terça-feira, 21 de outubro de 2014

Não sei se o mundo parou
se o sono chegou
se a vida sorriu
se o caso passou
se a noite surgiu

Não sei se a vida mostrou
pra mim
pra você
por onde seguir

só sei que aqui
me sinto melhor
nos braços 
de abraços
que esquecem o ''se''
e pensam em ser
somente nós dois.
Os olhinhos da menininha brilham
lá de cima do morro
onde o céu é mais perto da terra
e a terra mais perto de nós
terra farrapa
dos pés descalços 
bocas famintas
barracos caindo

pernas correndo:
cinco da matina. 
busão lotado. 
suor. 
sono acumulado.

-anoiteceu-

volto a ver a menina
lá em cima do morro
suspirando 
logo pesava a dor
apática. franzina. pequena.
só reluzia seus olhinhos
que esbugalhados
fitavam as estrelas
com vontade de alcançar o céu
e desejo de comer as nuvens.
Não sei se o mundo parou
se o sono chegou
se a vida sorriu
se o caso passou
se a noite surgiu

Não sei se a vida mostrou
pra mim
pra você
por onde seguir

só sei que aqui
me sinto melhor
nos braços 
de abraços
que esquecem o ''se''
e pensam em ser
somente nós dois.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

o mundo é imenso
hostil
intenso
viril
calda de morango em erupção
''porra, queimei o dedo!''
grita a moça sedenta pelo doce
da panela imensa onde borbulha
o sulco grosso da vida
que vermelha
escorre
por entre os dedos lambuzados
da garota que os chupa
como se tivesse cinco anos.

ela come vida
todos os dias,
come amor
come dor
momentos
pessoas
sorrisos
leituras,
deleite da linguagem!
faminta! por palavras
que tornam o mudo,
mundo.
até que
queima
os dedos
as mãos
que tanto querem tocar
trazer pra perto
e com afeto
tornar doce.


''When I think of all the things I've seen
And I know that it's only the beginning
You know, those smiling faces
I just can't forget them
But for now I love you''

Deitados. 
-Ei, tenho uma coisa pra falar pra você.
-Fala.
-Te amo.
Inesperado. Completamente inesperado.
Ainda tenho reflexões se não foi um momento ilusório ou se eu já não havia adormecido. Mas não. Foi dito. Verbalizado. Sorri. Sorri muito, mas como estava deitava de costas, ele não viu minha expressão. Contive a felicidade e logo saiu um:
-Eu também.

-Sério?

-Bastante.

É claro que era sério. Tão sério quando o eu te amo dito naquela carta piegas. Tão sério quanto o bem enorme que você tem me feito. Sabe, eu já não penso mais no fim. Você conseguiu me fazer parar de postula-lo antes dele chegar, conseguiu me mostrar que posso me permitir viver isso da forma mais saudável possível... Conseguiu me tirar toda a insegurança provinda das lágrimas anteriores.
Obrigada.
Pela parceria
as prosas
músicas
leituras partilhadas
noites quentinhas
beijos
tempos
riso
braços
abraços 
laço
que tanto se fez
sem dar nó
laço solto
quase uma fita de cetim vermelha solta no céu
feito pipa
empinada por criança
que solta-se nas nuvens
colorindo-as
logo, há o riso da infância
talvez
sejamos crianças
que têm aprendido
sobre o amor
cujo laço
pode ser leve
cheio de doçura
compreensão
troca
toque
diálogo
só(risos)
nos ditos

e digo:
te amo.
''Got no one to call your own
Got no place to call your home''


Você nunca vai entender o que um ''Te amo'' representa pra mim. Muito menos o motivo que me levou a escrever sobre um ''Te amo'' dito por você... Por alguém que eu também amo. Caso contrário, saberia a importância que aquele texto tinha. E eu não precisaria perguntar ''Você leu?'', horas depois de ter enviado, pra que só assim você dissesse algo. Algo como: Obrigada.
Não tem como a gente escolher a reação das pessoas perante nossa demonstração de afeto. E nem seria bom escolher. Nem justo.
Mas eu já nem sei mais o que é justo nesse mundo que se perde na correria diária e esquece das singelas ações que fazem toda a diferença. O relógio, as brigas, os desequilíbrios controlam mais que o amor. O tempo que não é seu. O tempo que te controla. Em tempos de extrema falta de atenção pergunto-me o que fazer quando as lágrimas enchem-me os olhos e me sinto só. Quando escrevo um texto como esse, um poema desabafo, ou qualquer maltrapilho de palavras que expõe o quão estranha sou. 
Ainda assim, eternizo algo em palavras e você mal percebe que não coloco qualquer pessoa no poema. E você mal percebe que faço de nós poesia. E mal percebeu que naquele texto eu perdi o medo do fim, eu já nem pensava mais nele... Além disso, havia todas as pequenas palavras que tentavam dizer sobre meu afeto absurdo por ti. 
E. Desatenção. Distância. Surge. Some. Uma fração de segundos e o relógio já volta a pulsar. 
Me sinto tão só.
Tão só que só de pensar
dói. As palavras lacrimejam junto aos meus olhos
e perdem-se no redemoinho interno que não sabe mais escrever. Nunca soube. 
Só sabe de afeto virando palavra e palavra virando afeto
e em nós,
tem faltado afeto virando palavra
como o texto que eu te dei
e você nem notou direito
o quanto de afeto virando palavra
havia ali.
não dá pra chorar lá em casa
porque nunca tive um espaço só meu
tem gente por todo canto
conflito por toda hora

-ninguém se conhece mais-

-Boa noite.

-Boa noite.

Jantei sozinha essa noite. Jantamos sozinhos todas as noites por aqui. Não há mais algo que nos ligue ou qualquer resquício de conexão. Tudo falho. Amor falho. Casamento deles, falho.
Infância falha. Abraços nulos. Ausência plena.
A única que ainda tenta unir-nos é a pequena, que aos seus oito anos ainda acredita na palavra: Família
e em bons poemas.
a rotina nos prende
nos come
nos fala: corre! anda! compra! faz! 
a rotina chegou
e tirou-me o tempo
pra fazer poesia

mas ainda há aqui
a poeta sedenta 
por palavra 
que grite
mais alto que o tempo

sem cronometro exato
sem horário marcado
a palavra pulsante
chega do nada
pedindo perdão
pela poesia falante
que está em falta.