sábado, 26 de novembro de 2011

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Clarice Lispector.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011



















Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo, mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo,
era uma coisa sua que ficou em mim,
que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás

Cazuza - Poema

O capitalismo é uma corrida.

por Inaiara Gonçalves e Rafael Magalhães

O capitalismo é uma corrida. Estamos sempre buscando desenfreadamente por novas técnicas, para assim obtermos um sucesso profissional ou até mesmo pessoal. Estamos sempre à procura de sermos melhores que os outros, e nos destacarmos em meio a todo esse sistema. A questão é que isso já está impregnado na sociedade, a própria ideologia criada pelo sistema estigmatiza isso na gente. E a partir do momento que pensamos só em um desenvolvimento próprio em relação às coisas chegamos ao ponto principal: O individualismo.

O capitalismo só é compatível com a liberdade individual, a propriedade privada dos meios de produção, visando assim objetivos de uma só parcela da população. Não tem como o sistema beneficiar todos, se seu principal objetivo é individualizar tudo. E então acabamos criando duas classes principais da economia capitalista: O proletariado e a burguesia. E é exatamente isso que acontece, o isolamento de pessoas, a individualização de soluções, e tudo isso beneficia o próprio burguês, que está sempre tendo lucro com a situação.

Mas como o ser humano chegou a ser tão individualista? A verdade é que o Capitalismo cria um ambiente favorável a isso. Aprendemos desde criança quando nascemos que o natal é a época de ganhar presentes, até o aluno de ensino médio de que deve estudar bastante para ter um futuro bom e um ótimo emprego (em parte isso é verdade, claro), no entanto, esse individuo quando pronto é jogado contra outros para disputar por um mesmo objetivo (poder aquisitivo) , iniciando um jogo de sobrevivência para ver quem se destacará, e ai que entra a ideologia capitalista de que o individuo deve progredir social e economicamente, não importando os artifícios que irá usar, ou caso não consiga será simplesmente descartado.

Muitos acabam aceitando o que lhe é imposto e se acomodam a ideologia, passando a agregar as próprias características capitalistas à sua visão de vida. E o que acontece? O sistema acaba manipulando o próprio ser-humano a acreditar que está tudo bem, a ter a ideia superficial de que ‘’pobre é pobre porque quer’’, a tornar-se cego e não perceber que a pessoas morando de baixo da ponte, a acreditar que ele não tem um dedo de culpa nisso e que é tudo culpa do governo, porque o sistema proporciona isso. Porque o sistema é movido pela própria desigualdade.

“O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem; a essência domina-o e ele adora-a.”

Karl Marx.

O ponto crucial está ai, criamos uma essência alienada. Nos tornamos meros fantoches de um sistema. E então, o homem rompe com os seus princípios e a essência, a real essência humana esvai-se.

domingo, 6 de novembro de 2011

Vivamente morta.


"Somos mostras e amostras (...)" Teatro Mágico.

Senhora de idade, cerca de uns 75 anos, fios brancos como pétalas de rosas caiam e escorriam até a nuca, nem lisos nem enrolados, eram diferente dos outros fios, estavam ali porque nasceram ali e morrerão ali, simplesmente, e não para se exporem comparativamente aos outros cabelos. Os traços da velhice eram evidentes envolta de seus olhos - mas esses ainda vivos mostravam ao mundo o introspectivo de uma alma que lutou e cantou a cada vitória, e nas perdas declamou Lispector. Trajava um vestido branco que usava desde a juventude, ele era rendado e delineava seu corpo marcando os traços pungentes de sua adolescência, os pés estavam descalços, as mãos leves e finas sob a colcha de retalhos. Em seu semblante pairavam as lembranças da infância, as cirandas, os beijos ingênuos, os olhares cálidos de frescor. Sua boca ladina e levemente sorridente evidenciavam os amores da vida inteira.

Ela estava diferente do mundo, não era massa moldável nem amostra exposta, era altruísta, falsidade estava longe, paz permeava seu ser. A janela em cima da cama estava aberta, o sol brilhava como nunca o azul do céu era límpido. Um sorriso abriu-se em minha face no mesmo segundo que uma lágrima escorreu. O quarto era isento de obscuridade. Fitei-a por inteiro, ela era minha mulher, lindamente graciosa e distante... Estagnada, morta, porém, mais viva do que nunca. Era minha, e agora de um mundo desconhecido.
A luz entrou e pairou em cima dela, foi quando eu percebi que doía. Doeu demais.
E em sua lápide havia o inscrito: O sol pairou aqui, a chuva veio, e o escuro resplandeceu.