sexta-feira, 29 de maio de 2015


caralho tá tudo saindo de mim
explodindo indo correndo dizendo
que não quero mais
deixar de falar

pois nós, mulheres,
temos a voz mais forte
do mundo

somos a poesia gritante
de cada dia
de cada dor
de cada partezinha
da luta

cêis sabem bem
o quanto já doeu
já rasgou
o corpo por dentro
e saiu em forma de
lágrima

mas lembre-se
que a sua voz
vai sempre gritar:
fora opressão!
fora opressor!
fora fora fora

que a gente tá aqui
pra lutar e dizer
toda a poesia
ardente
de ser mulher.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

vozes
vazios
vômitos
vão e vem

no corpo
de cada um

cujo mundo
voraz
vive
pedindo
pra correr

voar
não nos é permitido

estado de corpo
translúcido em emoções noturnas
tenta escrever algo sobre o mundo
que não é mais vivo
que não é mais visto
nas minúcias poéticas
do dia-a-dia.
membro fálico jorra gozo
membro fálico jorra gozo
membro fálico jorra gozo

sem ao menos notar
as palavras que estão ali
por baixo, no corpo alheio

a flor do sexo da garota
exala tesão que não é
suprido
sentido
visto
olhado com devida atenção

a flor da boca da garota
exala falas que não são
escutadas
entendidas
olhadas com devida atenção

a flor do corpo da garota
exala vontade de estar
junto
completo
intensamente
sentido

atenção devida

não há
não há
não há

pois há
somente falos a jorrar.

SOFREGUIDÃO

















sobre o guidão da bicicleta
estão minhas dores
seguro-as fortemente
conforme o vento
sopra-me o rosto
cujas lágrimas
escorrem
incessantemente
como um poema
sem rima qualquer

sobre a escuridão da noite
estão minhas dores
enxergo-as claramente
conforme a lua
cobre-me os olhos
cujas lágrimas

ah, as lágrimas
não saem mais
nem as palavras
nem a gente
a gente não sai
do mesmo lugar
cheio de dor
dor minha
dor de moça
oprimida
não-vista
não-sentida
sobre o corpo que me pertence
não me sente! você
não me sente
nem me vê

e meus olhos
só veem
poema desconfigurado
em lágrima.

SOME

some dos meus pensamentos noturnos
some dos meus poemas noturnos

desaparece

das linhas contundentes
vermelhas ásperas rígidas
como o beijo dado

dos espaços contidos em mim

de mim
do meu corpo
que nem corpo é mais
virou palavra cuspida
pós-opressão

pré-socráticos
do amor único

talvez vocês estejam certos

não há devir
nem vir-a-ser

muito menos
várias formas de amar

hoje somente há

o ser que somos

o ser que é:
silencia(dor)

segunda-feira, 4 de maio de 2015

mundo vasto mundo
cadê drummond para nos salvar
da poesia escassa
das convenções diárias

cadê clarice pra dizer por mim
sobre a hora da estrela que não chegou
sobre a morte provinda de dentro
que acordou-me ontem a noite
e disse que estava ali

cadê eu cadê você
cadê nós


na garganta enrolada
num poema cuspido
de palavras grotescas
onde a rima nunca chegará.

pr'uma moça bonita que passou

livre
moça
você é livre
pra findar
pra começar
pra dar pra quem quiser
pra sorrir o quanto desejar
pra gritar pro mundo
o quanto dói

livre
moça
você é livre
pra ser livre

a escolha é sua
o corpo é seu
as palavras são minhas
partilhadas com você
portanto,
as palavras são nossas

moça
eu tô aqui
você aí
e somos todas
livres

pra poetizar da forma mais escancarada possível
e gritar cada vez mais
pro mundo
que somos nós
que decidimos
que escolhemos
que
ah moça, dói
eu sei.

mas passa
passa porque podemos
passar juntas.

