terça-feira, 29 de outubro de 2013

Montanha de palavras querendo sair.

pra ouvir ao ler: http://www.youtube.com/watch?v=uEdC4PwWihQ [ouça junto, ou não leia. É importante. A música, faz parte do texto.]

Eu sempre gostei de escrever, de juntar cada pedacinho de letra e colar numa sentença, de mimetiza-las em papel e mimetizar papel em sentimento. Eu sempre gostei de sentir. Hoje, uma moça bonita, disse pra mim que gosta da forma como sou livre, da quantidade de cor que eu tenho na minha vida e de quantas histórias eu terei pra contar pros meus filhos. Filhos, será que terei filhos? Às vezes eu paro pra pensar, nessa coisa de casar, família e todo o mais. Gosto da ideia. Mas tenho tantos planos que se desencontram a esse. Sonho em dar aula de francês em alguns lugares da África que falam essa língua que eu tanto gosto. Sonho em fazer um mochilão pela América Latina com o moço que é anjo da minha vida. Sonho em escrever um livro antes dos 20. Sonho em montar uma trupe de teatro e ficar um mês passando em cidadezinhas que não tem muita arte e levar a minha -mesmo que desajeitada- a minha arte pra eles. Sonho em tanta coisa.
Sonhava que a gente ainda tivesse juntinho. Gostaria que não tivesse sido somente uma noite. Uma noite. Um mês. Trinta dias, foi aproximadamente isso não é? Ah, só pra constar, foi a primeira vez que eu dormi junto com alguém. Alguém assim, que eu tava gostando. Foi a primeira vez que eu me senti acolhida. Que eu sorri e vi sorriso de volta. Das outras vezes eram sorrisos confusos e cheios de vontade de entender. Dessa vez, foi como meus sonhos, foi honesto. Não precisava entender, bastava estar ali e sorrir e gostar. Gostar da companhia era suficiente. E por que não foi suficiente pra durar? Me diz moço! Me diz por que você desistiu da gente? E das nossas conversas bacanas e dos nossos carinhos, de compartilhar mensagens de boa noite e ir dormir um pouco mais feliz. De passar horas sentindo nossos corpos juntos. De não querer largar. 
Me explica me explica porque eu tô sentindo
tanta saudade
me explica porque você foi embora
me explica
me explica
me explica porque as palavras tão rasgando-me o peito e gritando gritando de saudade de você! e das noites que não vivemos e de cada instante do que existiu, do que teve e não teve.
de quando tomamos sorvete com paçoca 
pintamos focas em ateliê
banho juntos 
-e todas essas coisas que eram saborosamente boas-
esquecer que estávamos na rua
quando nossos corpos se entrelaçavam
beijos no metrô
e da regina
da regina 

que falou pra gente, que devíamos aproveitar. 

Eu lembro que naquele dia você disse: ''Ela só tá falando a verdade. Que somos um casal bonito.''


um dia depois, eu escrevi no meu caderninho de escritos:

Regina estava certa.
Ultimamente tenho me pego escrevendo sobre flor. Deve ser porque elas são as únicas nas quais eu acredito. Elas ficam, mesmo murchas, elas ficam guardadas no meio do caderno e secam e anos após a gente vê como elas tão bonitas. Elas chegam num vaso e enfeitam a sala. Elas aparecem no meio da rua e pintam as árvores para nós. E são tantas, tantas cores, tantos tipos. Sempre achei algumas pessoas meio flores. Olhos de girasol e boca de tulipa. Corpo de rosa, talvez. Nunca me senti tão próxima de alguém , como delas, essas pétalas que despetalam-se e ainda assim permanecem. Acho que é por isso que eu gosto tanto dos corposflores que existem nesse mundo.

sábado, 26 de outubro de 2013

Pela manhã.

[11 de dezembro de 2012]


Hoje eu tomei um café numa mesa de bar. Não tinha floreios nem falas maquiadas. Não era sujo nem limpo. Era aquilo e ponto. Era real. 
- Por favor, quanto é o café?
- Um e vinte.
Pensei: "Na mulher ali da banquinha da esquina é um real" 
Oh vinte centavos. Vai mesmo fazer tanta diferença?
-Vê um por favor.
-Com leite?
-Não. Puro.

