segunda-feira, 5 de março de 2012

Máscara de um olhar .

Leia ouvindo: http://letras.terra.com.br/vivaldi/1601437/ Caso contrário, não leia. hm



Encobria sua face, e delineava parte do seu rosto de uma maneira tão bela, que é difícil descrever. A renda preta era discretamente perfeita para seu rosto, parecia que fazia parte de sua pele. Seu olhar dissimulado enebria tão fortemente, eram negros -os olhos- de um negro intenso e fugaz, o mundo afogava-se nela. Seu vestido reluzia no salão principal, e os olhares eram todos voltados para ela. Não se sabia o nome, não se sabia nada sobre aquela mulher. Seus seios eram tenuemente delicados, e por tanta delicadeza, chamavam a atenção. O vestido contornava sua cintura tão precisamente, que parecia ter sido costurado exatamente para ela. Sua boca era frágil e pálida, virgem talvez, virgem de amor. Mas o que realmente levavam os outros convidados à outra orbita eram seus olhos, negros como a asa da graúna,  profundos, arrastavam qualquer um para dentro dela, tragava os sentidos de qualquer pessoa. E eu em meio a tantos corpos, música, cores, pensava em como dizer para ela que sua alma refletia naquele momento. Não conseguia tirar os olhos dela, seguia cada passo seu pelo salão, foi quando começou a tocar Vivaldi, com os braços meio cansados, ajeitei a gravata e fui ao seu encontro, suavemente toquei-lhe o ombro , e nesse momento ela virou, senti o o calor de sua face encontrando a minha, e então ela parou e simplesmente fitou-me. Eu não sabia o que dizer, meus pensamentos perdiam-se em meio a tantas alusões que essa mulher me trazia. Então, eu não disse nada. Só peguei sua mão, e a convidei com os olhos, a dançar. Ela não hesitou. Passou seus braços finos e alvos sobre meu pescoço e começamos a dançar. Nossos passos iam conforme o nuance da música, por ora rápidos e em pequenos intervalos de tempo devagar. Sentia seu perfume de flores, que me confundiam a mente. Ela possuía algo enfeitiçador. Foi quando a música parou. Ficamos abraçados, e tudo girava ao meu redor, estava ficando tonto, tonto de amor. As imagens foram sumindo, ouvia sussurros e sentia seu hálito fresco cada vez mais forte próximo da minha boca. Foi quando tudo apagou. A música cessou, as cores sumiram, eu só sentia uma coisa: Sua pele na minha, roçando-me o rosto e dizendo algo que eu tentava entender, mas não conseguia. Meus batimentos desvaneceram, o relógio foi voltando a bater e a cortar meus pulsos, que sangrando pediam socorro. Pausa. Eu nunca mais a vi.   


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