O mundo é grande

o mundo é grande demais
pros meus poemas rabiscados
o mundo é grande demais
pros meus devaneios entrelaçados
na mente que corre
por entre as palavras
loucas querendo sair

o mundo corre
eu corro
as palavras correm

e param

aqui.

nesse mundo corrido virtual
efêmero
dissolúvel
álcool etílico evaporado

vagões de metrô lotados
palavras dentro de cada um

qual é a palavra que você carrega contigo?

qual palavra? que palavra quero agora?

não sei
não sei mesmo

mas precisava
evaporar de mim
pra cá
na tentativa vã
de virar poesia.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

corpalavra

meu corpo
é palavra
viva

pulsa
pulsa
pulsa

e sai aos gritos
pro mundo
que eu nem sei quem é

não sou poeta
não sou princesa
não sou sua

sou minha
só minha
mulher

onde as palavras brotam
do fundo do peito e rasgam
a garganta para dizer

qualquer coisa sobre o amor
que não cabe em mim

sobre a vida que não cabe
nos meus seios
que tanto sentem

na minha boca
que tanto fala

nos meus olhos
que tanto veem

não cabe
em mim

como ser feminino
emancipado

emancipei-me

ao jogar
palavras

provindas do meu corpo
no papel.

sábado, 25 de abril de 2015

prédios conceituados
pedreiros esquecidos

livros famosos
revisores não vistos

peças diretores cantores dançarinos poetas pintores tradutores

e quem está por trás da cortina?

na luz do teatro
na voz do cantor
na sapatilha surrada
da bailarina linda
quem a fez?
quem fez a sapatilha?

somente
não sei

não sei

não sei

poderia ficar aqui
escrevendo essas duas palavrinhas
pra sempre
porque poesia
jogada
surrada

-como a sapatilha-

só serve
pra ficar
no papel.
não quero aplausos
assumo que
as curtidas
ajudam a seguir
não pela fama

mas pelo reconhecimento
daquilo que sai das entranhas
e vaza pro mundo
cão
caótico
catártico
confuso

pelo ser-sentida
e não ser-vista
portanto,
se me veem
mas não sentem
sumam
do clicar automático: curtir.
se não sente

não preciso

já há pessoas demais
ligadas no automático

mecânico
maquinal
involuntário

vai e vem
sem sentido
sem sentir-me
na íntegra

sente a si?
sente ao outro?

reconheça o poema
as palavras
as tão doces palavras
que sabem dizer gritar correr
quase que loucas
pra serem

sentidas

idas sem fim

de poesia

sincera.

sexta-feira, 24 de abril de 2015


olha pra dentro de mim
no fundo dos meus olhos
há a flor que não é escutada
no fundo do meu sexo
no fundo da minha boca
no fundo
o que há no fundo de nós?
de mim de ti
que juntos não somos nada
porque não há espaço pra dois
num mundo onde não escutam
as flores

e a poesia
fica assim
cortada
pela rotina

pela metade

pela hora certa
à cumprir

faz faz faz

ganha ganha ganha

pão?

gostaria de um pão com pitadinhas de jasmin
pra ver se assim
a poesia sai
menos caótica

e consegue

ser escutada

por dentro.
não é tempo
Carlos,
não é tempo
pros seus poemas
estarem nas prateleiras
mofadas
das bibliotecas
mofadas
das universidades
mofadas

não é tempo
nem espaço
nem desejo

sei que não queria assim, Carlos,
mas o mundo tá pra esses tempos
tempos da academia
que não enxerga mais
a flor que nasceu na rua,
Carlos,
ah, Carlos,

só há tempo
pra ser-visto
serviço
pagamento
no fim do mês

e flores murchadas
sobre a mesa de jantar.

domingo, 19 de abril de 2015

corpo
meu corpo
não aceito
meu corpo
cujas coxas
não são firmes
e os afetos
tão intensos
e o choro
sempre vindo...

porque é com ela
com a bunda dela
que cabe no shorts
curto de um jeito
sexy
com

-merda. queria poder não estar assim.-

mas é com ela
que você quis estar
naquela noite
e
porra
qual o problema?

e todos os outros
e todos as outras
coisas perturbantes

qual o problema?

qual meu problema?

acho que esses olhos grandes demais
essa mania de escrever poemas ruins
a bunda não tão
como a dela
você sabe
e
ah,
olha pra mim
não sou nada
nunca fui nada
além de uma
falsa-poeta
com corpo ruim:
lixo escorregadio
em forma de palavras.

gozo escorrido de machismo

chupa
chupa
chupa

- ei, não faz assim. seu jeans tá me machucando. -

olívia tira o jeans.

chupa
chupa
chupa

- posso gozar na sua boca? -

olívia diz que sim.

goza
goza
goza

fim.

olívia sorri.

riem
riem
riem

Otávio à toca
dois segundos

para.