Ele me serviu, num copo de vidro que já perpassara várias bocas e mãos matinais. Que fora lavado e recolocado. Lavado e re... Consecutivamente. 
Agradeci. Ele perguntou:
-Só isso moça?
Respondi:
-Só.
- Um cafézin, só pra acordar , né?
Sorri, meio de lado e disse:
-É. Pra acordar. Isso mesmo.
Ele sorriu, nem tão de lado.
Pensei que era pra acordar mesmo, pra acordar ao lado daqueles raios que batiam no vidro que tapava os salgados fresquinhos. Comecei a tomar, o copo tava bem quente, senti o calor nos meus dedos. Engoli um pequeno gole, tava bem doce e fresco. Observava aquele local, só tinha eu, o balcão, uma moça com olhos um tanto envelhecidos e transeuntes à porta. Coloquei uma música e apreciei os dois ao mesmo tempo. O café com música e a música com café. E eu com os dois. 
Tava tudo bem doce pela manhã. Bem vivo. Sorri e nem sei se tinha motivo. Escrevi isso e talvez o motivo seja mais oculto ainda. 
Foi um bom dia.

-Obrigada moço, bom trabalho.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Vem. Prometo que cuido do teu medo.

explosão
clarão de dizeres
piano desafinado
agudo
falado

explosão
clarins de amor
tambor batendo
crendo
sendo

explosão
tim tim por tim tim
cada pedacinho de mim
de ti
de nós

cada pedacinho de dor -amor-
cada pedacinho de cor
cada pedacinho da gente
colados da forma mais bonita
que o mundo deixar!

recortes cotidianos
que falam, retratam, explodem

expelem

sem medo

com cor

-só colam-

e formam

nós dois.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

dos dias que foram

[pra ouvir ao ler: http://www.youtube.com/watch?v=H2-1u8xvk54


Nunca pude entender suas palavras. Nunca pude entender suas verdades e nem a forma como não consegue usar a vírgula. Ainda assim, gostei tanto do que li! Tanto que cê nem imagina, é. Talvez você não imagine muita coisa sobre o quanto eu gosto de você.
Nunca consegui entender como pode não ligar pra banhos de rio e pés descalços em jardins cheios de terra com chuva fresca.
-Comer amora em dias de sol faz bem , meu amor.-
Não gostar de viagens. Ou não gostar de fazer alguma coisa que liberte. Trinta dias talvez não sejam suficientes pra te entender. Não, infelizmente não nos conhecemos. Infelizmente não houve tempo suficiente pra eu terminar o dicionário que estava fazendo pra ti e entregar-te junto a um beijo. Não houve tempo pra irmos até a minha tia que mora no interior e passarmos um tempo juntos apreciando os dias fora de São Paulo. Não houve tempo pra tu vir em casa assistir Almodóvar comendo muito brigadeiro. Nem pra roubarmos um carro e ir fazer um mochilão pela América Latina, ou ir pro Tibete -mesmo você não gostando de subir montanhas- Nem tempo preu te levar na praça, sim, aquela mesma.

Houve tempo do sorriso e do corpo que sempre soube que queria estar por perto. Sim, ele sempre provou pra nós dois, que queria estar o mais perto possível um do outro. Esquentando cada parte de nós. E costurando as doçuras vãs das quais eu falei naquele poema. E as verdades que não são verdades. E as mentiras que não são mentiras. O sempre querer um pouco mais. E mais. E mais. Até que o mundo postulasse o fim -mas até aí, tinha tanta coisa pra vi(vermos) sermos!-
foi bom. Sempre gostei de corpos comigo. Sempre gostei de viver. Conhecer. Permitir. Sempre gostei de ti. Desde o dia em que te vi pela primeira vez. Sempre gostei do teu sorriso e da forma como falou comigo da primeira vez. Esse jeito tão seu. Tão encantador. Do teu beijo. Do teu abraço e de cada partezinha de você.

Não, moço bonito, eu nunca vou entender essa coisa de desistir

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Por um instante. Deixei de ser Iaiá.

