quinta-feira, 3 de abril de 2014

Quando brotam as gotículas de sangue amargo, da pele surrupiada pelo dia-a-dia, do rosto costurado feito o coração que desmanchou-se tantas vezes. Das pernas artificiais que se arrastam pelo concreto mundano, donde exala o suor fétido dos transeuntes, a fome dos que tem boca, o medo. O medo que brilha nos olhos do mundo. O medo de permitir que o outro adentre e dispa suas certezas e te encha de amor.
A insistência em proferir as mais sórdidas palavras quando tudo está doendo. Ausência. Essência.
Essencialmente dores.
Odores.
Amores perdidos no meio da onda de corpos que esbarram
e cruzam
e torcem
retorcem
vão e vem

''Vendem-se corações mastigados pelo mundo.'' leu a menina na placa da rua direita
Via a vitrine transparente com um monte de corações pendurados, pingando sangue, cheirando a podre. Pútrido feito o mundo.
O mundo dos que desistem
de amar.

Costurada na roldana da vida, pensou se comendo aqueles corações crus algo aconteceria. Pensou em como preencher aquele vácuo, aquela fome, aquele corpo que só era água salgada. Pensou. E nada viu, nada além dos olhares que não gostam de se esbarrar, as promessas que não são cumpridas, as catracas cada vez mais evidentes, as opressões pulsantes diariamente. A vida.
Não conseguia ver nada além da vida daqueles que na tentativa falha de tentar viver
morriam.

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