- não tem tempo pra isso agora, Oli. -

olívia
só servia
pra chupar
e servir

chora
chora
chora

olívia
chora não
seu corpo é lindo
sua boca é linda
e a voz é sua
somente sua
então grita
mesmo
que seja
em poesia
esfarrapada.

sábado, 4 de abril de 2015


Quero desconstruir. Quero desconstruir essa porra toda provinda do passado.
E vai ser na prática. E pode ser que doa, eu não sei. Mas pode ser que traga frutos.
Eu quero tanto ser sua amiga. Tanto! 
E que todas as coisas boas que vivemos se tornem pitadinhas de amizade.
E que todas as coisas ruins que vivemos se tornem pitadinhas de passado.
E que nenhuma Regina me atordoe mais em sonho dizendo pra nós que ia durar, nem mesmo me dê vontade de chorar às vezes quando lembro da noite quentinha e seus lábios. e . pera. Para. Fim.
Fim desde que fim.
Finde esse poema em prosa
pra mim.
É muito estranho né? Parece que alguma coisa ancora a alma da gente junto. E leva, pra longe, pro dia mais longínquo. Pra lembrança mais exata. Pro beijo mais saboroso. E volta. E quando retorna ao presente, tudo fica de lado, mas a alma ancorada ainda está aqui. Ali...
E agora?
Como lidar com almas nas quais me ancorei
dentro de poesia e de saudade
Como lidar com essas almas que eu só quero
que se tornem doces amizades
menos poéticas
e mais reais.

domingo, 29 de março de 2015

não sou nada
nunca fui nada
não.
pera.
não sou Pessoa
não sou Clarice
não sou Frida
nem nenhum
daqueles
que admiro

não sou poeta
não sou discreta
não sou concreta
não sou
o que sou?

somente diga
que não se cansará
do que somos

sendo que
sou assim
tão iaiá

sem s
de ser.
inspiração: https://www.youtube.com/watch?v=QKkrA6legH0 

fotografia: autor desconhecido



sábado, 28 de março de 2015

passarinho, espero que esteja feliz.



para ouvir ao ler:



voltou
fantasma literário
dos tempos primórdios
onde as mão entrelaçadas
numa festa inusitada
se conheceram

noites na república
tardes corpóreas
banho juntos
onde os olhos debruçados
num conjunto alinhado
se amaram

voltou
moço complexo
das tardes confusas
onde as conversas ditas
em bocas lítidas 
se ouviram

dia na rua
moça parou
disse pra gente
que ia durar

mas não acertou

caminhos opostos
saudades dispostas

espero que
voltou não exista
para você.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

escuta,

eu te amo

no verso

de todos os poemas

que eu puder escrever.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015



Meu coração escorre pelo crânio, desce ao rosto e cobre as pálpebras cansadas do mundo corrido. Agita, sacode, encolhe: pequenino fica ali de soslaio observando tudo à fora. Aquele mundo gigante onde ele não cabe. Meu coração não cabe no mundo e o mundo não cabe em mim. E as palavras ficaram tão longe por tanto tempo que o coração quase parou. Não sei mais escrever. Não sei mais controlar. Ele desce, chupa-me os seios. Agarra meus braços. Abraça meu corpo. Meu coração torna-se olhos escancarados de medo da vida. Pulsa ansiedade, doença proibida em caso de famílias conturbadas e mães que não olham delicadamente pro filho e o afeto... Rompe.
Rompe-se tudo na conturbação que um coração gigante faz. As linhas do texto não são pra fazer sentido. São a única forma que tenho de cuspir cada sentença interna que percorre meu corpo.
Beija-me, oh coração! Beija-me de leve pra que o caos finde e a vida pare de correr. Abra seus braços e me ajude a fazer você caber dentro de mim. Não fuja. Não corra. Estamos juntos, não?
Eu só queria poder sorrir baixinho e te ter na calmaria. Mas você explode em sangue provindo das artérias que respiram freneticamente, corre dentro de mim, canta dentro de mim, grita dentro de mim. Coração, calma. Caiba aqui preu conseguir caber no mundo, por favor. 
Me ajuda a equilibrar na corda bamba que somos nós dois.
Me escuta.
Me esquenta.
E sem movimentos caóticos
tenha a doçura
de sempre ficar. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