Batia minhas mãos ao som da música que eu ando usando pra escrever. E perdi meu escrito. Tive que começa-lo novamente. Odeio perder palavras, ter que retoma-las depois de já te-las conjugado.
Arte. Pessoas. Amor. Viagens. Comida. Tesão. Prazer. Risos. Amor. Filmes. Músicas. Meus escritos. Dias de sol. Dias de chuva. Nada. Absolutamente nada disso fazia mais sentido. Nem um pedacinho do amor que eu já doei ou recebi. Nem a minha amizade mais profunda fazia sentido. Apenas minha irmãzinha, talvez, por ela representar o oposto do que eu sentia. Apenas ela é o que havia restado de importante no meio daquela montanha de dor. Aquela pequena do sorriso grande. Olhos parecidos com o meu. Aquela pequena que um dia, virou e disse: Fica com quem te fizer chorar menos.
Ontem saiu tanta água salgada do meu rosto que eu achei que eu ia morrer afogada. Era água que misturava com fogo. Queimava tudo dentro de mim. Três semanas depois de ter fodido com meu coração eu me permiti. Eu realmente me permiti. Eu realmente acreditei. E você conseguiu me ceder esperança, um tiquinho de esperança depois de um ano de confusão pulsante dentro de mim. Um ano que acabou. E eu pensava que poderia viver uns bons anos contigo. Umas boas risadas, como as que surgiram quando nos conhecemos. As coisas bonitas, é você sabe. Essas coisas bonitas e gostosas que aconteceram, quando você ainda tava disposto a se permitir.
Ponto.
Ponto.
Ponto.
Como prosseguir?
Você arrancou de mim cada gotinha de esperança. Cada gotinha da imensidão de coisa nova boa que eu tava sentindo. Todos diziam ''Oh Iaiá, como você tá feliz!''.
Felic(idade)
Idade da pausa. Idade da falta.
Eu nunca me senti nessa idade. Nunca. Nunca senti que nada tinha valido a pena. 
Você me ensinou a desistir. Desistir de tudo de mais bonito que eu já havia vivido. Desistir, porque é mais fácil, é um caminho mais fácil.
Você arrancou de mim o que eu tenho de 
mais bonito
mais Iaiá
mais real
mais latente

você conseguiu
como nunca nada tinha havido antes

me arrancar amor
e trancafia-lo
e fazer-me acreditar
que ele -e mais a mil e uma coisas que ele proporciona-

não valiam de nada.

e isso
eu te digo

que nunca tinha doido assim.

- Continuarei sendo estupidamente: Arte. -

Sempre fui palavra. Sempre. Desde que parei de pintar. Sempre gostei de escrever e tentar organizar as coisas assim. Não se assuste se um dia eu te fizer um texto dizendo tamanho afeto que tenho por ti. Não se assuste se eu disser.
Porque eu nunca
nunca tive medo das palavras.

elas não precisam fazer sentido pra serem válidas
não preciso deixa-las porque acho que são besteiras
-será mesmo besteira expor o que se sente?-
vocês sempre trouxeram um tico de sabedoria pra mim
e um tico de alivio
com clarins 
e sons gostosos ao pé do ouvido
e foi por causa de vocês que eu me livrei dos meus fantasmas literários, daqueles que sempre perpassavam meus escritos e me faziam mal. Vocês mimetizaram tanta coisa!
e foram vocês que me entenderam em dias ruins
e foram vocês que exerceram papel fundamental na minha escolha de graduação
foram vocês, letras que andarilham minha boca

sempre foram vocês

que cuidaram de mim.

sábado, 19 de outubro de 2013

Porque eu sempre colhia flores no jardim, e colava elas na parede. Achava que assim, elas iam ficar pra sempre comigo. É exatamente aí o ponto em que trato da minha parte mais menina: Sempre achei que as coisas não fossem perecíveis. 

Acho que é por isso que chorei tanto, quando ela morreu de câncer.
Metástase. Das bravas.

