quinta-feira, 10 de julho de 2014

as constelações humanas retorcem nos vagões apertados de metrô
tosse.
gripe.
hepatite.
enxaqueca.
rinite.
sinusite.
bronquite.
astigmatismo.
miopia.
propensão a ceratocone

contorcem todos eles, amontoados respirando o ar alheio
suspiro
retorço
torcemos todos pra fugir dali, não é?

''Próxima estação, Sé. Desembarque pelo lado direito do trem''

Corre. Corre. Olha o relógio. Suspira. Evita o olhar alheio.
Segura a bolsa mais forte, assim que vê o pedinte de rua...
Logo ele vem e diz: ''ô moça, tem uma moedinha não?''

Finge que não escuta. Aperta o passo.

Escureceu.
Escureceu dentro dos olhos de todos nós. Cegueira escura, diária e transitória. Vai e vem, todo dia. Acorda. Toma café. Pega a bolsa. Entra no carro. Liga o rádio. Trânsito. Pane. Gritos por conta do cruzamento fechado.

Fecharemo-nos pra tudo que vier do outro?

Onde caberá n ó s?

Fecho a pálpebra das palavras que me fogem e dizem roucas.
Engasgadas.

Afastando-me das palavras conturbadas,
vejo que só me resta pedir
pedir encarecidamente que fiquem
que toquem
que vejam
que amem
agarrem!
o brilho imenso
do que somos juntos.

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