segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Numa tarde qualquer, numa casa nem tão qualquer assim.





Acabar?
Tô aqui pensando besteiras, reclamando pra lá e pra cá... E só então percebi o que é de fato o acabar, percebi esses dias, quando fui visitar uma amiga que está com câncer. 
Aí sim eu vi as coisas acabando, a pele fraca, a língua turgida e seca, nenhum movimento. Apenas os lábios que abriam e fechavam para proferir palavras. Que falavam comigo, bem devagarzinho. Lábios sinceros. Teve um momento que ela me disse: "Nem ler eu consigo mais. Não sinto minhas mãos. Não mexe nada.'' Então eu disse que guardaria um dia da semana pra ir lá ler para ela; seus lábios tentaram sorrir -um sorriso todo delicado de fragilidades- Perguntei-lhe: ''Que tipo de livro você gosta?'' Elas respondeu-me: ''Gosto de drama, aventura, romance... Suspense. É, suspense e terror eu não gosto muito não.'' ''Eu também não gosto muito de suspense.'' , disse à ela. Mas para ela era diferente, ela já viveu 40 anos de amores, de aventuras e dramas, já sentiu uns suspenses, terrores... Mas agora, sente cada pitadinha de suspense e terror em cada pitadinha de momento vivido, em cada suspiro. Percebe o suspense que é o fim. Todo fim é um começo. Todo começo é um fim. Tava aqui, em uma tarde qualquer, andarilhando com meus pensamentos fúlgidos... Pensando nos meus fins. Meus finscomeços começosfins. E lembrei do olhar dela, olhar cálido que junto aos seus poucos fios de cabelo me mostravam a força interna que ela possui, a coragem. Coragem de dizer pro mundo: Tá acabando.




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