Aquele dia eu aprendi,
que 

-crenças a parte-

nada é pra sempre

Rabisc(ando)


um dia eu acordei
e o Otávio tinha ido embora.
tava doendo pra caralho
rasgo no peito
e todo o mais que só quem se apaixona sabe.
(foi pós-um-ano. sim, doeu)

aí eu resolvi seguir
porque o tempo não para né
o tempo vai indo
e levando a gente.

três semanas depois
conheci outro Otávio
bem diferente do primeiro
-porém, com dilemas semelhantes-

gostava do jeito que ele sorria
um jeito engraçadin
era sorriso que com toda certeza
tirava sorriso do outro

gostava da forma como ele me fez rir
gostava de pensar que dava pra preencher
o vazio que outro Otávio deixou.

a forma como ele me tocava
ou o jeito inóspito como nos conhecemos
ou horas horas horas de beijos
e corpo
e segurança
que foi chegando
de fininho

-em algumas semanas, eu já nem pensava mais no outro Otávio! Tava tudo tão bonito!-

Gostei dele.
Ele gostou de mim.

-e eu achava que isso ia bastar , pra ele não ir embora, que nem o primeiro Otávio.-

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

-mal escrito. foi só pra falar dos meus castelos quebrados.-


porque às vezes a gente cansa
de construir castelos
e vir uma ventania maluca
levando ele embora
ou a maré que passa por cima

porque é cansativo
catar cada grãozinho
que nem se junta mais
pois estão todos
todos molhados de choro
misturado com o sal da maré
e com as pitadas de vento

e despejam
correm feito riacho
encontram dores passadas
se aglutinam dentro de nós
e gritamos: cansaço!

-espaço-

e com calma e muito ardor
você vai juntando, cada pedacinho de areia
cada partezinha do quebradiço
da caixinha de música que para de tocar
e você começa a cantarolar
e quando voz não há mais
você chama sabiá pra vir junto
e quando ele cansa
você arranja outra forma de arte

e você continua
sempre
você sempre continua

a construir novos castelos.

-é visceral, é inteiro, é tão grande dentro de mim, que às vezes penso que vou explodir-


Com toda a certeza é absolutamente confuso como as palavras perpassam em meu coração. Como se elas fossem parte de mim, parte de cada pedaço do meu corpo. Esse corpo dramático, que mergulha em absolutamente tudo que sente. Esse corpo que sintomaticamente tenta passar amor. Sintomas. Será mesmo sintomático? Não. Não falamos de doença. Há quem diga que o amor é doença crônica. Pois bem. Não sei sobre o amor. Nunca soube amar direito. Não sei sobre tanta coisa. Mas sei que já senti. Que sinto todos os dias quando abraço um amigo querido ou quando deixo minha irmã na perua e vejo ela da janela me acenando tchau com um sorriso enorme de sete anos. Ou daquela vez, que achei que ia morrer depois que terminamos e eu me vi te magoando. Ou quando fui no parque e ensinei um grande amigo a girar o mais rápido que conseguisse, cair na grama e olhar pro céu. Ou quando tantas coisas! São tantas! Às vezes me pego lendo os meus textos e vejo que falo tanto sobre amar. Cheguei a intuição de que talvez eu fale tanto disso, justamente, porque quando leio minhas palavras, o entendo melhor. Entendo melhor toda essa montanha de dizeres que existe dentro de mim. Gosto do mundo. Apesar dos pesares, sim, sempre gostei de cada cantinho que ele tem a oferecer. A gente sabe, que é um balaio bom.

Nunca saberei estar pela metade. Dizer meias palavras, te abraçar pensando no fim. Porque no fundo,

bem no fundo

eu sempre acreditei no amor.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

-confluências de dizeres-


tava precisando escrever
botá a boca no trombone
te dizer que eu cuido do teu medo
que eu cuido das tuas dores
que eu cuido de você, moço
me deixa fazer parte
me deixa fazer parte
mesmo que a gente sinta que tudo
tudo nessa vida segue um rumo
mais pro fim que pro começo

tava precisando escrever
pra ver se assim me entendo
compreendo meus anseios
meus receios pós-dor-passada
meu medo bem menina
de pisar em campo novo
e colher fruto recente

eu nunca soube amar direito
nunca soube ser vazia
ir com calma
ir deixando

eu nunca soube amar direito
nunca soube ser metade
ir na beira
ir distante

sempre soube
ser inteira
(intensa)
clara
exatamente iaiá
do jeito mais enroscado
cheio de prosa
cheio de cor
de cuidado
-mas não, eu nunca soube cuidar de mim-

cheia de vida
pra dar , receber
pra ver
e engolir cada pedaço de algodão
e doçura
que cola na boca e fica
e dizeres piegas
que dizem mais que muita coisa

Não. Eu nunca tive medo de falar.