solitude

o mundo desaba por todos os lados em que escorrem as lágrimas salgadas provindas da não confiança.
não confie no mundo.
não confie nem mesmo em você
porque nós humanos, somos capazes de fazer as piores burrices.

o mundo é só.
cada um no seu corpo corrido da rotina.

o mundo agora,
sou só eu.
escorrendo em lágrimas espasmódicas.

não seja ingênua moça,
não há amor no mundo

a bomba de hiroshima está em cada um
explodindo dentro de nós e esparramando para o outro
o outro que não enxergamos e que morre por dentro,
como nós.

dentro do quê?

adentro
em cada palavra confusa
das bombas explosivas que pairaram por aqui
e vejo que não existo 
em mim

e você também
não existe pra ninguém

e somos todos uma montanha de corpos escassos
que vivem só

e não há poesia que salvará dessa vez.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

[verso cinza]

poluição
sonora
de palavras

poeira
sonora

de palavras
pálpebras 
fecham-se lentamente
conforme as palavras tontas
escorrem na sonoridade
que martela a cabeça
da moça
que amou demais
mas ainda
não aprendeu a amar

que viveu demais
mas ainda
não aprendeu a viver

que poeta nunca foi
pois seus versos
são como cinzas
provindas do fogo ardente
que pulsa dentro dela.
Não aguento mais as lágrimas provindas dos poetas fétidos de amor. Não aguento mais o amor, nojento que escorre entre as minhas veias floridas de cores intensas. Não aguento mais sentir. Não aguento mais amar. Não aguento chorar.
As palavras não cabem, escorrem
explodem de cada parte do meu corpo que recorda a sua voz dizendo que me ama, que me enxerga. 
Talvez
eu seja confusão demais pra você aguentar.
Talvez 
as crises de ansiedade me rotulem 
como o caos parte do mundo.
Talvez
o amor não seja pra mim.
Poeta maldita que só sabe escrever em primeira pessoa.
Poeta insana que só sabe amar o mundo inteiro.
Poeta que cospe tudo
pois não cabe nada
em nenhuma fibra do ser
nojo
de mim
do amor que não cabe
e das palavras translúcidas em lágrima.
Sono latente cobre-me a face da onde as lágrimas escorreram e olhavam pra ti e choravam mais ao ver tuas lágrimas.
Contundência plena de versos tortos com palavras incertas de uma madrugada confusa.
Espero.
Durmo.
Fecho os olhinhos remelentos como se tivesse cinco anos de idade novamente. Tiraram o doce de minha boca. Enrolei-me aos edredons pra ver se o mundo sumia. Fechei os olhinhos de novo, e mal conseguia abri-los. Espero que a remela nunca mais me deixe ver o mundo. 
Porque o mundo não é mais mundo
desde que você
enunciou
não ver mais
a poesia
que existe em nós.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Bocas famintas de palavras inteiras.
Corpos escassos com abraços calados.
Danças escuras em baile cansado.

Dores passadas que não querem sumir.
Flores amargas que não querem viver.
Vidas compostas que não vão ajustar.

Noites inteiras pensando no mundo
cores mal-feitas pra tudo que há

muitas palavras
não cabem aqui
tantos poemas
não sabem falar

arte perfeita
não vai existir

só uma poeta
ao mundo olhar.