tais crianças e introduz os personagens do livro. No grupo viviam mais de 50 crianças; Pedro Bala, filho de um grevista que morreu baleado, é o líder cuja cicatriz que possui no rosto evidencia sua audácia, organiza os assaltos e coloca ordem no trapiche.  Sem Pernas, era coxo e o que mais sente falta de carícias, finge-se de órfão desamparado para posteriormente levar objetos de valores para os Capitães. Volta Seca era afilhado do cangaceiro Lampião e nutre extremo ódio pelas autoridades. Sem contar em Gato e Boa-Vida, dois malandros, um conhecedor da sedução e prazeres da vida logo cedo e o outro das festanças baianas. Professor, era o conhecedor dos livros e trazia o mundo sonhador da literatura para aqueles, que desde criança não tinham contato com as palavras. Sem contar em Dora, menina do corpo enfraquecido pelas dores do mundo e dos cabelos loiros como o sol da Bahia, esposa de Bala e mãe de todos.

   O livro é um retrato de personagens, cada qual com suas idiossincrasias. Um retrato da Bahia dos pobres, e mais, do policial que mantem a ordem marginalizada e do reformatório que entulham crianças e as educam com bofetões. Dos meninos que parecem tão homens, mas no fundo possuem a pureza infantil. Sem casa. Sem pai e mãe. Que passam fome. Fome. Diria umas das maiores violências do Brasil. Uma história de crianças que seguem cada qual seu caminho, tentando fugir da miséria de uma sociedade determinada pelo poder e  capital. Um anceio por liberdade.
                                                                         

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


Abri a janela hoje e vi um colibri. Ele era pequeno e receoso, tinha medo de amar. Tinha olhos de tristeza. Eu não sabia o que fazer. Só conseguia ter pensamentos tão pontuados como esse escrito. Então eu disse pra ele que a vida é curta demais pra não ser comemorada e ele disse coisas que me magoaram. Sim, colibris falam! E como falam. Hoje eu abri a janela. Hoje eu abri a janela pra respirar e ver o sol nascendo e ver a rua andando e as pessoas correndo e os colibris voando e ando ando ando. Hoje eu abri a janela e me senti viva. Com mãos, pés e pulsação. Colibri bonito, não vai embora e venha sempre me visitar todas as manhãs. Tem muita chuva pra tomar e muito sol de fim de tarde pra (secar) , viver. Vivermos. Veremos.

domingo, 3 de fevereiro de 2013


Andando por aí, em um chão cheio de paralelepípedos lembro de um gosto gostoso. De um sabor que eu nunca vou esquecer. Andando por entre paralelepípedos meus devaneios se misturam com as cores e construções que me cercam, e com os sons de São Paulo. Ah, São Paulo! Cidade da garoa, dos amores, dos encontros e desencontros. Da fome, da pobreza, da tristeza. Ah, São Paulo! Você me pediu pra ficar, pra ficar aqui , pertinho de você. Era mesmo, pra ser por Sampa, minha correria, meus pulsos acelerados, meus escritos mal-escritos, minha euforia, minha euforia pertence cada vez mais a essa cidade. E euforicamente eu digo: Tenho amado!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

dia de maça


Um dia desses eu comprei três maças. Uma vermelha grande, uma verde grande e cítrica e uma pequena e singela. Um dias desses eu comprei três maças. Uma vermelha não tão boa, uma verde bem gostosa e uma pequena de dar gosto. Um dia desses comprei três maças. Ah, é, um dia desses, desse dia de maças, eu fui feliz. Eu senti sabores bons, chuva forte e corpo vivo. Um dia desses eu fui feliz. Nesses dias de maça eu fui feliz. Bem feliz. Eu senti olhares, volúpia e paz. Um dia desses saberei escrever, escrever sobre dias de maças, dias que trazem paz.

E como caminhasse vagarosamente, Uma moça, Iaiá, viu a máquina do mundo. A máquina fazia um barulho absurdo e era enorme, cheia de artifícios. Dificil era quem poderia entendê-la. Parecia tão complexa! Entretanto, Iaiá é uma pessoa que tem curiosidades e interesses especiais. Foi ver de perto. E Sentiu. O tempo que apressiona. A dor do descaso do outro. O coletivo descaso pelo outro. Motivos e desmotivos. Iaiá suspirou. Respirou. Percebeu uma entrada, foi correndo até lá. O corredor era cheio de peças complexamente entreligadas. Ao final, uma sala quase vazia, uma cadeira, um volante. Dizem que curiosidade mata. Mas Iaiá não se importa, quer mais descobrir, entender, viver. Assumiu controle. E voou! Sim, a máquina voava! Iaiá voou sobre as regiões verdes e cinzentas, pobres e nobres, montanhas. Havia vida, em todos os lugares, das mais diversas formas. Avistou sua casa! Percebeu que os mais vastos latifúndios também têm limites. Ver o mundo por cima amplia a linha do horizonte. Ao descer, era uma pessoa mais feliz, ao perceber que a máquina tinha sido colocada em seu caminho para lhe mostrar que ela, e somente ela, seria capaz de assumir o controle de seu próprio mundo. E que isso lhe traria algo bom. E como caminhasse vagarosamente, que uma nova fase se iniciara.

Seu sempre amigo e irmão, Klauss Schramm