-me perdoa moço bonito? por ser tão iaiá!-

por ser assim
bem assim
bem iaiá

ligeiramente amante da vida.
engraçado como sou menina da prosa
e ultimamente tenho tentando fazer poesia,
talvez, essa tentativa venha do fato de que as palavras tão meio cortadas dentro de mim, digo, tão empilhadas feito prosa, mas só conseguem sair poesia. Porque pra quem escreve desde os 14 anos, as palavras vivem se modificando e sabendo sair de outras formas. É curioso, como essas sorrateiras sempre me puxam e acabam saindo da minha boca da forma mais sincera possível. Elas são só palavras, sim
mas são grandes
tão grandes como qualquer outra forma de arte.
são absurdas
são sentimento
são vontade de gritar
girar e clarear toda a forma de dizer.

sempre soube
que pra escrever
não precisava de diploma.
o amor no tempo de cólera
amor no tempo da pressa
amor no tempo da dança
amor no tempo do estar
amor no tempo da saudade

ah, o amor!
esse que deu literatura
deu pintura
e samba a dois
deu vontade de viver
deu querer e não querer

ah, o amor!
saudoso moço
que amarra as pessoas
ou nem moço
é sem sexo
é amor
é de todos

-ele adora puxar cada um de nós- safado!

talvez
seja uma das únicas coisas
que não se precisa mendigar
ele brota
como amora em pé novo
ou criança aprendendo a andar
como preencher o vazio
de todos os dias
dias preenchidos por tanto tanto
dias que se enquadram ao sistema
e se enroscam cada vez mais
nas convenções diárias
e eternas
e catárticas.

e no fim
o amor
nos escapa pelas mãos
porque ele adora ir e vir
mas ele sempre
sempre
estará
em
cada
pedacinho
de nós.

-desculpem-me os pessimistas, mas não tem como fugir.-
tô precisando do interior
de água fresca pra entrar na boca
cachoeira pra molhar cachola
gente nova pra dançar um maraca
dias de revolução interna (talvez)
dias de pintura , como quando tinha 12 anos
dias de enebriar a alma

tô precisando fugir
pra conseguir chorar
e botar pra fora
cada pedacinho de saudade
cada pedacinho do passado
cada pedacinho mal concertado
que sempre assola a gente
quando as coisas estão
um pouco desarrumadas

tô precisando de você aqui
pra me abraçar
e eu fingir que
vai
ser
por
um
bom
tempo.

-prefiro acreditar
no lugar de fingir-

permite-me?

sábado, 12 de outubro de 2013

Temos um corpo: E ele somos nós da maneira mais real e orgânica possível. Diria que eu sou corpo amor. Tem muito amor e muito corpo por aí, até mesmo, na vertigem do dizer.
E isso é preci(o)samente válido.
não consigo
cuspir pra fora
as dores
que me amarram
simplesmente
porque

é coisa demais.
tava borbulhando por dentro
a raiva daquela moça
que só sabia zumbir e xingar
botar pra fora o monte de merda
que ela guardava dentro daquele corpo que só sabia gritar

tava borbulhando de tristeza
dentro de mim
que ouvia e ouvia e ouvia
dia a dia
palavras de dor

tava tudo borbulhado
defecado
café passado
ponto errado
vida cheia
moça
que
era
pra
me
amar
-e eu amar de volta-

Ei guri, deixa ser.



Me disseram uma vez que coisas boas nascem em pé de árvore, como eu gosto de amora, digo que elas nascem em pé de amora, num dia qualquer. Me disseram uma vez que coisas boas nascem em qualquer espaço de tempo em qualquer lugar com qualquer pessoa por mais corrido que seja tudo isso.
Diria que a parte em que o mundo cênico que vivemos se desfaz, é exatamente no ponto em que as histórias de vida se entrelaçam, em que as escolhas -a única e exata- se esbarram por aí. E quando uma escolha coincide com a do outro? E quando a arte causa explosões de sentidos dentro de cada um?
O mundo não é tão ruim assim.
As coisas não são tão ruins assim.
Pois em meio a determinação de tudo, ao não-falar do sujeito, ao quão engasgado somos todos nós. Em meio a tudo isso existem as doces sensações que nos puxam pelos braços e levam-nos embora. E eu não me importo, se esses, esses sentimentos venham determinados pela minha história de vida. Porque eu gosto dela. Eu gosto da minha história de vida, eu amo exatamente o ponto em que ela se entrelaça com mil e umas outras e a gente conhece e permite e vive no meio do chão de ladrilhos que perfuram os pés. E esses, por vezes, se tornam pitadas de cânfora com algodão, e aí, nem é tão dificil de pisar.
É normal dar errado.
É normal dar certo.
É tudo bem normal, e nós, sempre nos achamos no direito de prever.
Pois dane-se. Que seja anormal, normal, claro, escuro, roxo, azul, vermelho, que seja determinado que seja caos que seja chuva que seja sol cor amor.
Que seja.
E basta.
Basta que seja. 
Bem pertinho.

sábado, 5 de outubro de 2013

- Godot, chega logo! - *¹


Puta que pariu
tô cansada dessa vida farrapo
que é dada a todos
dessa vida que resume-se
em: ter.
onde o ser fica de lado
a dor fica de lado
olhar fica de lado

e só resta: a sórdida vontade de
ter
ter
ter
ter

Puta que pariu
tô cansada dessa coisa louca
de trabalhar pra ganhar
e ganhar pra gastar
e gastar pra ganhar o quê?

Cansada dessa andança sem rumo
dessas esquinas sem casa
dessas casas vazias
cheias de corações famintos
e de pessoas morrendo
feito bichos jogados
no chão chamuscado por concreto

massas e mais massas
que juntam-se e reverberam
a indignação interna
porque tem tanta coisa explodindo dentro de nós
tanta coisa borbulhando
sobre nossas faces que estapeiam umas as outras
e querem sempre sobrepor-se
em meio a um nada
uma espera
insana
discreta
que acorrenta
cada mão
cada braço
cada passo
de cada ser.

---------
*¹ Esperando Godot é uma conhecida peça do teatro do absurdo publicada em 1952 por Samuel Beckett. Seu título era usado como expressão para indicar ''uma espera infrutífera''.

-meu amigo disse que o amor é um negócio meio zoado-


Sei não amigo meu,
essa coisa de amor
é cheia de revirado
parece feijão com arroz
em dia de fome
que cê come com toda voracidade
essa coisa de amor
é muito pra cabeça
tem nem palavra não
pra descrever essa coisa maluca
que revira o estômago
e deixa a gente de cabeça pra baixo
dá brabuletas na barriga
sorriso estampado na cara
olhar olhando o outro
e chamando pra perto
essa coisa de amor
é pra quem tem força
e quem tem garra
de ficar
doer
voltar
pedir
ceder

abraçar em dias de chuva
colar no corpo
sentir a pele
a boca
e cada partezinha do corpo alheio
essa coisa de amor vai e vem
pula e corre

-imensidão de tesão que pulsa dentro da gente-

mas sempre
essa coisa de amor
sempre pairou por aqui
me puxa pelos cabelos
me vira o corpo inteiro
e fica.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

-(poema) de um verso grande.-


passarinho
sai do cárcere privado
que acorrenta alma
abre asa pro aberto
abre as penas pro voar
porque nesse mundo
por mais maluco que ele seja
por mais sozinho que estejamos
no meio de tanta gente
de tanta voz
de tanta luta
por mais!

passarinho
vem pra cá
vem comigo
vem voar de mansinho
sentir as cálidas e minimas doçuras vãs que permeiam essa vida cheia de coisas e verbos e pessoas e tristeza e vazio

(respiro)

vem preencher vem
as verdades que não são verdades
as mentiras que não são mentiras
os ditos
que são simplesmente proferidos
e acabam
mais duram
na lembrança.

e eu leria tudo isso aqui num ritmo sem verso
num verso sem ritmo
que só sabe dizer
que quer
um pouco
muito
mais